Unesp: Cursinhos preparatórios colocam 30% dos alunos na faculdade

Projeto se estende para 13 das 33 unidades universitárias da Unesp e oferece a cada ano, 2 mil vagas

qua, 26/11/2003 - 11h06 | Do Portal do Governo

Há anos surgia, no campus de Araraquara, o primeiro cursinho pré-vestibular gratuito para alunos carentes da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O gesto de solidariedade nasceu quando um grupo de estudantes local decidiu repassar para jovens sem recursos os conhecimentos adquiridos na instituição pública de ensino. Hoje, o projeto se estende para 13 das 33 unidades universitárias da Unesp e oferece a cada ano, 2 mil vagas.

A motivação para o programa está nos números. A cada ano, segundo a Secretaria Estadual da Educação, cerca de 600 mil jovens concluem o ensino médio e as universidades públicas estaduais paulistas oferecem pouco mais de 17 mil vagas. A desproporção entre os números preocupa os dirigentes dessas universidades, que estudam formas de privilegiar a inclusão social, por meio da educação.

No mês de maio, o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp) criou um grupo de trabalho especificamente com esse fim. A Unesp propôs ao Cruesp ampliar o serviço que já vem prestando há dez anos.

Na instituição, os cursinhos têm o apoio da Pró-Reitoria de Extensão Universitária (Proex), que oferece bolsa-auxílio mensal no valor de R$ 200 para os professores de Araraquara, Assis, Marília e Presidente Prudente. “As bolsas são uma ajuda de custo para os docentes”, destaca Benedito Barraviera, Pró-Reitor de Extensão.

Os demais cursinhos são mantidos pelos diretórios acadêmicos, por meio do trabalho voluntário de alunos e docentes da Unesp, em muitos casos contando também com o apoio de funcionários de outras instituições de ensino. Em Ilha Solteira, Guaratinguetá e Rio Claro são cobradas mensalidades simbólicas.

Voluntariado

A pré-vestibulanda Maria Angélica Cândido, 25 anos, aluna do Serviço de Extensão Universitária da Unesp (SEUU), câmpus de Franca, aprova a iniciativa: “O cursinho me possibilita continuar sonhando”. Ela conta que terminou o segundo grau em 2000, mas parou de estudar por falta de condições financeiras. A secretária do SEUU, Juliana Alpino, de 22 anos, quartanista do curso noturno de História da Unesp, também de Franca, explica que o professor voluntário precisa estar engajado no projeto. “Além das aulas, é preciso dispor de tempo para as reuniões administrativas e pedagógicas”, diz.

Todos os anos, o número de candidatos é sempre maior do que o de vagas oferecidas, fato que levou os cursinhos a realizar processos de seleção. Os critérios são quase sempre uma prova de conhecimentos gerais e a condição socioeconômica do candidato. No início deste ano em Bauru, o cursinho local recebeu mil candidatos para disputar 50 vagas.

A manutenção dos cursinhos é resultado de um esforço coletivo da Unesp. Excetuando-se alguns universitários carentes que recebem bolsa Proex, a maioria não cobra para dar aulas. “Para os estudantes de licenciatura, o trabalho vale como estágio, garantido por lei estadual”, diz a coordenadora do cursinho de Assis, Andréa Lúcia Dorini de Oliveira Carvalho Rossi, docente do câmpus local.

Solidariedade

Em todos os cursinhos sobram lições de solidariedade. Os pré-vestibulandos da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA), campus de Botucatu, em sua maioria, são oriundos de bairros distantes ou até mesmo da zona rural. Para facilitar o acesso de todos, o curso, oferecido no período noturno, funciona no centro da cidade. Por enquanto, cada professor prepara seu material pedagógico. “Estamos planejando adotar um método para uniformizar os conteúdos”, argumenta Eduardo Gomes, aluno de pós-graduação da FCA e um dos coordenadores do cursinho. Segundo a vice-diretora do Instituto de Biociências (IB), Denise Maria Trombert de Oliveira, os resultados são gratificantes. “Às vezes o cursinho também ajuda na aprovação em concursos públicos”, diz.

Os jovens oriundos dos cursinhos da Unesp que conseguem vagas nos cursos oferecidos por instituições de ensino superior público e privado são cerca de 30%. Em Jaboticabal, por exemplo, o cursinho Ativo começou a funcionar em 2000. Desde então, segundo dados fornecidos pela organização, foram aprovados 29 candidatos na própria Unesp, e 34 em outras instituições de ensino superior. “O cursinho busca mudar a realidade social dos alunos, não apenas preparando para o vestibular, mas também para as dificuldades da vida. Estimula também a docência, espírito de liderança e senso de administração”, comenta Márcio Martins, aluno de Jaboticabal e um dos coordenadores do Ativo.

Genira Chagas – Da Assessoria de Imprensa da Unesp
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)