Unesp: Cresce o número de jovens pesquisadores no meio universitário

Com menos de 40 anos, esse é o perfil dos pesquisadores que contribuem para a expansão do conhecimento acadêmico

qua, 02/07/2003 - 12h14 | Do Portal do Governo

Do Portal da Unesp
Por André Louzas

No dinamismo do mundo contemporâneo, poucos casais têm um convívio tão intenso quanto o existente entre a química Silvania Lanfredi, de 36 anos, e o seu marido, o físico Marcos Augusto de Lima Nobre, de 38. Desde o fim de 2002, eles trabalham até 14 horas por dia juntos, para implantar o laboratório do Grupo de Cerâmicas Funcionais, na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), campus de Presidente Prudente. “Além de instalar e fazer os equipamentos funcionar adequadamente, temos de comprar materiais e cumprir várias tarefas acadêmicas, como orientar alunos de Iniciação Científica e redigir artigos”, diz Nobre, doutor pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com pós-doutorado na Escola Politécnica da USP.

Os dois, que se conhecem há 12 anos, integram o Programa de Apoio a Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) (veja quadro). A equipe está voltada para a produção e análise de propriedades dos niobatos, uma modalidade de cerâmicas avançadas, utilizadas em áreas como as telecomunicações. Doutora pela UFSCar, Silvania garante que a equipe já produz alguns materiais graças a equipamentos nacionais instalados. “Com os equipamentos importados, desenvolveremos um trabalho ainda melhor”, informa.

Silvania e Nobre são exemplos de uma safra de acadêmicos que, com menos de 40 anos, injetam um novo ânimo na produção de conhecimento na UNESP. Muitos deles, embora estejam escrevendo ainda os primeiros capítulos de sua vida profissional, já têm algumas conquistas respeitáveis.

É o caso da química Maria Anita Mendes, de 34 anos, que ficou entre os ganhadores do Prêmio Governador do Estado nas edições de 1998 e 1999, pelo desenvolvimento de uma técnica de análise de compostos orgânicos voláteis em matrizes aquosas, como, por exemplo, derivados de gasolina. Doutora pela Unicamp, Maria Anita trabalha, desde 2001, como bolsista de pós-doutoramento no Centro de Estudos de Insetos Sociais (Ceis), unidade auxiliar do campus de Rio Claro, num projeto de adaptação de técnicas de espectrometria de massas – processo que fragmenta as moléculas para depois analisá-las –, a fim de determinar a estrutura de peptídeos (fragmentos das proteínas) extraídos de veneno de vespas.

Ela também colabora com o professor Mário Sergio Palma, do Ceis, dando aulas, co-orientando alunos de graduação e pós e auxiliando no atendimento à comunidade. “Hoje, vários jovens pós-doutores, como a Maria Anita, exercem um papel fundamental em laboratórios de áreas como Genômica, Proteômica e Bioinformática da UNESP”, declara Palma.

Maria Anita elogia a orientação que recebe de Palma e destaca o clima estimulante que há no Ceis. “Somos incentivados a sempre levar nossa pesquisa à frente”, conta. Ela enfatiza, ainda, a união entre os jovens pesquisadores do Centro. “Além de colaborarem entre si nos trabalhos, vamos a barzinhos e até viajamos juntos.”
Professora do Departamento de História da Faculdade de História, Direito e Serviço Social (FHDSS), campus de Franca, Maria Aparecida de Souza Lopes, de 34 anos, ressalta que a juventude traz vantagens e desvantagens para o pesquisador. Ela assinala que, por causa da falta de experiência, os novatos têm mais dificuldade para tomar decisões importantes. “Em compensação, temos um grande entusiasmo para realizar novos projetos”, afirma.

Contratada em 2001, Maria Aparecida considera valiosa a bagagem cultural que adquiriu no exterior. Entre 1993 e 1997, ela realizou seu mestrado e doutorado no Colégio do México, abordando o direito de propriedade, criminalidade e os movimentos sociais na fronteira daquele país com os Estados Unidos. Os estudos se prolongaram em território norte-americano: de 1997 a 1999, na Universidade do Texas, e depois, até 2000, na Universidade da Califórnia, onde realizou seu doutorado, com apoio da Fapesp, e pós-doutorado, com bolsa norte-americana. “Essa experiência foi significativa também para comparar a realidade brasileira com a de outros países”, comenta.

Outro pesquisador que considera essencial o contato direto com outras culturas é o sociólogo Richard Miskolci, de 31 anos, bolsista recém-doutor do CNPq, associado ao Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências e Letras (FCL), campus de Araraquara. Miskolci obteve seu mestrado na própria FCL e, para concluir seu doutorado, realizado na USP, passou um período entre 1999 e 2000 na Universidade de Chicago (EUA), sob a orientação do crítico literário Sander Gilman. Lá, participou de grupos de estudo de temas como a relação entre ciência e cultura. “Foi uma experiência única”, resume.

Silvania, da FCT, de Presidente Prudente, concorda que uma experiência no exterior é sempre válida como aprimoramento, mas acrescenta que o Brasil, na área de materiais cerâmicos, tem hoje uma produção acadêmica respeitável. “Estive recentemente em Madri e em Bordeaux, na França, e constatei que, pelo menos em São Paulo, estamos em igualdade de condições com esses dois locais”, compara.
Uma opinião parecida é exposta pelo físico André Luis Malvezzi, de 37 anos, professor do Departamento de Física da Faculdade de Ciências (FC), campus de Bauru. Após concluir o doutorado na UFSCar, ele realizou seu pós-doutorado no Laboratório Nacional de Altos Campos Magnéticos, na Flórida (EUA), entre 1996 e 1998. “Realizo simulações computacionais das propriedades eletrônicas e magnéticas das manganitas, materiais com potencial de aplicação em eletrônica e informática”, conta.

Malvezzi foi beneficiado pelo Programa Jovens Pesquisadores entre 1998 e 2002, o que possibilitou adquirir equipamentos como uma workstation e um cluster – um sistema computacional de alto desempenho. Embora elogie as condições de trabalho na FC, ele confessa que a escolha do campus para instalação de seu projeto também teve fatores pessoais. “Nasci em Bauru e minha família ainda mora aqui”, justifica o físico, que integra o Centro Virtual de Pesquisa, Ciência e Computação para a Complexidade (C.C@Complex), ligado à Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa (Propp).

Muitos jovens pesquisadores apresentam uma produção que conquista espaço em periódicos especializados e livros. Nobre e Silvania, por exemplo, já publicaram 35 artigos em periódicos internacionais e 10 em nacionais, e são referees – especialistas que avaliam se um artigo deve ou não ser publicado – do Journal of Applied Physics e do Applyed Physics Letter, além da publicação Química Nova, da Sociedade Brasileira de Física. Malvezzi, por sua vez, publicou 16 artigos em periódicos do Exterior e dois na Brazilian Journal of Physics, além de ser referee das revistas Physical Review B e Physical Review Letters, ambas da Sociedade Americana de Física, da qual é membro.

O trabalho de doutorado de Miskolci será lançado em livro pela Annablume Editora. A obra, intitulada Thomas Mann, o artista mestiço, aborda os conflitos que atormentavam o escritor, marcado pela opção de abandonar a condição de membro da burguesia alemã para se dedicar à literatura e também pela origem brasileira da mãe, numa época de grande influência de teorias racistas e deterministas. “Mann assumiu os preconceitos vigentes, associando sua opção pela arte à origem mestiça e entendendo a arte como degeneração”, comenta.

Mais informações podem ser obtidas no sitewww.unesp.br

V.C.