Unesp: Campus de Araçatuba desenvolve trabalho sobre traumatismo dentário

Estudo analisa os primeiros cuidados que devem ser tomados em situação de emergência

ter, 04/11/2003 - 11h34 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da Unesp

Para casos de acidentes envolvendo traumatismos e possíveis perdas dentárias, docentes e alunos da Faculdade de Odontologia (FO) da UNESP, campus de Araçatuba, desenvolvem um trabalho de orientação sobre os primeiros cuidados a serem tomados em situação de emergência.

‘Avaliamos o conhecimento das pessoas sobre reimplante dentário, orientando-as da forma como proceder em caso de acidentes que causem a remoção completa – coroa e raiz – de um dente, fenômeno conhecido como avulsão dentária’, explica o cirurgião-dentista Wilson Roberto Poi, docente do Departamento de Cirurgia e Clínica Integrada. ‘Afinal, o primeiro atendimento normalmente foge ao controle do dentista’, completa.

Os traumatismos dentários podem ser de vários tipos. Há os que provocam fratura apenas da coroa, ou seja, da parte visível do dente. ‘Esse tipo de ocorrência tem soluções mais fáceis, necessitando apenas de uma restauração com resina composta (material restaurador estético), da colagem do fragmento dentário fraturado ou, em casos de maior destruição, restaurações com uma prótese’, explica o docente.

Podem ocorrer, também, lesões dos tecidos de sustentação do dente, provocando alterações que variam de um dano leve (concussão) até o deslocamento do dente para o interior do seu alvéolo (intrusão), além de fraturas do rebordo alveolar (tecido ósseo que sustenta os dentes em posição).

Em casos de avulsões, deve-se recorrer ao reimplante dentário (reposicionamento do dente ao local de origem). O reimplante pode ser realizado de maneira rápida ou tardia. Para o reimplante imediato, é necessário lavar o dente com soro fisiológico e reposicioná-lo rapidamente. ‘Qualquer pessoa pode realizar o procedimento, mas, normalmente, aqueles que não têm conhecimento sobre o assunto costumam cometer erros, como colocar o dente em posição incorreta’, afirma Poi.

Se o paciente ou o acompanhante não se sentirem aptos a realizar o reimplante, recomenda-se procurar atendimento odontológico com urgência. ‘A maioria dos especialistas concorda que o reimplante é considerado imediato até 30 minutos após o trauma. Há, no entanto, a possibilidade de se prolongar este tempo se o dente for conservado de maneira correta’, diz o docente.

Decorridos 30 minutos, o reimplante é considerado tardio. Isso confere ao tratamento um aspecto desfavorável, ou seja, com maior probabilidade de insucesso. Mesmo nessas condições, o reimplante deve ser realizado e o paciente precisa procurar um cirurgião-dentista, que fará o tratamento do canal do dente, a limpeza da raiz e o reimplante do mesmo. ‘Esse tratamento precisa de um acompanhamento por um longo período para que o sucesso seja comprovado’, conta Poi.

Segundo Poi, para que o reimplante tenha sucesso, o ideal é que o dente seja conservado em meio líquido. ‘O leite é a substância mais adequada, pois além de manter o tecido umedecido, tem nutrientes que ajudam a preservar a vitalidade do ligamento periodontal’, enumera. Depois do leite, os melhores líquidos são o soro fisiológico, a saliva e, por último, a água.

Pesquisas sobre o tema foram realizadas no Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (Cefam), com estudantes do curso de Educação Física das Faculdades Integradas Toledo Araçatuba, no corpo de bombeiros e com dentistas, por meio de aplicação de questionários específicos, seguidos de palestras e publicações da área odontológica. ‘Concluímos que até mesmo alguns profissionais de odontologia não têm informação sobre esses primeiros cuidados após um traumatismo e, em conseqüência, não a transmitem aos seus pacientes’, diz Poi.

O primeiro trabalho realizado no Cefam, em 1998, foi desenvolvido em três etapas. A primeira delas era uma pré-avaliação, na qual os participantes responderam um questionário para testar seus conhecimentos sobre traumatismos dentários e para contar sobre suas experiências com traumas bucais.

Na segunda etapa, foi proferida uma palestra educativa sobre o tema, com nova aplicação do questionário. A terceira consistiu em avaliar, seis meses depois das palestras iniciais, o conhecimento residual daqueles que foram orientados pela equipe. No caso dos alunos do Cefam, a primeira etapa mostrou que apenas 16% das providências apontadas pelos participantes favoreciam o sucesso do reimplante, enquanto nas fases seguintes, 98% e 85%, respectivamente, foram consideradas condutas corretas.

‘O Cefam forma professores de pré-escola e primeiro grau que, além de multiplicadores de informação, futuramente trabalharão com a faixa etária de maior incidência de dentes avulsionados, a de crianças de 7 a 10 anos, que perdem principalmente os incisivos superiores, em razão da menor quantidade de fibras do ligamento periodontal, que une o dente ao osso’.

Na pesquisa realizada no Corpo de Bombeiros, instituição responsável pelo primeiro atendimento em caso de acidente, constatamos que 45,8% desses profissionais não têm idéia da providência a ser tomada em caso de dente avulsionado ou, se tomassem alguma atitude, conduziriam o procedimento de forma inadequada. Entre os alunos do curso de Educação Física, apenas 5% responderam corretamente o que é uma avulsão dentária e 50% deles não sabiam como proceder nesses casos.

Os acidentes mais comuns que podem resultar em perda de dente são os automobilísticos, os esportivos e, em número menor, as agressões. ‘No caso específico de Araçatuba, os acidentes com bicicletas também são freqüentes, já que a região é plana e o uso desse veículo é um costume entre a população’. O docente ainda orienta sobre alguns cuidados que podem ser tomados para prevenir os acidentes mais freqüentes. ‘A utilização de cinto de segurança e capacete e a redução da velocidade ajudam na prevenção de traumas no trânsito, enquanto na prática esportiva, como nas lutas marciais, o uso de protetores bucais plásticos que absorvem o impacto de golpes e quedas devem ser difundido’.

O próximo passo do projeto é ministrar palestras na Jornada Acadêmica de Educação Física, que acontecerá em setembro, nas Faculdades Integradas Toledo Araçatuba. ‘Nossa pesquisa mostrou que 97% desses futuros professores de Educação Física têm interesse em saber o que fazer no caso de uma avulsão’, conclui Poi.

Mais informações podem ser obtidas no site www.unesp.br
V.C.