Colher a fruta do pé, acompanhar o processo de fabricação de vinho, geléias e doces caseiros. Passar um fim de semana agradável conhecendo num mesmo dia várias cidades que ofereçam tranqüilidade, ar puro com diferenciadas opções de lazer como parques temáticos, cavalgada noturna que se encerra com uma fogueira e roda de viola, feiras de artesanato, uma ampla gastronomia, além de uma grande oferta de hotéis fazenda. Tudo isto é possível a menos de 100 quilômetros da Capital. Recentemente criado pelo Governo do Estado, o Circuito das Frutas, pólo turístico que reúne oito municípios localizados em torno da Serra do Japi: Indaiatuba, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Jundiaí, Louveira, Valinhos e Vinhedo está segmentando suas tradicionais festas da uva, do morango, do caqui com o intuito de oferecer aos visitantes, festas no ano todo, evitando que as atividades ocorram no mesmo mês em que um outro município esteja realizando seu evento.
A festa do morango acontecia no mesmo período em que era realizada a da uva, em outro município. Ao invés de concentrar o número de visitantes, o fluxo era dividido e isto não agradava os organizadores, pois sempre alguém saia perdendo. Com a assinatura do termo de cooperação técnica, firmada no final do ano passado com os municípios e as secretarias da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo e da Agricultura e Abastecimento, os responsáveis pelo setor passaram a entender que eles não eram concorrentes entre si. “O concorrente maior está em cidades como Canela e Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul”, revela a coordenadora de Turismo da Secretaria da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Sônia Bellardinucci.
Constatada esta questão, o primeiro passo da Secretaria foi reprogramar o calendário dos eventos. “Antes, todos os municípios faziam a festa da uva no primeiro trimestre do ano. Já em 2003, Louveira fez a sua em maio”, conta Sônia que dirige as oficinas aos municípios que integram o Circuito das Frutas com a participação da comunidade, órgãos públicos e privados. Nestes encontros são levantados os pontos fortes e fracos de cada município. “A oficina mostra como eles devem assumir sua responsabilidade”, afirma a coordenadora. O apoio da secretaria de Turismo vem ajudando as cidades a trabalharem a sazonalidade da produção de frutas e otimizar a demanda dos visitantes.
Consórcio será criado neste mês
Outro ponto que a secretaria visa destacar é a venda de roteiros que permitam ao visitante conhecer em um único dia vários municípios da região. “Quando ele vem à festa de Vinhedo, pode vivenciar como é um dia de colheita do agricultor, comprar morango em Jarinu, curtir parques temáticos de diversão e aquático, além de poder saborear os diversos tipos de culinária”, explica a técnica da Coordenaria de Turismo do Estado Maria da Glória Granzier, observando que a rede hoteleira está em pleno crescimento na região.
Para que o Circuito das Frutas se consolide ainda mais, neste mês será assinado um consórcio, cuja finalidade é criar uma pessoa jurídica que possa receber verbas da iniciativa privada que queira patrocinar as festas da região. Para atrair os visitantes, será construído um portal no sistema Anhangüera-Bandeirantes, simbolizado com frutas. No local também será instalado um site com informações para os turistas sobre as festas típicas, dicas de lazer, gastronomia e hospedagem dos oito municípios. Também está previsto o lançamento de um folder sobre os oito municípios que será distribuído em feiras nacionais e internacionais.
Festas reúnem cerca de 1,5 milhão de visitantes anualmente
As cidades do Circuito das Frutas estão num solo que produzem o mesmo tipo de frutas, localizadas numa área de 1.600 quilômetros quadrados, da qual 850 km² são destinados à fruticultura, sobretudo o cultivo de frutas típicas de clima temperado como morango, uva, figo, pêssego, goiaba e caqui. Segundo a Associação de Turismo Rural do Circuito das Frutas, o plantio é realizado por cerca de oito mil pequenos agricultores e a produção é comercializada na região, no Ceagesp e até no Rio de Janeiro. O excedente da safra é destinado à fabricação de compotas e doces.
Anualmente, a região colhe em torno de 171 mil toneladas das seguintes frutas: figo, uva, caqui, goiaba, pêssego, laranja, morango, ponkan, nectarina, acerola, abacate, entre outras. O valor total da receita bruta da produção dos oito municípios no ano passado foi de R$ 246 milhões, o que gerou 11.864 empregos diretos.
A comercialização e degustação dessas frutas e seus derivados têm aquecido o agronegócio e o turismo da região com eventos, como as tradicionais Festas da Uva, que reúnem mais de 1,5 milhão de pessoas a cada ano.
A proximidade do maior centro consumidor do país e a posição estratégica do corredor econômico, interligando o Interior do Estado, privilegia a região que possui uma excelente malha viária e está próxima do maior terminal de carga aérea do país.
Fruticultura Paulista fechou o ano de 2002 em R$ 2,53 bilhões
Além da importância turística, a fruticultura representa 12,09% da produção agrícola em todo Estado, que no ano passado fechou em R$ 2,53 bilhões, segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA).
A criação do Circuito das Frutas mais as oficinas realizadas pela secretaria vem colhendo “bons frutos” entre os profissionais da área do Interior. O secretário de Cultura, Comércio, Indústria e Turismo de Vinhedo, Gilberto Lorenzon, observou que a união dos municípios é que vai garantir a sustentabilidade do turismo na região. “Com o apoio da secretaria percebemos que para um turista passar um final de semana em apenas uma cidade não tinha força potencialmente, mas como um todo podemos divulgar melhor a nossa região”, disse.
Ministério do Turismo vai lançar Programa Nacional de Regionalização do setor
O Ministério do Turismo está para lançar o Programa Nacional de Regionalização do Turismo, cuja finalidade é fortalecer os pólos estaduais já existentes integrando com as universidades voltadas para este curso, agentes financeiros, além dos consórcios municipais. “O Ministério vai financiar projetos de turismo para os estados que já tiverem criados seus pólos”, detalha Sônia. No caso do Estado de São Paulo existem 21 pólos constituídos que envolve 156 cidades, incluindo a Grande São Paulo, como os Circuitos das Águas, das Frutas, dos Lagos, Cidades Religiosas, Eco Aventura, Café com Leite, Cuesta Botucatu, Pólo da Mogiana entre outros. A intenção é também de alavancar o desenvolvimento dos municípios que estão em defasagem de nível de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).Outra meta do Ministério é promover o turismo no Brasil por meio de roteiros integrados que envolvam vários estados. “O turista estrangeiro que queira conhecer Foz do Iguaçu, no Paraná, necessariamente passa por São Paulo e nós queremos que ele fique um dia aqui”, explicou Sônia.
Valéria Cintra
