Trechos da entrevista do governador Geraldo Alckmin a rádio CBN

Parte I

qui, 27/12/2001 - 16h31 | Do Portal do Governo

Programa CBN São Paulo – apresentado pelo jornalista Milton Yung

Rodoanel

Milton: Governador, vamos começar pelos assuntos do dia e os problemas mais recentes. E o que tem tido destaque foi exatamente a inauguração de um dos trechos do Rodoanel, uma das obras mais importantes do Governo, e parece que houve um desacordo com a prefeitura, e isto acabou gerando problemas. Por quê o trecho foi inaugurado sem estar com tudo pronto ?

Alckmin: A obra foi inaugurada porque ela está pronta. O Rodoanel, a chamada Asa Oeste, liga cinco das dez auto-estradas que chegam até São Paulo: Anhangüera, Bandeirantes, Castelo Branco, Raposo Tavares e Régis Bittencourt. Uma obra desta complexidade, como todas as grandes obras, é entregue gradualmente, à medida que vai ficando pronta você vai entregando para a população já ir utilizando os benefícios dela. Ficou pronto o primeiro trecho de 7,2 km. Ele começa na Estrada Velha de Campinas, na avenida Raimundo Pereira de Magalhães, passa pela Bandeirantes e pela Anhangüera. A obra está concluída. O problema foi com uma rotatória que já está pronta há bastante tempo. O que houve foi que a prefeitura não deixou utilizar aquela rotatória que ficou fechada. A Raimundo Pereira de Magalhães é uma avenida de mão dupla, não é duplicada, é uma pista única e mão dupla, desde a Lapa. Ela passa do outro lado do rio Tietê e segue em direção a Perus. Nesse trecho, o Rodoanel duplicou a Raimundo Pereira de Magalhães e fez um trevo, uma ilha no meio, aliás uma ilha enorme, para exatamente possibilitar às pessoas acesso ao anel metropolitano. A prefeitura não deixou abrir, mas isso já foi resolvido. Hoje a prefeitura finalmente abriu a rotatória, que já está pronta há uma semana, e o problema já está resolvido.

Milton: Não era para se inaugurar depois da abertura da rotatória, até para se evitar este problema?

Alckmin: A rotatória já estava pronta. Se se decidisse não abrir a rotatória, ía ficar um, dois anos fechada a obra. A obra foi concluída e com a rotatória. Agora, não nos cabe ir lá. Aliás, nós abrimos. A prefeitura fechou a rotatória e as pessoas não podiam passar. Finalmente ela foi lá ontem à noite e abriu.

Milton: E colocou a sinalização que era de responsabilidade da Prefeitura ou do Governo do Estado?

Alckmin: A sinalização, o Governo do Estado já tinha pedido autorização para colocar. Aliás, nós vamos fazer mais. Vamos fazer até obras que vão ajudar o município. Nós vamos duplicar a avenida municipal Raimundo Pereira Magalhães até Perus. Ela será também duplicada. O que é importante é o seguinte: já está beneficiando enormemente toda aquela população de Perus, Caieiras, Francisco Morato, toda aquela região. Nós pretendemos entregar em fevereiro mais um trecho ligando a Régis Bittencourt à Raposo Tavares, e depois finalmente toda a ligação do Anel Metropolitano, passando pela Castello Branco. O principal problema da cidade, ou um dos principais problemas, é o excesso de veículos. São Paulo é uma das cidades mais motorizadas do mundo, mais do que Nova Iorque e Tóquio. Nós temos, para cada duas pessoas, um veículo, mais de cinco milhões de veículos. E um caminhão que sai de Pernambuco para ir a Porto Alegre tem de passar dentro da cidade, nas marginais Tietê, Pinheiros, rua Alvarenga, Butantã, Francisco Morato até pegar a Régis Bittencourt. Então, o Rodoanel vai ajudar muito, porque ele vai tirar o tráfego pesado da cidade e monóxido de carbono, que é a principal causa de poluição na cidade, melhora a segurança, porque diminui o congestionamento. Não é obra de um governo só. O nosso governo vai fazer a Asa Oeste do Rodoanel. Por que primeiro se começou pela Asa Oeste? Porque o Rodoanel Metropolitano todo tem 170 km. A Asa Oeste tem 32, então tem 20% do Anel Metropolitano. Mas esses 20% interligam cinco das dez auto-estradas que chegam em São Paulo. Então, é o melhor custo-benefício. Você interliga Bandeirantes, Anhangüera, Castelo Branco, Raposo Tavares e Régis Bittencourt, e o próximo trecho será a interligação no sistema Anchieta-Imigrantes para chegar ao Porto de Santos e até ao ABC, que é a chamada Asa Sul do Rodoanel.

Milton: Qual é o estudo que o governo tem sobre o impacto desta obra no trânsito, principalmente nas marginais, na redução de caminhões? Eu lhe pergunto isto, porque me surpreendi em algumas das discussões aqui na CBN quando o foco era exatamente o trânsito, e se descobriu que a redução não seria tão grande quanto se imaginava. Eu estou em São Paulo desde 1991 e antes de chegar aqui se ouvia da necessidade de um Anel Viário maior porque a marginal já estava ultrapassada e que o Anel Viário iria eliminar boa parte dos problemas do trânsito em São Paulo. De repente, se descobre que o impacto não seria tão grande assim. Qual o estudo que o governo tem?

Alckmin: O impacto é importante. É evidente que ele é gradual. Por quê? Porque a hora que você chegar com o Anel na Anchieta-Imigrantes, você chega ao Porto de Santos. Então, você já tem uma eficiência melhor. Na hora que você chegar à região Norte, você chega à Fernão Dias, Dutra e Ayrton Senna. Então, ele vai gradativamente tirando o trânsito da cidade. Mas mais do que isto, ele vai criar uma outra logística, transportadora de cargas. Empresas que estão dentro da cidade, como a Ceagesp, atraem uma grande quantidade de caminhões todo dia. Todos esses serviços devem passar às margens do Rodoanel. Então, além de tirar o tráfego de passagem pela cidade, você tira do centro da cidade, ou de regiões mais centrais, uma série de atividades que conturbam, que criam problemas para o trânsito e leva para o Rodoanel. O Rodoanel será um indutor de desenvolvimento muito grande. Ele vai ajudar a desenfartar a cidade. O caminho para você melhorar o trânsito passa primeiro pelo Rodoanel, para você não só tirar o tráfego pesado, mas também tirar essas empresas que trazem caminhões para o centro da cidade, como as madeireiras, transportadores, Ceagesp. Segundo, investir em metrô e trem. As duas coisas não são incompatíveis e devem ser feitas. Você deve ter um anel a 20, 40 km da cidade, evitando que este tráfego pesado entre na cidade. Aliás, as cidades pequenas do Interior têm um anel para evitar que o caminhão passe pelo meio da cidade. E, de outro lado, investir no transporte de alta capacidade, que é o transporte sobre trilho, que são o metrô e o trem metropolitano. E até sobre pneu, que é corredor de ônibus.

Se o Rodoanel tem caráter eleitoreiro

Repórter Tânia Morales, falando do trecho do Rodoanel: Eu vou insistir nesta falta de entendimento entre o Governo do Estado e a prefeitura. O senhor disse há pouco que o acesso da rotatória não foi aberto porque faltou autorização da prefeitura. A prefeitura disse que não foi aberto porque o Governo do Estado não fez a sinalização. Por isso, ela não permitiu a abertura da rotatória, o que causou o acidente grave. Ontem, eu conversei com o chefe de gabinete da secretaria de Governo, Ubiratan de Paula Santos, e ele disse que a inauguração deste primeiro trecho do Rodoanel teve caráter eleitoreiro, uma vez que foi feito antes do Natal e poderia ter sido adiado para que medidas de segurança, como a colocação de sinalização, fossem tomadas. Teve um caráter eleitoreiro, governador, e há uma falta de entendimento entre o governo e a prefeitura?

Alckmin: Obra do governo pronta é entregue. Seria um absurdo a obra ficar fechada. Por que, se a população pagou a obra, pode utilizar. Então, se a obra ficou pronta, com licença de operação, por que não é entregue? Deixaria uma obra fechada. O que justifica uma obra pronta ficar fechada? Só no domingo, sete mil veículos utilizaram este trecho do Rodoanel. Isto está aumentando no dia-a-dia. Pessoas de Caieiras e regiões próximas estão ganhando entre 20 e 40 minutos em qualidade de vida, poupando tempo. Então, se a obra ficou pronta, ela é entregue. Ela foi entregue exclusivamente por essa razão. Se ela tivesse ficado pronta um mês antes, seria entregue um mês antes. Como a ligação da Régis com a Raposo, que vai ficar pronto em fevereiro, vai ser entregue em fevereiro. Só não vai ser entregue em fevereiro se atrasar. Ficou pronta é entregue. Com relação à sinalização, o Estado pediu autorização para a prefeitura: Olha, o trevo está pronto, a rotatória está prontinha, só quero autorização para fazer a sinalização e liberar. Infelizmente, não foi dada, tanto é verdade isto que o problema está resolvido. Na hora que a prefeitura quis, resolveu.

Milton: O senhor citou vários pontos que estavam prontos lá. Só o diálogo entre a prefeitura e o governo é que não está pronto. Por quê é que não se fala o português nesta conversa?

Alckmin: Olha, eu me esforço. Vou dar um exemplo. Sexta-feira o presidente da Dersa não conseguia falar com ninguém da prefeitura. Pediu para o irmão dele, que é o Bresser Pereira – ex-ministro- , tentar contato com o secretário João Sayad, para ver se conseguia um contato com a prefeitura. O que depende do Estado nós queremos solução.

Milton: Mas não conseguia contato por quê? Não tinha ninguém na prefeitura?

Alckmin: Porque a prefeitura não retornava. Tanto é que a hora que quis resolver, resolveu em uma noite. De ontem para hoje está resolvido. Por nós já estava resolvido há uma semana.

Se terá pedágio no Rodoanel

Milton: O ouvinte Onéas Esteves pergunta se vai ser cobrado pedágio no Rodoanel?

Alckmin: Não vai ser cobrado nenhum pedágio. Nem neste trecho ligando a Raimundo Pereira de Magalhães – Estrada Velha de Campinas – com a Bandeirantes, nem com a Anhangüera, nem quando ligar com a Raposo, nem com a Régis. E nós queremos incentivar a utilização do Rodoanel para aliviar a cidade.

Milton: O ouvinte Marcelo Branquini quer saber se não seria melhor priorizar a Via Dutra ao invés da Zona Oeste?

Alckmin: O trecho?

Milton: É.

Alckmin: O que expliquei é o seguinte. Essa decisão foi tomada lá trás, em 1997, e qual foi a razão para começar pelo trecho Oeste, não pelo Norte, pelo Sul, pelo Leste? Primeiro: o trecho Norte tem a Serra da Cantareira e você teria de fazer todo ele sob o túnel, por baixo da Serra da Cantareira. Segundo, de 170 km do Rodoanel Metropolitano, com 20% dele, ou seja, com 32 km, interligamos 5 das 10 auto-estradas que chegam a São Paulo. Foram interligadas a Régis Bittencourt, a Raposo, a Castello, a Anhangüera, a Bandeirantes e até a Estrada Velha de Campinas. O próximo projeto executivo que está sendo feito é a Asa Sul para ligar com o Porto de Santos, na Anchieta-Imigrantes.

Milton: O ouvinte Mauro Augusto quer que explique sobre o superfaturamento do Rodoanel.

Alckmin: Não há nenhum superfaturamento no Rodoanel. O Rodoanel é a obra mais barata da chamada classe A do país. O Rodoanel foi licitado em 1998, com um projeto básico. Infelizmente não tinha um projeto executivo, como na Asa Sul, que nós não deixamos licitar sem o projeto executivo. E ele foi orçado naquela época pela Dersa, no chamado i zero, em R$ 600 milhões, da Asa Oeste. Entregue no ano que vem, quando cortar a fita, tiver inaugurado os 32 km, com 60 viadutos, trevos, dois piscinões, canalização, pistas duplas, quatro faixas, acostamento, área de refúgio, todas as obras, é uma obra de classe A, no valor do i zero, ele custará R$ 575 milhões, R$ 25 milhões a menos do que o orçado pela Dersa. O custo do Rodoanel é de R$ 11,5 milhões por km. A Bandeirantes custou R$ 12,4 milhões, a Ayrton Senna, R$ 17,5 milhões o km, a Carvalho Pinto, R$ 24 milhões o km e a Água Espraiada custou R$ 53,9 milhões o km.