Trechos da entrevista do governador Alckmin à imprensa, após formatura de funcionários do Palácio do

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ter, 27/11/2001 - 19h42 | Do Portal do Governo

Pergunta: O senhor defendeu ontem num evento a redução da taxa de juros e a reforma tributária. Qual deve ser a taxa de juros ideal e por que não sai essa redução de taxas, governador?

Alckmin: Defendo a redução da taxa de juros, porque acho que uma das questões essenciais hoje é o crescimento econômico. É por meio do crescimento econômico que se gera mais emprego, mais renda, arrecadação, melhor serviço público e amplia a infra-estrutura do País. Além disto, num País jovem e de base demográfica larga como é o Brasil, é preciso gerar muito emprego. Precisamos ter uma taxa de crescimento mais alta e a taxa de juros é essencial para isso. Acho que o Brasil já tem pressupostos macroeconômicos mais sólidos hoje. Está aumentando a exportação, melhorando a balança de pagamentos, tem superávit fiscal e se descolando da Argentina. Então, a prudência, que até agora foi importante, pode ser substituída por um pouco de ousadia. Acho que há espaço para isso. Essa foi a mensagem que levei e que, acho, coincide com o pensamento de todo mundo que hoje quer emprego e renda. O Papa João XXIII dizia: “O desenvolvimento é o novo nome da paz”. Paz verdadeira, fruto de oportunidade para todos.

Pergunta: Qual é a sua posição, governador, em relação à proposta de modificação da CLT?

Alckmin: Eu sou favorável. Uma das nossas preocupações é a questão do emprego. Essa é a grande questão. E nenhum dos princípios constitucionais vai ser modificado. Todas as conquistas constitucionais estão preservadas. E mais: os trabalhadores vão ter mais poder, porque eles é que, em situações excepcionais, vão possibilitar os acordos. Ou seja, é uma medida que está dando força ao trabalhador, ele é quem vai decidir e não a tutela do Estado permanente. Eu acho que é uma avanço positivo.

Pergunta: Governador, o secretário de Segurança Pública está saindo. O senhor já tem um nome para substitui-lo?

Alckmin: Eu não sabia disso. Ele está saindo? Eu não tenho nenhuma previsão de substituição do secretário de Segurança Pública. Esta não é uma pasta fácil. É uma pasta dura, difícil, porque um dos desafios hoje do mundo moderno chama-se segurança. A Polícia está trabalhando. É um esforço permanente. Trabalha tanto que já estamos chegando a 100 mil presos, fato recorde na história do Estado de São Paulo. Eu imaginava que iríamos terminar o ano com 98 mil ou 99 mil. De repente, antes de chegar dezembro, já estamos com 99.800 presos, ou seja, em questão de dias teremos 100 mil detentos. A Polícia está trabalhando e trabalhando firme. Estamos aumentando o efetivo. Aliás, amanhã, vamos autorizar — naquele compromisso que tivemos com as polícias militar, civil e científica – a ampliação do Hospital Militar, num investimento de mais de R$ 15 milhões. Nós estamos quase dobrando a capacidade do hospital. Também vamos autorizar amanhã a abertura do concurso público para quatro mil vagas de guarda de muralha, que é o agente especial penitenciário. Com isso, vamos liberar quatro mil PMs para fazer o policiamento preventivo e ostensivo. Então está havendo um trabalho importante. E o Carandiru. Finalmente a partir da próxima semana deixa de entrar presos na Casa de Detenção, porque das 11 penitenciárias duas já estão ficando prontas. Então, já vão começar a receber os presos da Casa de Detenção. Essas 11 novas penitenciárias vão abrir 8.400 vagas. Na Casa de Detenção tem 7.400 presos. Sobram 1.000 vagas para novos presos. Até 31 de março, se não houver contratempos, nenhum preso estará mais na Casa de Detenção. Eles estarão nas novas penitenciárias, que são menores, têm capacidade para 768 presos, a segurança é muito melhor que num complexo com 10 mil presos. Além disso, todas as penitenciárias terão oficinas, todos os presos vão trabalhar, tendo a cada três dias de trabalho um dia de redução da pena. Ontem, assinamos com o ministro da Justiça um convênio de R$ 44 milhões, sendo R$ 8 milhões do Governo de São Paulo e R$ 36 milhões do Governo Federal para fazer mais seis centros de detenção provisória. Exatamente para tirar presos de cadeias e distritos superlotados. Destes seis, teremos um CDP em São José do Rio Preto e cinco na Região Metropolitana de São Paulo.

Pergunta: Governador, não seria também viável já a desativação da Penitenciária do Estado?

Alckmin: Este é o objetivo, desativar todo o complexo do Carandiru. Está no centro da cidade, região densamente habitada. Mas o mais grave era a Casa de Detenção. Primeiro, porque o prédio está em péssimas condições. Foi inclusive interditado pela Vigilância Sanitária. Hoje não tem nem cozinha mais lá, os presos comem quentinhas que compramos.
E, mais, no caso da Casa de Detenção temos no lado uma área de 5,5 hectares de mata atlântica. A idéia é ter um parque para a zona norte. Esses 5,5 hectares serão incorporados. Com isso, vamos ter 230 mil metros quadrados de área de uso comum para a população. E a Penitenciária do Estado não pode ser derrubada. Ela está em um prédio histórico, tombado, que precisa ser preservado. Então, essa penitenciária vai ficar para um segundo momento. Mas é objetivo sim fazer com que todo aquele grande complexo seja ligado à cultura, ao esporte, ao lazer, ao entretenimento e área verde, que temos tão pouco em São Paulo.

Projeto Vera Cruz

Pergunta: Governador, hoje pela manhã o senhor teve um café com empresários para discutir o Projeto de reativação da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Queria que o senhor falasse da importância desse projeto?

Alckmin: Foi um bom encontro. Fizemos um convênio com a Prefeitura de São Bernardo do Campo, onde foi a sede da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. A Prefeitura de lá entrou com o terreno, o prédio e todas as instalações da antiga Vera Cruz. O Governo já investiu R$ 5 milhões e vamos ter lá um grande centro cultural. Além disso, um grande estúdio cinematográfico para fazer 30 filmes por ano. Filmes brasileiros, nossos. Nós podemos gerar 4 mil empregos neste projeto, que custará R$ 22 milhões. Eu convidei para um café da manhã todas as grandes empresas do ABC e praticamente os representantes de todas vieram. Nós pedimos um cota de R$ 1,5 milhão para cada uma. Tudo isso dentro da Lei Rouanet, porque o projeto da Vera Cruz está dentro dessa lei. Esses empresários estão lá na região do Grande ABC, podem ter dedução de 100% no imposto de renda. O projeto ainda terá a participação da TV Cultura com patrocínio. Eles ficaram animados. Acho que podemos caminhar e concluir um bom projeto na área cultural, um projeto para o cinema brasileiro – que vai viabilizar um estúdio modelo em termos tecnológicos e de espaço, com a possibilidade de criação de 30 filmes anuais, gerando muito emprego, como gera a indústria cinematográfica, contando com parceria das empresas da região.