Trechos da entrevista coletiva do governador Geraldo Alckmin neste domingo, dia 3, após a inauguraçã

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dom, 03/02/2002 - 15h41 | Do Portal do Governo


Segurança Pública

Repórter: A ação conjunta, ou pelo menos, partilhada no episódio Washington Olivetto incentiva àqueles que defendem a unificação das Polícias Civil e Militar?

Alckmin: Esse foi um bom exemplo de ação integrada entre a Polícia Civil e a Polícia Militar. Com bons resultados. Acho que é esse o caminho: começarmos pela integração da atividade policial. E eu acho que a guerra contra o crime vai ser uma guerra longa, mas vamos vencer batalhas todo dia. Essa foi uma batalha vencida. Só nestes últimos quatro dias, cinco quadrilhas foram presas, vários cativeiros foram estourados. Então esse é o trabalho permanente, cotidiano, de polícia na rua, ostensiva e de inteligência na atividade policial. A polícia está de parabéns.

Repórter:São Paulo vai trabalhar no sentido de unificar os comandos das Polícias Civil e Militar?

Alckmin: Isso já está acontecendo. A unificação das Polícias depende do Congresso Nacional. É preciso modificar a Constituição Brasileira. Mas, até para se chegar lá, o caminho é integrar as ações policiais. São Paulo já integrou o Distrito da Polícia Civil com a Companhia da Polícia Militar. E então está havendo uma compatibilidade territorial nas ações das Polícias e também uma ação do Infocrim, possibilitando um trabalho de georeferenciamento permitindo uma ação integrada. A Polícia Militar no trabalho ostensivo, preventivo, e a Polícia Civil no trabalho investigativo, judicial.

Repórter:Estrangeiros seqüestraram Ablílio Diniz e também Washignton Olivetto. Que paralelo o senhor faz nesses dois casos?

Alckmin: Eu acho que isso precisa ser investigado. Não dá para a gente dizer, neste momento, que há uma relação. Isso a Polícia vai investigar. Não dá pra dizer que há relação. O fato é que os seis seqüestradores, os seis presos, são estrangeiros, os quatro homens e as duas mulheres. É preciso verificar quais as relações que eles têm, se é uma organização criminosa de fora do País. Enfim, tudo isso vai ser investigado.

Repórter:O senhor acha que é possível falar que eles são mais ousados porque mantiveram um cativeiro perto da Polícia? Não foi distante, numa favela…

Alckmin: Não. O que existe é que os bandidos estão perdendo. Nós estamos hoje com mais de 280 seqüestradores presos e 18 mortos no embate com a Polícia, e esse trabalho vai continuar. Nós vamos desbaratar todas essas quadrilhas e prender todos eles.
Aliás eu queria até destacar isto, chamar a atenção da opinião pública, da população, para que observe seus vizinhos, seu bairro. Notou alguma coisa estranha? Ligue para o Disque-Denúncia. Se não for nada grave, não tem importância. Mas eu acho que, havendo qualquer indício de anormalidade na rua, pessoas estranhas, com comportamento estranho, é bom avisar o Disque-Denúnicia ou avisar a Polícia para que haja uma averiguação. Isso ajuda muito.

Repórter:Como é que o senhor pretende debelar essa onda de seqüestros em São Paulo, onde está todo mundo com medo?

Alckmin: Isso vai ser debelado como já está sendo feito: prendendo as quadrilhas. Já temos perto de 40 quadrilhas presas, já fora de ação porque à medida que essas quadrilhas forem sendo presas, vai diminuir o número de seqüestros. Não tenho dúvida disso.

Repórter:inaudível

Alckmin: Não tenha dúvida de que uma quadrilha faz mais de um seqüestro.

Repórter:O precedente da extradição de estrangeiros no caso Abílio Diniz poderia ter levado esses outros estrangeiros a vir para o Brasil e, depois do seqüestro, alegar motivos políticos?

Alckmin: Acho que é cedo para a gente fazer uma constatação dessas. Eu acho que é preciso ser verificado, no caso desses seis estrangeiros, que já estão presos, a motivação do crime: se é meramente financeiro ou o que está por trás disso.
Enfim, tudo isso será averiguado, vai haver uma investigação. Acho que a gente precisa agudardar, ter cautela, para depois fazer novas afirmações.

Repórter:O Governo do Estado de São Paulo vai pedir ajuda ao Governo Federal, já que essa quadrilha tem, inclusive, estrangeiros? É possível que o Governo de São Paulo peça ajuda para combater o crime?

Alckmin: Não, o caso foi resolvido pela Polícia de São Paulo. Mas eu acho que sempre que houver uma interface com as atividades da Polícia Federal, a ajuda da Polícia Federal será bem-vinda. Nós não queremos excluir ninguém nessa força tarefa de combate ao crime, tanto é que propus ao presidente da República. Dar três forças-tarefas. Uma, contra o tráfico de armas, que é o principal, a quantidade de armas que entra aqui. As outras são entorpecentes e seqüestro. Essa força é necessária quando envolve mais de um Estado. Força-tarefa que envolve as Polícias Estaduais, a Polícia Federal, a Receita Federal e, quando houver interface, as Forças Armadas.

Repórter:O senhor falou há dias sobre a contratação de estagiários, projeto que precisa passar ainda pelo Legislativo. Seis mil estagiários não é um pouco de risco para um setor administrativo, mesmo da Polícia, pondo todo o efetivo nas ruas, e deixar tanto estagiário atendendo ligações?

Alckmin: Não, nas atividades de apoio é isso que a polícia quer. Esse foi sempre um sonho da polícia: olha, policial não é para ficar fazendo trabalho administrativo. Policial é preparado para fazer policiamento de rua, para fazer policiamento ostensivo e preventivo. Para a parte do Copom, essa sim que é o atendimento por telefone, mas exige algum conhecimento policial, a nossa idéia não é colocar estagiários. A nossa idéia é colocar nesse trabalho policiais deficientes, que estão se organizando em cooperativas e nós vamos contratar essas cooperativas. Agora, na parte administrativa, existe até uma lei federal que permite contratar esses jovens conscritos, isto é, de 18 a 23 anos, para a Polícia Militar e para o Corpo de Bombeiros. Eles podem ajudar em inúmeras atividades e, da mesma forma, na Polícia Civil.
A outra possibilidade é o guarda de muralha. Policial Militar também não é preparado para ficar parado numa muralha, tomando conta de preso. Isso vai ser feito pela Administração Penitenciária, isto é, por concurso púublico, cargo criado por lei. São 26 mil inscritos, e nós estamos começando o processo seletivo. Quem vai treinar o guarda da muralha, que se chama agente especial de vigilância e escolta, é a Polícia Militar.

Repórter:Voltando ao assunto da unificação, esse é um projeto de muitos anos. A partir do caso deste seqüestro, o senhor acredita que até o fim do ano isso poderá ocorrer, já que é um pedido de todos?

Alckmin: Isso vai depender de mudança constitucional. Enquanto a Constituição não é modificada, São Paulo está trabalhando. E a maneira de nós chegarmos à unificação é começando pela integração.
Se nós não nos integrarmos, nos não vamos chegar à unificação, porque ela passa pela integração.
Até nós, que defendemos a unificação, devemos trabalhar mais fortemente para isso. São Paulo fez um fato inédito, que é colocar no mesmo prédio o secretário da Segurança Pública, o delegado-geral da Polícia Civil, o comandante da Polícia Militar e a sala de solução de enfrentamento de crise.
É uma ação integrada entre as Polícias. Nós tivemos um bom exemplo nesse caso do seqüestro do Washington Olivetto. Foi a Polícia Militar que fez a prisão lá em Serra Negra e a Polícia Civil assumiu o caso e o investigou.

Repórter:De zero a 10, que nota o senhor dá para a Polícia no caso Washington Olivetto?

Alckmin: Eu acho que esse caso foi exemplar e da mesmo forma que alguns maus policiais são apontados, e corretamente apontados, e vão ser expulsos da Polícia e já estão presos, nós também precisamos reconhecer o esforço que está sendo feito, até para aumentar a auto-estima da Polícia.
Essa é a única profissão em que a pessoa coloca a própria vida a serviço da sociedade. Você não tem outra atividade profissional em que a pessoa, ao se dedicar a ela, coloca sua própria vida em risco.
Então, é importante a gente deixar bem claro o esforço que a polícia está fazendo e vai continuar fazendo: é blitz, é polícia nas estradas, através do TOR (Tático Ostensivo Rodoviário); investigação, estamos com mais de 300 policiais na área da investigação, a elucidação desses crimes e a prisão dos criminosos. Nós vamos diminuir o crime exatamente dessa forma, porque o que mais estimula o crime é a sensação de impunidade, de que nada vai acontecer. Os criminosos estão organizados e isso exige uma ação mais vigorosa.

Repórter:O coronel Rui César Melo disse que era um sonho ver as Polícias unificadas. Será que foi preciso chegar a esta situação caótica para que essa situação viesse à tona? Por que não foi feito isso antes?

Alckmin: Quando você fala em unificação é ter uma polícia só?

Repórter:Sob o mesmo comando.

Alckmin: Essa proposta foi feita pelo governador Mário Covas há cinco anos.

Repórter:Mas só agora ela aparece. É porque São Paulo virou um caos?

Alckmin: Isso não depende de São Paulo. É uma discussão nacional. A Constituição Brasileira estabeleceu que são duas polícias, uma investigativa e judiciária, a Civil, e uma Militar, que é ostensiva e preventiva. Isso está na Constituição Brasileira. Para isso ter a unificação é preciso mudar a Constituição.

Repórter: Mas São Paulo é o Estado mais rico, tem condições de pressionar, quer dizer, quando afetou aqui, com muito mais casos de seqüestros, que aumentaram mais de 300%, quer dizer que é possível sair daqui uma proposta melhor.

Alckmin: São Paulo já fez a proposta lá atrás, mas nós não vamos ficar esperando o Congresso decidir e ficar esperando a Constituição ser modificada. O que nóos estamos fazendo é trabalhar. E a melhor maneira de trabalhar é com a Polícia integrada, compatibilizando territorialmente o distrito da Polícia Civil com a companhia da Polícia Militar e fazer um trabalho integrado de inteligência, informações, ações planejadas. A Polícia Civil estabelece os locais, os horários, faz todo o mapeamento, o trabalho de inteligência; a Polícia Militar faz a parte preventiva, ostensiva, trabalhando integradamente.