Trechos da entrevista coletiva do governador Geraldo Alckmin concedida após a posse dos novos escriv

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seg, 04/02/2002 - 14h59 | Do Portal do Governo

Seguem trechos da entrevista coletiva do governador Geraldo Alckmin concedida nesta segunda-feira, dia 4, após a cerimônia de posse dos novos escrivães da Polícia Civil, realizada no Palácio dos Bandeirantes.

Alckmin: Hoje é um dia importante porque são mais 898 policiais, escrivães, que se somam à Polícia de São Paulo. O escrivão tem um papel relevante porque é ele que vai passar para o papel toda a parte investigativa que depois vai resultar no inquérito e no processo. A qualidade deste trabalho é muito importante. Hoje, mais 898 se somam à esta luta. E temos vencido uma batalha por dia. A última foi a prisão da quadrilha que assaltou o prédio da CUT. São seis presos, sendo cinco homens e uma mulher.

Repórter: O senhor diria que estamos vivendo novos tempos em São Paulo, governador?

Alckmin: A Polícia está extremamente motivada, empenhada no combate ao crime e estamos tendo bastante sucesso.

Repórter: Mas mudou alguma coisa?

Alckmin: Eu acho que estamos virando o jogo. O secretário da Segurança Pública, o Dr. Saulo, está à frente deste trabalho. As Polícias estão trabalhando bastante integradas, há um entusiasmo nesse empenho e acho que é importante a gente reconhecer esse esforço. Isso melhora a auto-estima da Polícia, motiva o policial no seu trabalho.

Repórter: Mas faltava motivação antes, faltava entusiasmo?

Alckmin: Não, não faltava. Essa é uma luta permanente. Você numa guerra tem batalha todo dia. Tem batalha que você perde e batalha que você ganha. E da última semana para cá, a Polícia está ganhando todas as batalhas.

Repórter: O senhor acha que o seqüestro do publicitário Washington Olivetto é um marco nessa virada?

Alckmin: Eu acho que é um deles, não é o único, mas é o mais relevante. Porque você salvou a vida de uma pessoa, prendeu uma quadrilha extremamente perigosa, até com ligações internacionais – porque todos os presos são estrangeiros, articulados por células, um trabalho de extremo profissionalismo. Foi um marco importante, mas não único. Uma outra quadrilha foi presa, com 790 mil dólares. Estão todos presos e agora está sendo feito o trabalho de levantar a numeração dos dólares, para ver a ligação desse crime. Nove cativeiros foram estourados na última semana, com a libertação de muitas pessoas. Dezessete seqüestradores foram presos nos últimos dez dias. Desses seqüestros relâmpagos, 27 delinqüentes foram presos. Um esforço grande que está sendo feito e eu acho que a gente tem de reconhecer e estimular, porque este empenho vai ser maior ainda.

Repórter: O caso do prefeito de Santo André, Celso Daniel, ainda não foi solucionado. Ele não teria provocado talvez essa virada?

Alckmin: Não, no caso do prefeito de Santo André, Celso Daniel, o empenho está sendo feito da mesma forma. Eu acho até que a gente não tem de marcar data para descobrir o caso até amanhã ou depois de amanhã. Não. O empenho é feito todo dia, mas a polícia tem de trabalhar com responsabilidade.

Repórter: Mas mudou alguma coisa depois desse caso na ação da polícia?

Alckmin: Não. A Polícia já vinha num trabalho importante, num esforço concentrado há um bom tempo. E os frutos dessa determinação nós estamos colhendo.

Repórter: Governador, já dá para estabelecer algum tipo de relação entre a quadrilha que foi presa nesse fim de semana e outros seqüestros, como o do empresário Abílio Diniz?

Alckmin: Eu acho que é prematuro fazer essa ligação. A investigação é que vai mostrar se há alguma ligação, que ramificações tem essa quadrilha, a quem ela é ligada. Mas eu acho que sobre investigação quem deve falar é a Polícia.

Repórter: Governador, o presidente Fernando Henrique disse que o senhor teria sido injusto ao dizer que o Governo Federal é responsável pelo problema da segurança.

Alckmin: Primeiro, eu não disse que o Governo Federal é responsável em nenhum momento. O Poder de polícia é do Estado e o Estado é responsável e está cumprindo o seu dever. Segundo, eu converso com o presidente a cada dois ou três dias, nós falamos permanentemente e ele em nenhum momento tocou nesse assunto. Aliás, me telefonou na sexta-feira passada – o que ele nem precisava ter feito, eu disse que ele não precisava ter se preocupado – dizendo que uma matéria publicada numa revista semanal foi equivocada, e que ele não usaria aquela expressão. Então não há nenhum problema.

Repórter: O senhor se refere a ele ter dito que (inaudível)… de São Paulo está esculhambada? Ele disse que não falou isso?

Alckmin: Ele ligou para dizer que houve algum equívoco, que ele nem usa esse termo. E eu falei: presidente, o senhor nem precisava ter ligado, ter se preocupado com isso. Eu falo com o presidente permanentemente e não houve nenhuma queixa. Aliás, o que eu levei ao presidente foram propostas da esfera federal, como a questão do porte ilegal de armas, das armas adulteradas, um conjunto de medidas, questão das penitenciárias federais de segurança máxima, a questão de legislação, que, aliás, o presidente aprovou.

Repórter: Governador, existe algum programa específico para prisão especial para seqüestradores? Uma cadeia especial para seqüestradores?

Alckmin: Nós temos no Estado de São Paulo uma penitenciária de segurança máxima em Taubaté. Ela tem um regime muito especial. Aliás, essa foi uma das questões que nós levamos à esfera federal. Hoje, na Lei de Execuções Penais, você só pode manter nesse regime mais duro por seis meses. Passou seis meses, você tem de tirar o preso e colocá-lo em outro estabelecimento prisional. Nós queremos um prazo mais longo, porque alguns presos são muito perigosos. E estamos terminando agora em fevereiro uma outra penitenciária de segurança máxima em Presidente Bernardes. Então, vamos ter duas penitenciárias de segurança máxima no Estado de São Paulo. E esses presos mais perigosos estão sendo colocados nas penitenciárias de maior segurança. E a orientação para a Secretaria de Segurança Pública é a seguinte: nenhum desses presos mais perigosos pode ficar em cadeia. Prendeu, já vai para o estabelecimento prisional que tem mais segurança. E estamos estudando outras medidas. Por exemplo, 60% das unidades prisionais já estão com cobertura de telas de aço e estamos analisando a possibilidade de colocarmos cachorros treinados no entorno das muralhas. Enfim, um conjunto de medidas de segurança para evitar qualquer tipo de crime.

Repórter: Em relação aos celulares pré-pagos?

Alckmin: Estou enviando um projeto de Lei à Assembléia Legislativa, obrigando o cadastro e a identificação de todos.

Repórter: Governador, os vizinhos que deram a informação para a Polícia do cativeiro do Washington Olivetto serão recompensados? Entrarão naquele programa do governo?

Alckmin: Nós vamos verificar. Eu acho que na realidade ali foi diferente. Eles ligaram para a Polícia Militar depois que o Washington Olivetto pediu socorro. Mas eu queria dizer que é muito importante fazer uma campanha nos meios de comunicação para que a população ligue para o disque-denúncia quando notarem uma casa com pessoas estranhas ou comportamento diferente, em horários esquisitos, ou pessoas que nunca tinham sido vistas. Avisem e ajudem a polícia a achar os criminosos. Porque os vizinhos achavam que tudo aquilo estava estranho e se, de repente, tivessem dado um telefonema, poderiam ter resolvido até antes.

Repórter: Governador, é a segunda vez que seqüestradores estrangeiros atuam em São Paulo. O que faz de São Paulo um lugar tão atraente para os seqüestradores, até os estrangeiros?

Alckmin: Não, na realidade, o outro episódio é bem distante. De um episódio para o outro passou uma década.

Repórter: Mas aconteceu.

Alckmin: Eu não sei se nos outros Estados não estão acontecendo, mas aqui foram presos. E vão ser investigados para ver as ramificações dessa quadrilha.

Repórter: Mas o que faz de São Paulo esse lugar atraente, que chama a atenção de seqüestradores de outro país? Seria a impunidade?

Alckmin: Olha, isso já aconteceu anteriormente, há treze anos. Agora eles estão na cadeia, vão cumprir pena e vão ser condenados.

Repórter: Governador, com relação aos seqüestradores do Diniz, eles conseguiram o que eles queriam, que era serem deportados. Como o Governo do Estado vai reagir com qualquer suposição nesse sentido, numa hipótese deles conseguirem ser deportados?

Alckmin: Eu acho que é precipitado a gente estar falando sobre hipóteses, coisas que possam ocorrer. O importante é o fato. O fato é que a quadrilha está presa e a Polícia está empenhada agora em prender os demais. E através dos que já estão presos chegar na quadrilha como um todo e ver suas ramificações, a que tipo de ação criminosa estão ligados.

Repórter: Sobre a participação da bancada paulista que vai a Brasília pedir que se apresse as prioridades de segurança junto ao Congresso, como o senhor avalia isso?

Alckmin: A Assembléia Legislativa é um outro Poder e tem total liberdade de ação. Eu acho que só ajuda. É importante. Nós temos de ter uma mobilização nacional nessa questão da segurança. Há medidas legislativas, não são as únicas, mas são importantes. Há medidas da esfera federal e há medidas estaduais, que nós estamos fazendo. Já transmiti ao presidente da Assembléia as nossas prioridades, que são a Lei que está em regime de urgência para contratar os jovens no serviço auxiliar voluntário; a Lei do celular pré-pago com a identificação e o cadastro; e a Lei do Executivo com a recompensa.

Repórter: Essa pressão não indica um racha entre a bancada e o governo federal? Uma pressão, que o Governo não está dando a prioridade que São Paulo exige?

Alckmin: Não existe uma questão político-partidária. O que existe é um esforço, no sentido de darmos passos mais rápidos na questão que dependa do Congresso Nacional.

Repórter: Precisa de mais sintonia?

Alckmin: Não. Eu acho que a sintonia existe. Nós estamos permanentemente trabalhando junto com o Governo Federal. A Polícia Federal aqui em São Paulo está trabalhando de maneira conjunta. Levei ao presidente a proposta da força-tarefa e já houve um encontro aqui em São Paulo para fazer essa força-tarefa na questão de tráfico de armas, entorpecentes e até mesmo seqüestro.

Repórter: Governador, o senhor falou sobre as propostas encaminhadas à Assembléia Legislativa. A oposição pretende votar as propostas como deseja o governo paulista, só que eles também fazem algumas críticas, dizendo por exemplo que não houve no orçamento investimento na Polícia Técnico-Científica e nem a valorização do salário dos policiais. De alguma maneira o governo paulista pretende rever isso?

Alckmin: Em relação ao orçamento, o que mais cresceu foi o da Segurança Pública.

Repórter: Não, mas especificamente para a Polícia Técnico-Científica.

Alckmin: Mas isso é uma discussão de prioridades dentro da Secretaria.

Repórter: Mas é que o senhor está enfatizando a questão da inteligência, não é?

Alckmin: O Infocrim é um instrumento de inteligência que permite um georeferenciamento, ação mais planejada, mais eficaz. Nós vamos expandir o Infocrim imediatamente para a Grande São Paulo e região de Campinas. Todo o trabalho já está sendo feito. Ontem passamos grande parte do dia só cuidando disso. Os investimentos para a Segurança são os maiores no orçamento de 2002. O reajuste certamente é aquém do pleiteado, mas inclusive foi dado no ano passado e vai ter repique agora em abril. Hoje nós nomeamos os escrivães de Polícia, mas os concursos para a Polícia Científica também já estão abertos. Em todos os cargos específicos da Polícia Técnico-Científica.