Trechos da entrevista coleltiva do governador Geraldo Alckmin durante o velório do prefeito de Campi

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ter, 11/09/2001 - 19h07 | Do Portal do Governo

Alckmin: Estou aqui em solidariedade à família do Toninho, à população. Lamentável saber da sua morte. Estive com ele na primeira vez, aqui em Campinas, em um congresso eucarístico nacional onde assistimos a missa juntos. Ele estava com a esposa, com a filha, com a mãe. Passei a admirá-lo como homem público, como administrador, mas principalmente pela figura humana, alegre e simples na sua maneira de ser. Depois estivemos juntos por ocasião da entrega do anel viário sul de Campinas, o Anel Viário Magalhães Teixeira. Conversarmos inclusive sobre o aeroporto de Viracopos. Sempre tive uma impressão muito boa, não só do homem público, do político, mas principalmente da figura humana. Quero dizer também que, ontem à noite, quando tomei conhecimento do fato, determinei ao secretário Petrelluzzi (da Segurança Pública) que imediatamente viesse aqui para Campinas, juntamente com o delegado geral da Polícia Civil, Marco Antônio Desgualdo. Eles vieram, passaram a madrugada aqui em Campinas e a Polícia está empenhada em elucidar o caso, para poder esclarecer o caso e prender os criminosos.

Repórter: A Secretaria de Segurança Pública investiga a possibilidade de crime político?

Alckmin: Eu acho que todas as possibilidades devem ser investigadas. Os indícios iniciais não apontam nenhum fato que justifique, mas a Polícia já está investigando todas as alternativas. Há uma testemunha, um vigia perto do local, mas essa é uma tarefa da Polícia.

Repórter: Governador, o senhor não recebeu nenhuma informação de que o prefeito Toninho teria recebido ameaças no mesmo dia?

Alckmin: Não, eu não recebi qualquer informação de que ele teria recebido ameaças. Aliás, eu estava agora com a vice-prefeita, que tomou posse, e ela também havia dito que não tinha nenhum conhecimento disso. Mas a Polícia vai aprofundar todas as alternativas.

Repórter: Governador, toda a Segurança Pública de Campinas reclama que o Governo não manda investimentos para cá, inclusive autoridades que foram consultadas a respeito da morte do prefeito. Como o Governo vai se posicionar agora?

Alckmin: Não, a Polícia já vem trabalhando e trabalhando bastante. Primeiro, na integração das duas polícias: Civil e Militar. Segundo, até na substituição dos comandos. Houve uma reformulação total aqui na Polícia de Campinas. Terceiro, fizemos aumento de efetivos, como delegados, investigadores, PMs. Quarto, com investimento em equipamentos. Inclusive, há cerca de 15 dias, criamos uma nova Delegacia Anti-sequestro aqui em Campinas. Estamos terminando mais um Centro de Detenção Provisória, em Hortolândia, para tirar todos os presos das cadeias e distritos policiais da região. Com isso buscando mais segurança penitenciária, evitando fugas e ao mesmo tempo mais eficiência da Polícia Civil. Também autorizei toda a área do DER (Departamento de Estradas de Rodagem) ser transformada em Cidade Judiciária e nós já estamos começando a reformar todo o prédio para poder instalar a sede judiciária. Com isso, Campinas vai ter mais 17 varas, porque a Justiça também tem um papel importante. As varas criadas que não foram instaladas serão agora instaladas.

Repórter: Governador, a despeito de todos esses investimentos, Campinas é a cidade mais violenta do Interior do Estado. Esses recursos não estão sendo falhos, ruins ou insuficientes?

Alckmin: Olha, acho que nós temos de agir em duas áreas: na Segurança Pública, equipando mais a Polícia, aumentando o efetivo policial, integrando a atividade policial. Para confirmar que essa Polícia tem trabalhado é só ver o número de presos, que era 55 mil e hoje estamos chegando a 97 mil presos, o que mostra que a Polícia está trabalhando mais. Agora, além disso, tem que se agir nas causas da violência. Esse é um fenômeno mundial. Hoje há um clima de perplexidade no mundo todo. É o rebaixamento de valores éticos, questões de famílias, questões religiosas, problemas com drogas, jovens. É preciso melhorar a educação, atuar junto à família, melhorar as áreas de lazer e esportes, prevenindo as drogas, trabalhar com princípios de vida, valores da existência humana. Enfim, um conjunto de fatores que também precisam ter atuação. Vou passar os índices, que eu até não queria tocar nesse assunto por não ser esse o momento adequado. Mas, temos índices que apontam melhoras, depois temos uma queda desses índices. Em termos do Estado de São Paulo (e Campinas segue os mesmos números gerais), houve uma queda de latrocínio, que é o roubo seguido de morte. Houve um aumento do homicídio doloso, houve uma queda de roubo e furto de automóveis, houve aumento de seqüestros. Então, temos crimes que diminuíram e outros que aumentaram. Estamos vendo hoje, e não é um fenômeno só nosso, um esgarçamento do tecido social. O Governo está trabalhando para melhorar a educação, a saúde, fazendo políticas compensatórias, políticas de emprego, investindo em habitação. E de outro lado a Polícia está mais bem equipada. É inegável que a Polícia está mais preparada.

Repórter: Os líderes do PT fizeram críticas duras à falta de segurança e eles…

Alckmin: Esse não é o momento para se estabelecer discussão política. Eu vim a Campinas para transmitir a minha solidariedade ao povo de Campinas e à família do Toninho e lamentar profundamente esta fatalidade. Não é momento para discussão política e eu não vou dar nenhuma resposta.

Repórter: Governador, no ano passado o prefeito Toninho sofreu um assalto quando ainda era candidato, colocaram até uma escopeta perto do peito. Pelo que sabemos até hoje esse crime não foi solucionado…

Alckmin: Vários crimes têm sido solucionados. O número de casos elucidados tem sido grande. Mas eu tenho muita confiança de que vamos poder elucidar esse caso e, mais do que isso, prender os criminosos, fazer Justiça. Aliás, ontem à noite, quando tomei conhecimento, quis primeiro confirmar, porque eu senti tanto a morte do Toninho, e até tinha uma esperança de não ser um caso com vítima fatal. Quando foi confirmado a morte dele determinei imediatamente as presenças do secretário Petrelluzzi e do delegado Desgualdo e empenho pessoal deles. Todas as providências estão sendo tomadas.

Repórter: Como o senhor ficou sabendo?

Alckmin: Pela Casa Militar.

Repórter: (inaudível)

Alckmin: Eu acho muito triste. Toda vida humana tem um valor incomensurável. Nós vivemos, infelizmente, momentos difíceis. Quantas centenas de pessoas morreram hoje nos EUA? Estamos num momento difícil da humanidade, onde valores, princípios de vida, por razões múltiplas, não são mais tão sólidos. E uma ação permanente da polícia não significa que a violência diminua. Quer dizer, há inúmeras causas que colaboram para aumentar a violência.

Repórter: Governador, o prefeito abdicava de segurança. O senhor acha que ele devia andar com seguranças?

Alckmin: Eu não posso fazer críticas a isso, porque eu também nunca fui adepto de segurança, agora eu tenho porque sou obrigado. Mas antes, quando era vice-governador, nunca andei com seguranças, sempre andei sozinho. Eu reconheço que a questão da segurança é o grande desafio.