Trabalho da polícia fica mais eficiente com desativação de carceragens em Distritos Policiais

Funcionários também trabalham com mais tranqüilidade

seg, 20/06/2005 - 15h34 | Do Portal do Governo

Evitar fugas, resgates de presos e rebeliões e melhorar a eficiência da polícia. Esse é o principal objetivo apontado pelo governador Geraldo Alckmin para a retirada dos detentos e desativação das carceragens dos Distritos Policiais (DPs) de São Paulo. A ação, porém, está proporcionando melhorias que vão muito além da Segurança Pública. A melhoria da qualidade de vida é apontada pela população que vive no entorno dos distritos, por policiais civis e militares e funcionários dos DPs. Além disso, o mercado imobiliário tem registrado aquecimento nas regiões próximas aos distritos quando ocorre a retirada dos presos.

“Quando tinha rebelião ou tentativa de fuga, eu tinha dois medos: de sair de casa ou de que a casa fosse invadida. Hoje, o distrito nem parece uma delegacia”, relata a massagista Cidinéia Aparecida Ocopne, que mora perto do 9º Distrito Policial, no bairro do Carandiru, zona norte da capital. O 9º DP chegou a ter mais de 150 presos e incontáveis histórias de rebeliões e tentativas de fuga. Após a desativação, em outubro de 2001, a unidade passou por reformas. “Ficamos com britadeiras aqui por oito meses para quebrar o concreto da carceragem”, lembra o delegado-titular, Roberto Pacheco de Toledo.

Policiais e funcionários mais tranqüilos

A retirada de presos também traqüilizou os policiais dos distritos, que ficaram livres para exercer o trabalho investigativo e judiciário. Atividades como a revista diária nas celas, alimentação e transferências de presos para hospitais ou outras unidades carcerárias tomavam grande parte do dia. “Aqui, os cuidados com presos mobilizavam três equipes. Não sobrava tempo para o trabalho de polícia”, lembra o investigador Cláudio Gonçalves, do 95º Distrito Policial, no bairro de Heliópolis.

A melhoria não atingiu apenas a Polícia Civil, mas também refletiu no trabalho da Polícia Militar. “Toda vez que há uma tentativa de fuga ou rebelião é preciso reunir todas as viaturas e mobilizar forças para resolver o problema. Com a desativação, essa é uma preocupação que a gente deixa de ter”, relata o capital PM Juliano Campos de Azevedo. Ele comanda a 5ª Companhia do 3º Batalhão da Polícia Militar, sediada no mesmo prédio do DP de Heliópolis.

Jaqueline Mateus trabalha na limpeza do 37º Distrito Policial, no bairro de Campo Limpo, zona sul da capital, há sete anos. A unidade em que trabalha chegou a ter 200 homens em um espaço projetado para 30. Todos os dias, ela era responsável pela retirada do lixo gerado pelos presos e convivia com o medo de doenças ou de ser tomada como refém. Desde junho do ano passado, a carceragem está desativada. “Às vezes, eu tinha pesadelos. Sonhava com rebeliões. Hoje estou muito mais tranqüila. Fiquei mais calma até com a família”, conta.

O espaço antes ocupado pelos presos teve as grades derrubadas e hoje virou uma espécie de ‘ponto turísticos’ para os que visitam o 1º andar do Distrito Policial, de onde é possível ver o local de cima, através de um vidro. “As pessoas que vêm aqui ficam curiosas. Querem saber como é o espaço”, afirma o delegado-assistente Marcel Fehr.

A antiga carceragem realmente gera curiosidade nos usuários. “Eu nunca tinha visto um lugar assim”, dizia surpreso o caixa Robson Simão Muniz, que aguardava atendimento no andar. Ele conta que chegou a procurar o DP para registrar um Boletim de Ocorrência (BO) na época em que ainda havia presos. “Cheguei aqui de madrugada e o que me chamou a atenção foi o barulho que os presos faziam. Agora é o maior silêncio”, observa.

Atendimento moderno e humanizado

O 37º Distrito Policial ainda busca parcerias com o empresariado local para reformar a área da carceragem e transforma-lo em espaço de uso da comunidade, como já acontece em 17 DPs que passaram por remodelação financiada pela sociedade e hoje são Delegacias Participativas. Isso significa que essas unidades foram modernizadas, informatizadas e preparadas para oferecer atendimento mais rápido e humanizado aos usuários. Também contam com estagiários de direito, psicologia e assistência social orientam e acolhem usuários que chegam à delegacia com dúvidas que não tenham a ver com crimes. A maioria tem ainda área para reunião do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg). E, graças ao apoio da comunidade, algumas estão conseguindo inovar. Como é o caso do 9º Distrito Policial, no bairro do Carandiru, que conta com uma biblioteca com quase 3.000 livros, e o 95º DP, no bairro de Heliópolis, que oferece aulas de informática, inglês, espanhol e biblioteca na área que antes era destinada aos presos.

Cíntia Cury