Teleconferências colocam tecnologia da informação a serviço da Justiça

Sistema começa a operar em cinco CDPs e em Presidente Bernardes

qua, 10/08/2005 - 16h10 | Do Portal do Governo

Sem precisar sair da unidade prisional, um preso que está no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na zona oeste da capital, foi interrogado na manhã desta quarta-feira, dia 10, pelo juiz titular da 11ª vara criminal, Alex Tadeu Monteiro Zilenovski, que permaneceu todo o tempo no Fórum Criminal da Barra Funda, na região central de São Paulo. Na sala, junto com o juiz, estavam também o promotor e a advogada de defesa do detento.

O réu respondeu aos questionamentos do juiz e deu sua versão para o fato que resultou na prisão. O documento com as declarações do preso foi transmitido para o computador que fica na sala de depoimento do CDP, impresso, assinado pelo detento e por um advogado da Fundação de Amparo ao Preso (Funap) que acompanhou a audiência. O juiz pôde ver a pessoa que assinava o documento e, por outra câmera, um close das mãos. Em seguida, o papel foi digitalizado e enviado para o fórum. Depois disso, a defensora pediu para falar com o detento. A conversa por telefone contou com sigilo absoluto e não foi gravada ou ouvida pelos demais. Além do documento, a teleaudiência também foi gravada em DVD.

A operação, que utilizou equipamentos de última geração, durou cerca de meia hora e evitou os riscos do deslocamento de presos, como tentativas de fugas ou resgates, além de economizar recursos públicos e manter mais policiais nas ruas, já que eliminou a necessidade de escolta do detento até o fórum. A teleaudiência também foi acompanhada pelo governador Geraldo Alckmin e pelo presidente do Tribunal de Justiça do Estado Luiz Elias Tâmbara, logo após assinarem o termo de parceria entre o Governo do Estado e o Tribunal de Justiça de São Paulo, nesta quarta-feira, garantiu a implementação do sistema de teleaudiências criminais.

“Gostei da teleaudiência. Acho que tenho vocação para juiz”, brincou Alckmin. “Essa busca da verdade, o contraditório, a busca da Justiça. A sociedade não quer crucificar ninguém, nem canonizar ninguém. Ela quer a verdade. Buscar a verdade, a Justiça, investigar, apurar e punir. É isso que se faz numa democracia madura, como nós queremos ser”, afirmou.

Inicialmente, as teleaudiências serão realizadas pelos Fórum Barra Funda (7ª, 11ª, 18ª, 22ª e 29ª varas criminais e Plenário 7 do fórum) para audiências com detentos de cinco Centros de Detenção Provisória (Chácara Belém I, Osasco I, Pinheiros I, Parelheiros e Guarulhos II) e do Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes, que fica a 630 quilômetros da capital. A implantação das teleaudiências em outras varas criminais e unidades prisionais depende de decisão conjunta do Governo do Estado e Poder Judiciário.

“É a tecnologia da informação a serviço da Justiça. Entendo que esse é um momento histórico. São Paulo dá um exemplo para o país de vanguarda com a utilização da teleaudiência”, afirmou Alckmin.
O governador informou que o Estado está investindo R$ 5 milhões na manutenção por dois anos do sistema nos 12 pontos (seis no fórum, cinco em CDPs e um no CRP). Na opinião de Alckmin, a medida poderá ser ampliada. A operacionalização das teleaudiências fica a cargo da Secretaria da Administração Penitenciária, que contratou a Prodesp para a locação dos equipamentos.

O juiz Alex Zilenovski destacou que o sistema de teleaudiências é novo. “E como tudo que é novo, passa por uma fase de acomodação”, disse. Na opinião dele, a demonstração das teleaudiências é a melhor maneira de mostrar a eficácia do novo sistema. Ele lembrou da resistência enfrentada quando as sentenças dos juizes passaram a ser feitas em máquina de escrever e, posteriormente, no computador.

Zilenovski informou que não encontrou, até o momento, qualquer resistência na adoção do novo formato de audiências, seja por parte dos defensores ou dos detentos. Ele disse que se convenceu dos benefícios das teleaudiências assistindo seu funcionamento.

O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo lembrou que o Código de Processo Civil não prevê a utilização das teleaudiências. “Mas também não veda. De modo que é uma questão de interpretação. E nós temos de interpretar a lei processual sempre em benefício da sociedade, da presteza do julgamento e da segurança que a população merece”, defendeu.

Audiências em números

No 1º semestre deste ano:

– 45.231 escoltas de presos foram realizadas só para audiências
– 124.156 detentos foram transportados com esse objetivo
– 95.944 policiais se envolveram na escolta de presos para audiências
– 33.843 viaturas foram usadas com esse objetivo
– 3.295.519 Km foram rodados em operações de transporte de detentos para audiências
– R$ 5.970.351 foi o valor investido no transporte de presos para audiências entre janeiro e julho deste ano

Apesar de todo o esforço da polícia para o transporte dos detentos para as audiências, há um índice que varia entre 13% e 15% de audiências que deixam de ser realizadas porque o preso não comparece. Além do atraso nos processos, isso também gera custos para os cofres públicos.

Cíntia Cury