Do Portal da Unesp
Ao contrário do que normalmente se pensa, a radiação nem sempre traz problemas ao homem e pode até mesmo ser benéfica. A radiação gama, por exemplo, pode ser utilizada na conservação de frutos minimamente processados, ou seja, aqueles alimentos que, antes de serem colocados para o consumo, são descascados, cortados, higienizados e embalados.
‘Utilizamos um processo de irradiação que deixa o alimento menos suscetível a doenças, reduz a perda de substâncias nutritivas e aumenta a sua durabilidade, uma vez que diminui o amadurecimento da fruta’, afirma o engenheiro agrônomo Rogério Lopes Vieites, coordenador da equipe ‘Composição’ e docente da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da UNESP, campus de Botucatu.
O objetivo da pesquisa, intitulada Radiação gama na conservação de frutos minimamente processados, é facilitar e incentivar o consumo de frutas e legumes. Além de descontaminar e esterilizar o alimento, o processo é capaz de reduzir em até 10 vezes o tempo de preparação.
O projeto, que utilizou abacaxi, manga e mamão, mostra um método alternativo aos procedimentos de conservação de alimentos utilizados hoje, realizados por meio de ozônio ou cloro. ‘O cloro deixa cheiro e gosto e o ozônio tira a cor natural dos alimentos, fazendo com que fiquem com um aspecto de velhos’, explica Vieites, professor do Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial.
A aplicação é feita a partir do cobalto 60, uma partícula sólida que, ao liberar radiação gama, não deixa resíduos no alimento, impedindo assim que o material se torne radioativo. A irradiação foi feita pela Empresa Brasileira de Radiações (Embrarad), enquanto o projeto, que começou em agosto de 2001 e termina no mesmo mês de 2003, teve financiamento total da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
‘O processo pode ser realizado quando os produtos já estão embalados, já que a radiação tem alto poder de penetração’, diz o coordenador.
O custo do processo é baixo, em torno de US$ 10 a US$ 15 a tonelada, mas ele ainda não é muito utilizado no País. ‘Existem pesquisas sendo feitas em vários lugares do mundo nessa área, mas no Brasil temos dois problemas: a falta de conhecimento sobre esta forma de conservação e o preconceito com relação aos efeitos da radiação’, afirma Vieites.
V.C.