Teatro: Unesp relembra trajetória do diretor italiano Ruggero Jacobbi

O livro 'Ruggero Jacobbi: presença italiana no teatro brasileiro' resgata vida e obra do autor

ter, 22/10/2002 - 17h21 | Do Portal do Governo

É praticamente impossível contar a história do teatro brasileiro, principalmente do pós-II Guerra, sem mencionar a colaboração decisiva de encenadores europeus, como Ziembinski, Adolfo Celi e Gianni Rato, e empresários, como Franco Zampari.

Um nome que se destaca nessa lista é o do italiano Ruggero Jacobbi. ‘Em 14 anos de Brasil, entre 1946 e 1960, ele dirigiu 44 peças, além de atuar como professor, ensaísta, crítico de teatro e escritor de peças e poemas’, conta a professora do Instituto de Artes (IA) da UNESP, campus de São Paulo, Berenice Raulino, autora da recém-lançada biografia Ruggero Jacobbi: presença italiana no teatro brasileiro (Editora Perspectiva). ‘Ele estendeu ainda as suas atividades ao cinema e à televisão, tendo saído do País sob pressão da polícia, que o considerava comunista.’

Originalmente uma tese de doutorado apresentada na Universidade de São Paulo (USP) em 2000, o livro enfoca a contribuição de Jacobbi para a evolução do teatro brasileiro, percorrendo desde a formação do diretor na Itália até o seu retorno para o país natal, onde verteu para o italiano poemas de Jorge de Lima e Murilo Mendes. ‘De sua passagem pelo Brasil, destacam-se as montagens de O Mentiroso, de Carlo Goldoni, em 1949, e A ronda dos malandros, no ano seguinte’, conta a autora do livro.

O Mentiroso marcou época por ser o primeiro espetáculo a trazer para cena nacional a estilização cômica da commedia dell’arte. ‘Foi um dos espetáculos mais célebres do Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC’, diz Berenice. ‘A prática na improvisação do diretor italiano transformou essa encenação num marco na formação artístico-cultural do teatro brasileiro moderno’, avalia.

O livro de Berenice é o resultado de quatro anos de pesquisa e uma viagem à Itália, na qual a autora teve a oportunidade de entrevistar Paola Jacobbi, filha do encenador. Um dos pontos mais importantes do trabalho foi justamente recuperar os anos de formação intelectual de Jacobbi na Itália, fundamentais para o seu trabalho no Brasil.

‘Além do pioneirismo de introduzir a commedia dell’arte entre nós, o diretor italiano se destaca como estudioso do teatro nacional e pela coragem de introduzir elementos brasileiros, como o saci-pererê ou o malandro carioca, em suas montagens’, explica. ‘Ele buscou formar uma platéia qualificada para teatro no País’, conclui a docente do IA.