Segurança: Polícia Militar aposta em prevenção no combate às drogas

Programa antidrogas orienta cerca de 350 mil alunos com idade entre 9 e 11 anos

qui, 20/03/2003 - 11h14 | Do Portal do Governo

Da Agência Imprensa Oficial


Desde o início do semestre letivo, as quartas-feiras são esperadas com ansiedade pelos alunos da quarta série do ensino fundamental da Escola Estadual Marechal Deodoro, na região central da capital. E não é por causa da merenda ou da recreação. Os motivos da expectativa são o soldado PM Rogério Florentino da Silva e a aula que ele ministra.

Instrutor do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), quando ele entra na sala de aula é recebido com festa. A agitação começa. Os pequenos batem os pés e as mãos e soltam o grito guerra: “Hoje é dia de Proerd”.

O programa é desenvolvido há dez anos pela Polícia Militar do Estado de São Paulo para crianças de 9 a 11 anos que estejam cursando a quarta série do ensino fundamental de escolas públicas ou particulares. Discutindo formas de lidar com os conflitos, de levar uma vida com mais qualidade e ainda abordando questões relacionadas à cidadania, o objetivo do projeto é combater a violência e o uso da droga.

Todo o trabalho é desenvolvido em 16 aulas, uma por semana, com base em cartilha distribuída gratuitamente para os estudantes e com linguagem voltada à faixa etária. A 17ª semana é reservada para a solenidade de formatura que conta com a presença de autoridades, pais e alunos.

Brincadeira séria

Na sala de aula a atenção está voltada para o policial Rogério. Ele fala da lição do dia e começa responder às perguntas formuladas durante a semana. O aluno é estimulado desde o primeiro dia a fazer quantas perguntas quiser. De lá saem questões de toda ordem. Desde saber a idade do policial, se ele gosta de criança, como é o seu revólver, que nunca é levado à classe , até aquelas relacionadas ao propósito do programa.

“Os alunos fazem também denúncias de violência, de parentes que vendem ou usam drogas e até de abuso sexual. Percebemos que eles não haviam contado para os pais ou para a professora, mas sentiram-se seguros em nos contar.” Cada caso recebe um encaminhamento disse o policial.

Ele aproveita a curiosidade de uma aluna em saber se ele já havia conversado com pessoas drogadas, e usa-a como tema para falar sobre as conseqüências do uso da droga. A participação da garotada é estimulada. Um acordo prévio garante que para cada resposta errada uma brincadeira será proposta. Quando o aluno acerta quem “paga o mico” – como ficou batizada a brincadeira – é o instrutor. E a criançada escolhe: vale cantar e até imitar macaco.

É impossível acompanhar a aula sem se divertir. As crianças prestam atenção, perguntam, querem dar opinião. A aula de uma hora parece passar num minuto.

O trabalho em grupo, proposto em seguida, é elogiado pela professora da turma Maria Luiza de Aguiar Oldani. “Essa atividade promove a integração e propicia ao aluno o exercício de apresentar a sua opinião e a de respeitar a opinião do colega”, diz.

Entusiasta dos resultados, a diretora substituta da escola Cybelle de Almeida Boncristiano também elogia o projeto e afirma que os alunos desenvolvem um senso crítico da realidade e ficam mais atentos. Rosmeiri Olher da Silva, também professora da quarta série, atesta que é sensível a melhora de comportamento das crianças após o projeto desenvolvido desde 1999 na escola. O apoio dos pais tem sido crescente.

Um soldado na escola

A diretora credita o sucesso do projeto ao fato de ser ministrado por outro profissional e não por um professor. “Nessa idade, as crianças admiram muito o policial. Com a proximidade e a proposta do Proerd ele se torna um amigo. O policial conhece a droga e sabe reconhecer uma pessoa drogada. Ele traz para a sala de aula a experiência e isso nenhuma teoria pode fazer sozinha.”

A psicopedagoga Cláudia Baratella, que participa do comitê de formação dos instrutores do Proerd e é assistente de direção do Colégio Renovação, destaca o aspecto positivo do policial entrar na sala sem a postura de professor. Baratella conta que um programa similar foi implantado no Colégio Renovação, mas os resultados não foram tão satisfatórios quanto os do Proerd. “Os professores muitas vezes encaravam como uma aula a mais. Algumas vezes estavam atrasados com o conteúdo programático e aproveitavam o tempo para repor as matérias. Isso comprometeu os resultados.”

Para ela, a proposta do Proerd é democrática compromete a polícia, a escola e a família. “O programa procura trabalhar valores como a amizade e a auto-estima. A droga entra como pano de fundo. Observamos que as crianças aprendem a dizer não às drogas sem precisar sair do seu grupo.” Isso não significa, contudo, que o projeto seja perfeito, diz a pedagoga.

Proerd atendeu 1,2 milhão de crianças em SP

O Proerd – Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) da Polícia Militar do Estado de São Paulo é desenvolvido pela Diretoria de Assuntos Municipais e Comunitários (Damco) e pela Divisão de Apoio a Programas Educacionais (Dape). É baseado no modelo Drug Abuse Resistane Education (Dare), criado em 1983, em Los Angeles, Estados Unidos, pelo distrito escolar daquela cidade, em parceria com o Departamento de Polícia.

Já é aplicado em mais de 40 países, integrando escola, pais e polícia na prevenção do uso de drogas. Estima-se que 35 milhões de crianças, por ano, em todo o mundo, são formadas pelos policiais Proerd.

No Estado de São Paulo, entre 1999 e 2002, cerca de 1,2 milhão de crianças receberam as instruções do programa. Somente em 2002 foram mais de 375 mil alunos. Segundo a coronel PM Laudinéa Pessan de Oliveira, diretora da Damco e coordenadora estadual do Proerd, quanto mais tardio for o primeiro contato com as drogas, menores serão os riscos de o jovem tornar-se um usuário. “Hoje, muitas vezes, esse primeiro contato tem ocorrido aos 12 anos, idade imediatamente posterior à aplicação do programa.”

Atualmente são quase 1.500 policiais militares Proerd presentes em todos os Estados brasileiros, sendo cerca de mil em São Paulo. O trabalho é voluntário. Os candidatos participam do Curso de Formação de Instrutores, que os habilita a desenvolver o programa para as quartas séries do ensino fundamental, não os capacitando, porém, a ensinar outros policiais.

Para isso, o ele deverá freqüentar o Curso de Formação de Mentores. A multiplicação desses instrutores dá-se por meio de quatro centros de treinamento existentes nas polícias militares de São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

SERVIÇO
Para solicitar a aplicação do programa, procurar o Batalhão da Polícia Militar de seu bairro ou a Diretoria de Assuntos Municipais e Comunitários – Damco, pelos telefones (11) 3327-7755 / 3327-7756.

Joice Henrique

(AM)