Segurança: Caminho de Volta facilita retorno de menores ao convívio familiar

Projeto também procura identificar as causas do desaparecimento e trabalhar em sua prevenção

qua, 20/07/2005 - 13h22 | Do Portal do Governo

O projeto Caminho de Volta – que surgiu em setembro do ano passado decorrente de uma parceria entre a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e o Centro de Ciências Forenses da USP – já está sendo implantado no interior do Estado de São Paulo. O objetivo é facilitar a volta de crianças e adolescentes desaparecidos para suas casas e evitar futuros desaparecimentos.

Até agora, o Caminho de Volta foi implantado em cinco Deinters (Departamentos de Polícia Judiciária do Interior): São José dos Campos, Campinas, Bauru, São José do Rio Preto e Presidente Prudente. Nas três regiões restantes, Sorocaba, Santos e Ribeirão Preto, a implantação está em andamento.

Além da criação de um banco único de DNA, no qual as informações genéticas de pais que procuram seus filhos são cruzadas com as de cada criança que é localizada, o projeto também procura identificar as causas do desaparecimento e trabalhar em sua prevenção. Desde o início do ano, 4.052 crianças e adolescentes sumiram de suas casas; 705 ainda não voltaram.

No banco de DNA estão cadastradas 150 famílias – todas elas tiveram crianças desaparecidas após o lançamento do projeto. Não há nenhuma criança cadastrada. O seqüenciador de DNA, aparelho que processa e compara as informações genéticas, tem capacidade para duas mil amostras por semana. “Para a nossa expectativa, é um número pequeno”, diz Gilka Gattás, chefe do Departamento de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do projeto.

Para a delegada Márcia Ruiz, da 1ª Delegacia da Divisão de Proteção à Pessoa, “o importante é alcançar as famílias que tiveram pessoas desaparecidas antes do projeto. São poucas, mas a gente quer que elas façam parte”. O DHPP está tentando chamá-las por carta, mas muitas se mudaram e não deixaram o novo endereço.

Como o desaparecimento geralmente representa um trauma, o Caminho de Volta também oferece acompanhamento psicológico à família, tanto durante a busca quanto na reintegração do menor. Para Gattás, encontrar a criança não deve ser o único objetivo. “Tem que trabalhar a família, modificar… Temos que descobrir, no caso de crianças que fogem, o que é que tem naquela casa que faz com que a rua se torne mais atraente do que a casa”, observa.

Ruiz explica que a maior incidência de desaparecimentos está nas meninas de 13 a 18 anos: “Nesta idade, não é nem criança e nem adulto. Os pais ainda não deixam sair, namorar, viajar. Então é mais comum que elas fujam”. Em 2005, 1.570 das meninas desaparecidas estavam nesta faixa etária; 279 tinham de 8 a 12 anos; apenas 42, tinham menos de 8 anos.

E qual o motivo de o projeto focar apenas os menores de idade? “Há uma perspectiva de mudança no trabalho com o jovem e o adolescente. Com um adulto, eu só localizaria – não teria esse perfil de prevenção, o trabalho de acompanhamento das famílias”, diz Gattás.

Além do apoio e do diagnóstico específico a cada família, está sendo feito também um trabalho de campo. Para cada família que tenha registrado um desaparecimento, os psicólogos fazem outras duas entrevistas, mas com famílias que moram na mesma região, que tenham o mesmo nível socioeconômico e que tenham filhos na mesma faixa etária (e que nunca fugiram). “A gente quer saber o que acontece numa casa de onde a criança foge, e numa outra casa de onde não foge”, explica a professora da USP; “mapeando as razões, você começa a trabalhar a prevenção”, argumenta.

DNA

São vários os benefícios do DNA para este programa. Como as informações genéticas nunca mudam, é possível identificar a criança mesmo após muito tempo do desaparecimento. “Enquanto a pessoa não retorna, pode demorar 20, 30 anos, ela está no nosso banco de dados. Todas as informações que chegam, seja de criança encontrada em algum Conselho Tutelar, ou então em algum órgão público, a gente sempre checa para saber se essa criança está no nosso banco de dados”, explica a delegada.

O processo também poupa as famílias do desgaste emocional, quando há, por exemplo, alarmes falsos em outras cidades, ou quando o corpo de uma criança precisa ser identificado no Instituto Médio Legal (IML). “Alguns pais dizem que seria mais fácil trabalhar com a certeza de que o filho morreu do que com esse luto (pela incerteza) de não saber se o filho está vivo, morto, se está sofrendo, se casou”, comenta Gilka Gattás.

No entanto, “O banco (de DNA) não é isolado de todo o processo que deve existir na questão do desaparecimento infanto-juvenil. Para eu fazer o DNA e dizer que essa criança é tal, alguém tem que identificá-la”, ressalta a médica. Por isso, no Caminho de Volta há também um processo de envelhecimento de imagem para acompanhar as mudanças na fisionomia das crianças.

Desafios

O projeto ainda tem muito a ‘caminhar’. Em primeiro lugar, deve haver mais crianças cadastradas. É preciso colher o DNA de menores que estão em abrigos e dos que são levados ao IML tendo a filiação desconhecida. A integração dentro do Estado de São Paulo com o resto de País também é um fator importante para o sucesso do projeto. “As crianças migram: mudam de país, cidade, Estado”, diz a coordenadora do Caminho de Volta.

Da Secretaria de Segurança Pública

J.C.