Saúde: São Paulo muda a vacinação e não registra casos de raiva há três anos

Secretaria da Saúde é responsável pela distribuição de vacinas aos 645 municípios paulistas

sex, 23/07/2004 - 15h46 | Do Portal do Governo

Agosto é conhecido como o mês do cachorro louco. Ou pelo menos era no Estado de São Paulo, que não registra caso de raiva na população desde 2001. Esse resultado positivo dá-se em função, principalmente, de um novo tipo de tratamento, considerado o mais moderno do mundo, colocado em prática há quatro anos pela Secretaria Estadual da Saúde, responsável pela distribuição de vacinas aos 645 municípios paulistas. O Instituto Pasteur, órgão da secretaria que completa 101 anos também no mês de agosto, iniciou de forma coordenada a imunização contra a raiva em 1975. Na ocasião, era preciso receber cerca de 40 vacinas na barriga para ficar imune à doença depois de ser mordido por cão, gato ou morcego raivosos.

Atualmente, são necessárias apenas cinco doses no braço. Essas vacinas são aplicadas sob qualquer suspeita para impedir a aparição da doença. As doses são utilizadas em casos de pós-exposição (indivíduos que tiveram qualquer tipo de acidente com mamíferos). Também estão disponíveis em casos de pré-exposição a veterinários, funcionários de canis, laçadores de cães e turistas. Nesse último, são administradas apenas três.

Cachorros e gatos

A mudança de tratamento no ano 2000 ocorreu depois que a secretaria verificou a possível ocorrência de reações adversas neurológicas à antiga vacina, oriunda de cérebros de camundongos recém-nascidos. O Estado passou a importar um imunobiológico mais puro e de melhor qualidade, produzido em cultura de células, considerado o mais moderno do mundo.

Geralmente, em agosto as prefeituras realizam campanhas de vacinação destinadas a cães e gatos. Essas doses também são distribuídas pelo Instituto Pasteur. Porém, o perfil da doença tem mudado nos últimos cinco anos. Até 1998 a principal preocupação era com animais domésticos. “Desde então foram detectados 32 casos de raiva entre cães e gatos, praticamente todos provenientes de vírus encontrados em morcegos”, constata Neide Takaoka, diretora do Instituto Pasteur.

É importante que, na próxima campanha, a população leve cachorros e gatos aos postos para serem imunizados. Os felinos são predadores e estão sujeitos a morder um morcego contaminado. Há três anos, foi registrado o último óbito humano por raiva no Estado. Um gato caçou um morcego contaminado e contraiu a doença. A seguir atacou sua dona, que não procurou ajuda médica. No ano passado, cerca de 5,2 milhões de cães e gatos foram vacinados. A penúltima morte ocorreu em 1997.

Defesa agropecuária intensifica ações

O Escritório de Defesa Agropecuária de Guaratinguetá intensificou as ações de controle ao morcego hematófago, principal responsável pela transmissão da raiva em herbívoros. A doença não tem cura e traz prejuízos econômicos ao produtor rural. Nove equipes rastreiam os 18 municípios da região para orientar os produtores, localizar abrigos de morcegos hematófagos e reduzir a incidência da moléstia nos animais. Segundo Aluísio Ramos Ferreira, diretor do Escritório, em duas semanas de trabalho foram vistoriadas 751 propriedades nas cidades de Arapeí e Areias.

Foram localizados 36 abrigos e capturados 586 morcegos, que receberam a aplicação da pasta vampiricida e foram soltos. De acordo com a literatura, cada morcego que entra em contato com o veneno poderá eliminar até outros dez. Um morcego hematófago chega a chupar 30 ml de sangue/dia, provocando debilitação nos animais, além do risco da transmissão da raiva. A captura dos condutores é parte das atividades de defesa agropecuária desenvolvidas no Estado e está condicionada à vacinação obrigatória de bovinos e bubalinos, eqüinos, ovinos e caprinos em 18 regiões, nos meses de maio e novembro.

Vampiricida

Na etapa de maio, o índice de vacinação na região do Escritório de Guaratinguetá foi de 99,65%; em todo o Estado foi de 98,41%. O número de focos vem reduzindo ano a ano. Segundo o veterinário Vladimir de Souza Nogueira Filho, responsável pelo Programa Estadual de Combate à Raiva dos Herbívoros, da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, em 2002 foram registrados 207 focos e no ano passado 119 ante 43 de 2004.

A vacinação protege os animais quando atacados por morcegos contaminados. Notando apenas um ataque pequeno, o próprio criador pode fazer a aplicação da pasta vampiricida ao redor da mordedura. O morcego hematófago tem o hábito de retornar para sugar o sangue no mesmo local. Ao fazer isso, entrará em contato com a pasta, que provocará a sua morte.