A obstrução nasal provocada pela rinite alérgica, quando acomete pacientes em fase de crescimento, pode levar a várias alterações na face e na oclusão dentária, tais como bruxismo, olheiras e apinhamento dentário, além de distúrbios do sono.
A conclusão é da dissertação de mestrado da ortodontista Cláudia F. S. da Cunha Cintra, defendida junto à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), sob orientação do alergista, Prof. Dr. Fábio Morato Castro.
Segundo o estudo, a parte mais afetada é o osso alveolar na região nasal com reflexos na erupção dentária, o que muitas vezes pode provocar desarmonia nos dentes, principalmente as chamadas mordidas profundas (quando os dentes superiores praticamente cobrem os inferiores) e apinhamentos (dentes desalinhados).
A pesquisa foi realizada junto a 76 crianças, de 7 a 14 anos, que apresentavam rinite alérgica leve e moderada, atendidas no Hospital das Clínicas e no Centro de Saúde de Pinheiros.
Do universo pesquisado, 82% tinham obstrução nasal e, conseqüentemente, respiração bucal. Foram excluídos do estudo pacientes com desvio de septo e hipertrofia de amígdalas e de adenóide, outros causas que provocam obstrução nasal. Também foram descartados fatores que pudessem causar um comprometimento na oclusão.
O principal objetivo do trabalho foi mostrar que a rinite alérgica pode representar um fator complicador das alterações buco-faciais. Tanto é que 87% dos pacientes apresentaram olheiras profundas, 68% apinhamentos dentários, 67% tinham distúrbios do sono (agitação noturna e ronco) e 58% tinham o hábito de ranger os dentes, distúrbio conhecido como bruxismo.
Também foi observado que a freqüência das alterações era maior conforme a gravidade da rinite. A doutora Cláudia Cintra detectou, ainda, alterações relacionadas com a respiração bucal, como a mudança da direção de crescimento da mandíbula e o posicionamento incorreto dos dentes anteriores.
O surgimento das olheiras profundas nos pacientes com rinite alérgica é explicado pelo edema da mucosa nasal. O edema causa um acúmulo venoso na região dando aspecto escurecido embaixo dos olhos. O edema da mucosa nasal também aumenta o risco de maloclusão dentária. Por causa da diminuição da irrigação, a vascularização do osso alveolar fica prejudicada causando retenção prolongada ou queda precoce dos dentes decíduos (de leite) e desorganização dos dentes permanentes.
Já o bruxismo está associado ao edema na tuba auditiva. Durante o dia, a tuba é mantida aberta através da deglutição, mastigação, espirros e bocejos. Durante o sono, estas funções não ocorrem, exceto a deglutição salivar. Como a criança que respira pela boca durante a noite tem a cavidade bucal ressecada, a necessidade de deglutição diminui. Nesse caso, a função passa a ser substituída pelo ranger dos dentes, conseguindo dessa forma um meio de tornar aberta a tuba auditiva.
‘O estresse provocado pelos sintomas da rinite alérgica como obstrução nasal, espirros freqüentes, nariz coçando e escorrendo, também contribuem para o surgimento do bruxismo e interferem no rendimento escolar, devido à diminuição do poder de concentração’, acrescenta a ortodontista.
A doutora Cláudia Cintra ressalta que é imprescindível para corrigir o problema um tratamento que englobe todas as áreas. ‘A colocação de um aparelho nos dentes não irá resolver o problema. Os pais devem procurar também um alergista ou otorrino, que restabeleçam a função respiratória necessária para um correto crescimento e desenvolvimento craniofacial’, conclui a dentista.
Mais informações podem ser obtidas na Agência de Comunicação da FMUSP. Fone (011) 3032-1092
V.C.
