Saúde: Pesquisa torna mais precisa dieta para portadores de doença que causa retardo mental

Estudo foi apresentado em tese de doutorado da USP

qui, 02/10/2003 - 10h26 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP
Por Maurício Kanno

Os portadores da doença fenilcetonúria clássica (PKU) ganharam uma alternativa para melhorar seu tratamento, que é feito somente por meio da alimentação. É a determinação da quantidade exata de tomate que elas podem ingerir. Os fenilcetonúricos, como são chamados os portadores desta doença congênita, não podem ingerir muitas proteínas, com o risco de sofrerem retardo mental.

A PKU é causada pelo excesso no organismo de um aminoácido (parte de proteína), chamado fenilalanina. Isso ocorre pela deficiência de uma enzima, que tem o papel de transformar esse aminoácido em outro, a tirosina. Nos indivíduos portadores desta doença, a atividade dessa enzima é de menos de 1%.

Para definir a dieta de cada fenilcetonúrico, é preciso medir a quantidade de fenilalanina em cada alimento. As proporções do tomate foram encontradas pela nutricionista Fabiana Poltronieri, que determinou os números de conversão em sua tese de doutorado, apresentada à Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. Os números foram de: 23,8 miligramas do aminoácido por 100 gramas de tomate; e de 50 a 80 miligramas de extrato de tomate (dependendo da marca), por 100 gramas de extrato do fruto.

A escolha desse alimento, segundo a nutricionista, foi feita pensando-se em seu valor nutricional, por dar cor e sabor ao alimento e agregar minerais. Além disso, foi levada em conta a sua versatilidade gastronômica, já que pode ser usado como molho, salada etc. Assim, a nutricionista determinou o fator de conversão para o tomate tipo Débora, um dos mais consumidos no Brasil, e para cinco marcas diferentes de extrato de tomate.

Teste do pezinho

A fenilcetonúria clássica atinge uma a cada 12 mil pessoas em São Paulo, de acordo com pesquisas feitas em postos de saúde e berçários no fim da década de 1980. A doença não tem cura, exigindo um tratamento personalizado por toda a vida, para evitar danos ao Sistema Nervoso Central (SNC). Mas, segundo Fabiana, ele deve ser iniciado muito cedo, o que depende de um diagnóstico no máximo em uma semana após o nascimento da criança. É o ‘teste do pezinho’, obrigatório no Brasil desde 1990, pela gravidade da doença.

‘Os fenilcetonúricos são obrigados a manter uma dieta muito restrita, baseada principalmente em alimentos de origem vegetal, como frutas e verduras’, explica a nutricionista. ‘Já havia números de conversão para alimentos em geral e para os de origem vegetal. Entretanto, há diferenças entre cada alimento, sendo necessária uma precisão maior. Também não queremos que a pessoa se alimente com menos do que é possível, por exemplo, porque já tem que se alimentar muito pouco.’ Outro problema é a falta de dados no Brasil, diz a pesquisadora. Esse resultado ajuda a montar uma tabela de alimentos produzidos aqui.

A tese foi apresentada em agosto, no Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da FCF, sob orientação da professora Úrsula Marquez.

Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (xx011)9299-3999

V.C.