Saúde: Periferia de São Paulo ainda apresenta alta mortalidade infantil

Diferenças na qualidade de vida e no acesso à serviços são uma das causas

ter, 03/06/2003 - 10h16 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP
Por Juliana Kiyomura Moreno

Hoje, em todas as áreas da cidade predomina a mortalidade neonatal (até os 28 dias de vida), o que está diretamente relacionado com a questão da assistência à gravidez e ao parto

Nas áreas periféricas da cidade de São Paulo, a mortalidade infantil ainda representa um ‘excesso’ em relação às regiões centrais e intermediárias. Um estudo da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP mostra que os índices caíram de forma acentuada desde a década de 80 em todo o município. Porém, constata que as melhorias na qualidade de vida e acesso à assistência não acontecem de forma homogênea.

No estudo Evolução da Mortalidade Infantil no município de São Paulo nas últimas três décadas, o médico Rui de Paiva utilizou a divisão do município em regiões centrais, intermediárias e periféricas, levando em conta os dados do censo do IBGE de 1970, 1991 e 2000. Este critério baseia-se na quantidade de chefes de família com rendimento de até dois salários mínimos.

Segundo o pesquisador, teoricamente, a disponibilidade de serviços de assistência à saúde infantil e da gestante deveria ser a mesma, mas há uma diferenciação no atendimento em cada região da cidade. ‘Na prática isso significa que não temos eqüidade de assistência à gravidez e ao parto. Nessa última década, não avançamos para diminuir essas diferenças’, salienta Paiva.

Em 1973 a mortalidade infantil nas áreas periféricas em relação às centrais era de 100%. Hoje esse número caiu para a metade, o que ainda é excessivo. Em 2000, a pesquisa mostra que na área intermediária houve 20% mais mortes em relação à área central. ‘Isso mostra o imenso potencial de adaptação das populações às condições mais adversas. De qualquer forma, não deveria haver diferença nenhuma. Esse é o ideal de qualquer sistema de saúde que contemple a cidadania: assistência igual e de boa qualidade para todos’, lembra o médico.

A diferenciação, de acordo com Paiva, dá-se pelo fato de a maioria das ilhas de excelência estatais (como Hospital das Clínicas, Instituto do Coração, etc) estarem localizadas na região central. Além desta área ter maior poder aquisitivo, podendo optar pela medicina privada, as condições de vida da região periférica são mais áridas.

Mortalidade neonatal

O estudo mostra ainda que as doenças infecciosas passaram a ser uma causa menor da morte infantil. Hoje, em todas as áreas da cidade predomina a mortalidade neonatal (até os 28 dias de vida), o que está diretamente relacionado com a questão da assistência à gravidez e ao parto. ‘Não é só dizer que o problema é o pré-natal ou então quantos leitos de UTI neonatal faltam na cidade. É mais complexo: trata-se um problema também de qualidade dos programas que já existem, não somente de sua quantidade’, completa o pesquisador.

‘Hoje há um aumento de consultas de pré-natal, porém, ainda se verifica um grande número de crianças mortas por asfixia, o que é uma causa típica de má assistência durante o parto’, lembra Paiva.

De acordo com o pesquisador, atualmente há também esforços para uma assistência mais humanizada, além de ações mais concretas na direção da regionalização da assistência ao parto. ‘Nos países desenvolvidos essa questão da regionalização foi determinante na organização de uma assistência ao parto de melhor qualidade e maior eficácia na prevenção e tratamento de problemas típicos dessa fase crítica da vida: o momento do nascimento’, explica.

Uma das saídas para a diminuição cada vez maior das diferenças assistenciais seria o recrutamento de equipes capacitadas e atualizadas, com material e equipamentos adequados, prestando atendimento atento aos fatores de risco individuais e populacionais. ‘O mais importante seria o aprimoramento das técnicas e profissionais já existentes, amoldando-os às necessidades de cada área’, recomenda Paiva.

V.C.