Saúde: Operação recupera auto-estima de mulheres com tumor no seio

Cirurgia, paga pelo SUS, é feita com tecidos das regiões dorsal e abdominal da própria paciente

qui, 29/09/2005 - 11h01 | Do Portal do Governo

Na contra-mão da onda de cirurgias de colocação de silicone nos seios com fins puramente estéticos, o Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP realiza cerca de 50 operações ao ano para fazer a reconstrução mamária de mulheres que, devido a um tumor, tiveram suas mamas removidas (mastectomia). O cirurgião plástico que coordena o programa, Jayme Farina Júnior, afirma que, ‘além de melhorar o conforto físico, a reconstrução proporciona a retomada da auto-estima’.

Dois anos atrás, o Ambulatório de Reconstrução Mamária do HC operava anualmente cerca de dez mulheres. Um número muito abaixo de sua capacidade, pois o hospital possui estrutura física muito bem montada e trabalho de médicos e enfermagem especializados. De lá pra cá, fez uma intensiva divulgação do programa na mídia, o que atraiu mais interessadas da região.

Farina explica que ‘são normais os relatos de mulheres que após a mastectomia desenvolveram quadros de depressão e, com a auto-imagem afetada, começaram a ter problemas para se relacionar social e afetivamente’. Além dos problemas de ordem psicológica, a retirada da mama pode acarretar distúrbios na coluna ao alterar o ponto de equilíbrio do corpo, causando dores associadas a erro postural. Por este motivo, esse tipo de cirurgia é encarado de maneira bem diferente pelo Ministério da Saúde, sendo que o Sistema Único de Saúde (SUS) custeia todo o processo cirúrgico e o tratamento.

Reconstrução

As mulheres costumam chegar ao HC principalmente pelo encaminhamento dos postos de saúde. Já no Ambulatório de Reconstrução, passam por uma triagem pela Equipe da Cirurgia Plástica para saber se podem ser submetidas à operação: se tiverem algum comprometimento na região dorsal ou abdominal, por exemplo, podem não ser boas candidatas. ‘Algumas das mulheres acabam desistindo da reconstrução por medo ou trauma de cirurgia, embora em apenas cerca de 10% dos casos ocorram complicações’, conta o médico.

A mama é refeita com o próprio tecido da paciente, que pode ser retirado da região dorsal, do abdômen ou de outras áreas (menos comum). Farina explica que, dependendo da vontade da paciente, ‘pode ser associada uma prótese de silicone, também paga pelo SUS’. O ato cirúrgico pode durar de três a seis horas e a internação, aproximadamente uma semana. Após essa etapa são feitas uma ou duas intervenções para igualar os seios e reconstruir o complexo aréolo mamilar (aréola e bico do seio).

Os depoimentos das mulheres que passaram pelo procedimento confirmam o que o cirurgião diz: ‘Numa mistura de estética e reconstrução da parte do corpo que foi mutilada, devolve-se a elas o que lhes foi tirado, a auto-estima e auto-confiança’.

Renata Moraes
Agência USP

M.J.