Saúde: Novo composto químico pode combater Doença de Chagas

Remédios presentes no mercado são pouco eficientes, pois só funcionam na fase aguda da doença

qua, 04/08/2004 - 21h23 | Do Portal do Governo

A descoberta de um novo medicamento traz novas esperanças para o tratamento da Doença de Chagas. Trata-se do hidroximetilnitrofural, um novo composto químico desenvolvido a partir de uma pesquisa realizada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP.

No Brasil, só existe um medicamento eficaz contra o Tripanossoma cruzi, parasita causador da Chagas. Fora isso, os remédios presentes no mercado são pouco eficientes, pois só funcionam na fase aguda da doença.

Em sua tese de doutorado apresentada na FCF, a pesquisadora Chung Man Chin, mostra a eficiência que o composto químico nitrofural apresenta em exterminar o Tripanossoma cruzi. ‘O nitrofural é usado como um antimicrobiano tópico, devido ao seu alto grau de toxicidade, mas apresenta alta atividade contra o parasita’ diz Chung. Dessa forma, a proposta era diminuir essa toxicidade para que o composto pudesse ser utilizado por via oral e para o tratamento durante a fase crônica da doença. Para isso, Chung modificou a molécula de nitrofural, provocando uma alteração que aumentasse a seletividade para o parasita.

O nitrofural possui uma ação mutagênica elevada e baixa solubilidade, o que faz com que ele tenha de ser consumido em grandes quantidades. Esse é o motivo da toxicidade dessa substância, que pode causar hemólise (quebra das células sanguíneas), muito desconforto, doenças nervosas, entre outras coisas. ‘Não existem fármacos sem efeitos colaterais adversos, mas a idéia é diminuí-los ao máximo’ diz Chung, que constatou que, entre os derivados sintetizados, o hidroximetilnitrofural foi o mais ativo em testes realizados em células in vitro e o que apresentou menos toxicidade .

Chung continua suas pesquisas na Unesp, onde é professora, utilizando o sistema Adept, uma terapia que une anticorpos e fármacos (neste caso o hidroximetilnitrofural) para aumentar o grau de seletividade e fazer com que a substância aja somente contra o parasita. Depois de sintetizar e fazer os testes in vitro, ela está realizando os testes pré-clínicos (em ratos) que mostrarão se o hidroximetilnitrofural é realmente eficaz no tratamento da doença.

Mais de 15 milhões de doentes

Hoje em dia, segundo a professora Elizabeth Igne Ferreira, orientadora de Chung, estima-se que de 16 a 18 milhões de pessoas estejam infectadas e que ocorram cerca de 50 mil mortes a cada ano, nos países da América em que a doença existe.

Quando o parasita entra em contato com a corrente sanguínea da pessoa contaminada, se aloja nas células musculares e as destrói. A principal conseqüência disso é o crescimento anormal do coração, que, por causa do tecido lesionado, sofre de insuficiência cardíaca e precisa compensar a lesão aumentando seu tamanho.

A doença se manifesta em três fases: aguda, intermediária e crônica, sendo que os sintomas só aparecem na última. ‘Os medicamentos que existem só atuam na fase aguda, que, por ser assintomática, quase nunca é detectada’ explica Chung, sobre as dificuldades de cura da Chagas. ‘Da contaminação até a manifestação clínica do mal, pode levar 20 anos’, continua.

Yara Camargo – Agência USP