Saúde: Nasce bebê operado dentro da barriga da mãe

Cirurgia foi realizada no hospital da Unicamp

ter, 02/03/2004 - 11h41 | Do Portal do Governo

Do Portal da Unicamp
Por Delma Medeiros

Nasceu ontem, de cesárea, o bebê que foi submetido a uma rara cirurgia intra-uterina para correção de um defeito congênito. O menino nasceu com 35 semanas, pesando 2,2 quilos e passa bem.

Ele ainda precisa passar por avaliação de um neurocirurgião e deve permanecer por um ou dois dias em observação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mas respira espontaneamente, segundo o ginecologista e obstreta Ricardo Barini, professor livre docente da Disciplina de Obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, e coordenador da equipe que acompanha o caso.

O bebê foi submetido a uma cirurgia intra-uterina em dezembro passado, por ser portador de mielomeningocele (defeito congênito que se caracteriza por abertura na parte posterior da coluna vertebral), cuja seqüela principal é a hidrocefalia (acúmulo de água no cérebro). A mãe do bebê tem 19 anos, mora em Aguaí, e teve ontem seu segundo filho. O primeiro nasceu sem nenhum problema.

Barini explica que a enfermidade foi detectada por exames de ultrassonografia e ressonância magnética quando o feto estava na 19ª semana de gestação, sendo encaminhado à Unicamp, um dos únicos centros do País a realizar o procedimento.

Segundo o médico, a cirurgia tem o objetivo de evitar a hidrocefalia, mas só pode ser realizada em casos específicos: até 25 semanas de gestação; após avaliação do estado clínico da mãe, que não pode ter qualquer alteração; dependendo do local da lesão (se for na região lombar, na parte anterior à bacia); e desde que o bebê não apresente nenhum outro problema. O caso atendia às indicações e o bebê pôde ser operado a céu aberto (com o corte do abdomen e útero da mãe, para intervenção diretamente no feto) na 24ª semana de gestação.

Esta é a segunda intervenção do tipo realizada na Unicamp, mas a primeira com sucesso total. A primeira cirurgia intra-uterina do Caism ocorreu em dezembro de 2002, mas houve o descolamento da placenta e o bebê faleceu ao ser recolocado no útero da mãe.

O procedimento é realizado há 6 anos, especialmente nos Estados Unidos, com cerca de 160 cirurgias realizadas. No Brasil, além da Unicamp, foram feitas duas cirurgias pela Escola Paulista de Medicina. Segundo Barini, a novidade é que esta foi a primeira cirurgia em que o bebê ficou mais tempo no útero (35 semanas). “O tempo decorrido entre a cirurgia fetal e o nascimento, neste caso, pode ser um recorde, considerando que a maioria das crianças submetidas ao procedimento nasce com até 32 semanas”, entusiasma-se Barini.

De acordo com o médico, se não for feita antes do nascimento, a cirurgia para fechamento da coluna tem que ser realizada logo após o parto. Mas, neste caso, a grande maioria das crianças já tem hidrocefalia e precisa ser submetida a outra cirurgia, para colocação de uma válvula que desvia o líquido da cabeça para a barriga.

“A válvula é propensa a obstruir e infectar e aí é necessário outra cirurgia, o que pode prejudicar o desenvolvimento da criança”, diz Barini. Ele frisa que o objetivo da cirurgia intra-uterina é evitar a hidrocefalia, mas mesmo assim a criança precisa de acompanhamento específico, já que a mielomeningocele em geral acarreta deficiência motora das pernas e de controle do esfincter (que controla funcionamento da urina e intestino).

Segundo o médico, os resultados dos exames de controle da gravidez indicam que o procedimento intra-útero foi bem-sucedido.

Mais informações podem ser obtidas no site: www.unicamp.br
V.C.