Saúde: Método desenvolvido pela Medicina da USP facilita diagnóstico de hantavirose

Estudo foi realizado pela equipe do Centro de Pesquisa em Virologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

qui, 09/09/2004 - 11h37 | Do Portal do Governo

Uma proteína de hantavírus, empregada em testes sorológicos para diagnosticar casos de hantavirose, está sendo patenteada pela USP. Antes, o diagnóstico só era possível com antígenos (substância que estimula a produção de anticorpos) importados dos Estados Unidos e da Argentina. O estudo foi realizado pela equipe do Centro de Pesquisa em Virologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

“Pretendemos tornar o diagnóstico dessa doença mais fácil e rápido”, comenta o professor Luiz Tadeu Moraes Figueiredo, coordenador da pesquisa. Até então, só o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e o Instituto Evandro Chagas, de Belém (PA) faziam essa detecção, com material doado por centros de pesquisa do exterior.

O desenvolvimento da substância só foi possível após a identificação da variante de hantavírus responsável pelos casos da grave Síndrome Pulmonar e Cardiovascular por Hantavírus na região de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. “Encontramos apenas hantavírus da variante Araraquara, mas ainda não descartamos a hipótese de existirem outras, talvez até causando infecções assintomáticas ou doença mais branda”, informa o pesquisador.

Diversas variantes têm sido localizadas no continente americano. Nos Estados Unidos, são comuns o Sin Nombre, o New York e o Bayou; na Argentina, o Andes; na Bolívia, o Rio Mamoré; e no Paraguai, o Laguna Negra. No Brasil, foram identificadas a Juquitiba, Araraquara, Castelo dos Sonhos e Anajatuba.

Doença nova

A identificação da variante local do hantavírus e a produção do antígeno são resultados de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida desde 1998, quando os primeiros casos da Síndrome Pulmonar foram observados. “Como era uma doença nova, os médicos tinham dificuldade em diagnosticá-la a tempo. Então resolvemos estudar suas características clínicas, a fim de estabelecer formas mais eficientes de identificação.”

A equipe do professor tinha criado um fluxograma para auxiliar no diagnóstico. “Se um paciente jovem ou adulto, antes saudável, começa a ter febre e falta de ar, deve-se realizar imediatamente um radiografia do tórax. Quando os dois pulmões estão comprometidos com pneumonia, o médico deve pedir um hemograma”, indica o professor. Se o exame apontar redução de plaquetas e concentração de hemácias, o paciente é diagnosticado clinicamente como Síndrome Pulmonar e Cardiovascular por Hantavírus e encaminhado para hospital com recursos de terapia intensiva.

Figueiredo explica que também foi necessário fazer um trabalho alertando os profissionais da terapia intensiva na região. Porque, ao contrário de outras doenças em que o paciente em choque pode ser hidratado com grandes quantidades de líquido para se recuperar, na Síndrome isso pode ser fatal. Nela, o líquido do sangue vai para o pulmão, que causa insuficiência respiratória. Se o doente receber muito líquido, o pulmão se encherá ainda mais, agravando o problema, levando-o à morte. “Quando o enfermo tem insuficiência respiratória, também surge o choque, a pressão arterial vai a zero e o coração começa a bater mais fraco. Nesse caso, orientamos para que receba drogas que ajudam o coração a voltar ao ritmo”, esclarece.

Diagnóstico precoce garante sobrevivência

A constatação da hantavirose é fundamental para garantir a chance de sobrevivência. “De dois a sete dias após o início dos sintomas, o doente pode desenvolver incapacidade pulmonar fortíssima, agravada pela falência cardíaca, e morrer. Se for diagnosticado cedo, é encaminhado à terapia intensiva antes que o quadro piore.”

Até hoje, foram identificados cerca de 400 casos no Brasil. Só na região de Ribeirão Preto, 31, dos quais mais de 50% causaram óbitos. O mal atinge, principalmente, pessoas em contato com o meio rural e é contraído pela inalação de poeira contendo resquícios da urina e das fezes de roedores do campo. O mais comumente infectado pelo vírus Araraquara é o Bolomys laziurus, conhecido como rato do rabo peludo, para quem o vírus é aparentemente inofensivo.

Márcia Blasques – Especial para a Agência USP Da Agência Imprensa Oficial

(AM)