Saúde: Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC precisa de doadores de ossos

No ano passado foram realizados mais de cem transplantes ósseos no IOT

qua, 18/02/2004 - 12h03 | Do Portal do Governo

Maria Ângela Rocha da Silva, 41 anos, mora em Cubatão, município próximo ao litoral, mas não consegue ir à praia. Também não pode trabalhar, nem estudar. Teve de deixar o emprego há cinco anos e ficar em casa. Portadora de artrite reumatóide infanto-juvenil, aguarda, há cinco anos, por um tipo de doação que muita gente desconhece. Maria Ângela faz parte das cerca de 300 pessoas que estão na fila de espera para recebimento de um transplante ósseo, no Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Quem informa o número é a coordenadora de Enfermagem do Banco de Tecidos do IOT, Arlete M. M. Giovani.

A prótese do fêmur direito de Maria Ângela deve ser removida, e o local preenchido com novo tecido ósseo. A do esquerdo também está ultrapassada. Isso a prejudica em tudo: “Moro em apartamento sem elevador e tenho dificuldade para subir e descer escadas; também não consigo tomar ônibus, nem van, sem que alguém me acompanhe. Fora a dor que sinto”.

Além da falta de doadores, outro problema é o preconceito em relação à doação, afirma o coordenador do Banco de Tecidos e chefe do Grupo de Artroplastia do instituto, Dr. Alberto Tesconi Croci. “As pessoas doam coração, pulmão, rins, mas osso não. Existe uma grande recusa em razão de preconceito. A família tem a idéia de que vamos desmanchar o cadáver e entregar alguma coisa disforme, amorfa. Ao contrário, depois da retirada de alguns ossos, a gente reconstrói o corpo”, explica.

Mais de 100 transplantes em 1 ano

O IOT realizou, no ano passado, mais de cem transplantes ósseos, a maioria revisões (novas cirurgias), e cerca de 80% desses casos pertencem ao grupo de artroplastia (reconstrução de articulação) de quadril.

Segundo o dr. Alberto Croci, para cirurgias iniciais, como prótese comum de quadril e joelho, não há necessidade do Banco de Tecidos, que serve exatamente para tratar das complicações de procedimentos a longo prazo. Ele usa a analogia das obturações dentárias para explicar melhor o que ocorre. Uma obturação não dura a vida toda e, ao ser trocada, deverá ser maior do que a anterior.

“Enquanto tiver massa óssea da própria pessoa, não é preciso usar um complemento. Quando não há outra opção, utiliza-se um enxerto de banco”, compara.

Os doadores são pessoas com morte cerebral constatada (por dois médicos e exames complementares). “Não existem a falha e a possibilidade de achar que a pessoa que está na UTI teria alguma chance de vida”, garante o médico. Normalmente, são vítimas de traumatismo craniano, ferimentos por arma de fogo, acidentes motociclísticos, automobilísticos, que entraram em coma.

O doador não pode ter ficado muito tempo na UTI (porque tem mais riscos de infecção secundária), morrer de doenças infecto-contagiosas, receber muitas transfusões de sangue, nem passar por grandes procedimentos cirúrgicos.

A faixa etária indicada, segundo Arlete Giovani, é dos 18 aos 55 anos. Crianças não têm maturidade óssea, e idosos apresentam possibilidade de desgaste da massa. Se o doador expressou em vida o desejo de doar, mas a família se recusa a fazê-lo, a possibilidade de doação é descartada.

A maioria dos tecidos ósseos vai para os casos de revisões de artroplastia do quadril ou joelho, causadas pelo desgaste da prótese existente. O segundo grupo de receptores é o das pessoas submetidas a extirpações de grandes tumores – em geral, é constituído de crianças e adolescentes. O terceiro é formado por pessoas que tiveram lesão de ligamento do joelho e passaram por uma cirurgia, que falhou, ou então houve nova lesão. O outro grupo é o das pessoas que têm escoliose (curvatura) grande na coluna e necessitam de um enxerto.

Ossos congelados até 5 anos

Um adolescente com tumor maligno que se submete a quimioterapia não pode esperar. Faz parte das exceções, e vai para o começo da fila do Banco de Tecidos, que é única, valendo somente para o IOT do Hospital das Clínicas.

Quando há um provável doador, o hospital notifica a Central de Transplantes. Ela aciona a Organização de Procura de Órgão (OPO) mais próxima, que entra em contato com a família para confirmar a doação. Posteriormente, cada equipe de captação é chamada para retirar os órgãos e tecidos.

Os ossos captados são levados para o centro cirúrgico do Banco de Tecidos e passam por preparo, para qualificar o tecido, afastando qualquer contaminação. Depois, é congelado a 80 graus negativos, permanecendo no freezer por, no mínimo, 45 dias. Antes de ser liberado, é necessário verificar se todos os exames (para doenças infecto-contagiosas) estão negativos, assim como o exame de cultura de germes, fungos, bactérias e anatomopatológico. Os ossos podem ficar congelados até cinco anos.

O serviço de transplante ósseo do IOT existe desde 1952, mas não nos mesmos moldes do que é feito atualmente. Os ossos basicamente utilizados são os dois fêmures, calcâneos e tíbias. Mas, tecnicamente, qualquer osso pode ser utilizado para transplante.

SERVIÇO
Dúvidas sobre doação de ossos, consulte:
Banco de Tecidos do IOT-FMUSP
Tel.(11) 3069-6776 ou
banco.tecidos.iot@hcnet.usp.br

Paulo Henrique Andrade
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)