Saúde: Identificadas proteínas que podem desenvolver vacina contra a leptospirose

Mapeamento genômico da bactéria foi realizado por pesquisadores da rede Onsa

seg, 12/04/2004 - 10h01 | Do Portal do Governo

O encerramento do seqüenciamento do genoma da bactéria Leptospira interrogans sorovar Copenhageni é mais um passo na longa jornada para descobrir uma vacina para o combate à leptospirose. “O trabalho abriu caminhos importantes. Depois da análise de mais de duas mil proteínas, por meio de ferramentas de bioinformática, chegamos a um grupo de 23, todas de superfície e candidatas importantes para o desenvolvimento de uma vacina”, explica Ana Lúcia Tabet Oller do Nascimento, do Instituto Butantan e coordenadora do projeto.

A proteína, que vive na superfície da bactéria, é responsável pela interação com o hospedeiro. A bactéria causa a leptospirose, doença que ataca seres humanos nos países subdesenvolvidos e animais nas nações mais ricas do mundo. O mapeamento genômico da Leptospira foi realizado por pesquisadores da rede Organização para Seqüenciamento e Análise de Nucleotídeos (Onsa), mantida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Fundação Oswaldo Cruz da Bahia.

Ana Lúcia não apresentou apenas os resultados científicos do projeto. As 23 proteínas motivaram um pedido de registro ao Escritório de Patentes e Marcas dos Estados Unidos. “Fui responsável pelo manuscrito, que foi bastante complicado. Um dos problemas, por exemplo, foi com relação aos nomes das 23 proteínas. Não poderiam ser códigos. Com base nos critérios científicos, tivemos de nomear uma a uma”, conta a coordenadora.

Como o processo de análise é demorado, os cientistas brasileiros não esperam resposta antes do próximo ano, mas estão convencidos de que a patente será dada sem transtornos. “O pedido está disponível no site do Escritório de Patentes. E o documento sob registro número 20040022802, protocolado no dia 5 de fevereiro, pode ser consultado no endereço eletrônico www.uspto.gov.”

Se o caminho em busca da proteção total das 23 proteínas foi demorado, o da vacina será mais longo ainda. São estudos, testes de laboratórios em roedores, análises e mais análises que deverão demorar cerca de dez anos. “É como procurar uma agulha no palheiro. Mas agora, pelo menos, essa busca pode ser feita com foco, a partir dos resultados que já obtivemos.”

Livre acesso

Ana Lúcia esteve terça-feira na sede da Fapesp, em São Paulo, participando do evento que comemorou a publicação do seqüenciamento no Brazilian Journal of Medical and Biological Research. Na mesma ocasião foi celebrada a inclusão da 120ª revista na Scientific Electronic Library Online (SciELO), biblioteca eletrônica criada em 1997 pelo convênio da Fapesp com o Centro Latino-Americano e do Caribe de informação em Ciências da Saúde (Bireme).

“SciELO é o evento mais importante que já ocorreu no Brasil em termos de comunicação científica”, afirma o norte-americano Lewis Greene, um dos editores da Brazilian Journal of Medical and Biological Research e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). A SciELO ultrapassou a marca de 120 revistas científicas cadastradas no seu banco de dados, todas disponíveis para pesquisadores e para o público em geral, no site www.scielo.br.

“A importância do livre acesso nos dias de hoje é intensa. Nos Estados Unidos, por exemplo, as revistas que oferecem esse tipo de serviço fazem isso seis meses após a publicação e não de forma imediata, como ocorre aqui”, frisou Eduardo Moacyr Krieger, presidente da Academia Brasileira de Ciência. Segundo Roberto Meneghini, um dos idealizadores da SciELO, o limite qualitativo da biblioteca deve ficar entre 130 e 160 revistas. “Temos um comitê científico criterioso para a aprovação dessas publicações.” A expectativa de Meneghini é que a biblioteca virtual criada no Brasil – e que hoje está presente com versões localizadas em Cuba, Espanha e Chile – possa ser oferecida em outros países.

Eduardo Geraque – Da Agência Fapesp
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)