Saúde: Hospital das Clínicas desenvolve tecnologia para diagnóstico precoce da hanseníase

Doença continua sendo um sério problema de saúde pública no Brasil

qui, 14/07/2005 - 11h29 | Do Portal do Governo

A Divisão de Farmácia do Instituto Central do Hospital das Clínicas (ICHC), da Faculdade de Medicina da USP, desenvolve tecnologia e acondiciona a histamina 1/1000 em capilares de vidro, para facilitar o diagnóstico precoce da Hanseníase – moléstia que coloca o Brasil em primeiro lugar no ranking mundial de doentes. São 45 mil novos casos a cada ano.

A histamina é capaz de identificar acometimento do sistema nervoso periférico pelo bacilo de Hansem, em até um minuto, quando aplicada sobre a pele manchada ou áreas dormentes.

O acondicionamento da substância em capilares de vidro, semelhante ao utilizado há cerca de 30 anos atrás, dispensa o uso de seringa e agulha, evita sangramento e reduz os riscos de contaminação microbiana da histamina. O resgate da técnica proporciona aplicação simples e custo mais acessível. Hoje o ICHC gasta R$ 1,72 por unidade.

Pelas facilidades, o Instituto Central do Hospital das Clínicas coloca a tecnologia à disposição de empresas interessadas na realização de parceria para a produção do produto, em uso há três meses pelo hospital.

A produção da substância em escala, segundo Waldemir Rezende, diretor-executivo do Instituto Central do Hospital das Clínicas, viabilizará o diagnostico e o tratamento precoce da doença pelas Unidades Básicas de Saúde, hospitais públicos e privados e consultórios particulares de todo o Brasil. Além de ser economicamente viável para o governo, com a provável redução de custos no tratamento dos pacientes.

Dos casos diagnosticados, 75% apresentam algum grau de incapacidade física devido ao diagnóstico tardio e 20% encontram-se na fase inicial da doença. As crianças são responsáveis por 8% dos casos. O Estado paga, em média, 20 dólares por mês para o tratamento do paciente contagiante, que leva de 12 a 24 meses, e 10 dólares mensais, durante 6 meses, para o tratamento do paciente não contagiante ou em fase inicial da doença, adiantou a dra. Leontina da Conceição Margarido, da Clínica Dermatológica do Hospital das Clínicas e responsável pela pesquisa.

Para agravar ainda mais esse quadro, segundo a doutora, um doente contagiante produz cerca de cinco novos casos por ano. Muitos iniciam o tratamento e abandonam, facilitando a disseminação de bacilos resistentes às medicações atuais e aumentando a problemática nacional.

Teste

A realização do diagnóstico com a histamina em capilar também não exige a presença de um médico. Ele pode ser realizado por pessoa bem treinada a reconhecer os sinais precoces da moléstia. O teste consiste na quebra das extremidades do capilar de vidro. Uma picada superficial da área afetada e também da área aparentemente normal, próxima à lesão, com o próprio capilar, colocará a histamina em contato com os filetes nervosos da pela e desencadeará na pele normal, reação de vasodilatação, caracterizada pelo aparecimento de cor avermelhada ampla. Reação incompleta no local manchado denuncia a presença do bacilo de Hansen.

Para colocar em prática a tecnologia, a farmácia desenvolveu metodologia de envase que permite o acondicionamento da histamina sob fluxo laminar.

Na produção, o capilar passa por processo de lavagem, secagem e despirogenização em estufa a temperatura de 250ºC por 60 minutos.

Em seguida, sob fluxo laminar, a ponta do capilar é imersa na solução estéril de histamina 1/1000, acondicionada em frasco-ampola, para o preenchimento do capilar em até 2/3.

Com o auxílio de uma pinça, as extremidades do capilar são fechadas, utilizando o maçarico da máquina de encher ampolas.

No final da produção, o capilar é submetido aos processos de revisão, integridade e controle de esterilidade. Após, é acondicionado em frasco de vidro, revestido com papel alumínio e rotulado.

A produção no ICHC é de 500 unidades/dia, pelo método artesanal, informou Sônia Cipriano, diretora da Divisão de Farmácia do Instituto Central. A substância é utilizada pela Clínica Dermatológica no diagnóstico de pacientes e em mutirões promovidos junto às favelas, onde se predomina a doença. Em 2004, de 874 pessoas examinadas, 57 apresentaram a doença.

Hanseníase

O mal de Hansen continua sendo um sério problema de saúde pública no Brasil. É uma moléstia infecto-contagiosa causada pelo bacilo de Hansen (microbactéria neurotrópica), que se multiplica nos macrófagos de pessoas com déficit imune celular especifico.

Inicialmente a doença acomete o sistema nervoso periférico e depois todas as outras áreas, exceto o sistema nervoso central (cérebro). Muitos pacientes ficam incapacitados por atingir especialmente o seu sistema neuro-muscular; além de apresentar deformações no nariz, olhos, testículos e outros órgãos, esclareceu a dermatologista.

Cerca de 80% da população é resistente ao bacilo de Hansen. A principal forma de contágio é o contato humano. Os bacilos são eliminados pelas secreções nasais, lesões ulceradas, materno, esperma, saliva, suor e lágrima. Já o maior risco de contágio é a convivência domiciliar com o doente.

O período de incubação da moléstia é de 3 a 5 anos, em média, e os sintomas: neurite, rinite, artralgia/ artrite e até manchas ou placas na pele, confundida muitas vezes com micose ou provocada pela exposição aos raios solares. A moléstia ocorre em qualquer camada social, mas predomina-se nas camadas socioeconômicas mais baixas.

Instituto Central do Hospital das Clinicas
Assessoria de Imprensa