Saúde: Flor que enfeita salada previne doenças

Estudo foi realizado por aluna da Unicamp

ter, 23/09/2003 - 13h06 | Do Portal do Governo

do Portal da Unicamp
Por Manuel Alves Filho

Se o leitor está entre as pessoas que consomem tomate regularmente por saber que o fruto contém um tipo de carotenóide, o licopeno, que está associado à proteção contra doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer, sobretudo o de próstata, pulmão e estômago, uma boa notícia: a melancia oferece quantidade semelhante da mesma substância.

Outro dado alvissareiro é que uma flor comestível de nome popular Capuchinha ou Nastúrcio, normalmente usada para adornar saladas, é rica em outro carotenóide, a luteína, que está relacionada com a prevenção de doenças como a catarata e a degeneração macular, principal causa de cegueira entre pessoas com mais de 55 anos.

As constatações estão na dissertação de mestrado de Patrícia Yuasa Niizu, defendida junto à Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. Mais do que trazer boas novas, o trabalho pode servir de instrumento para orientar eventuais programas que vinculem alimentação e proteção à saúde humana.

Carotenóides são pigmentos amplamente distribuídos na natureza, responsáveis pelas cores laranja, amarela e vermelha das frutas, verduras, flores, alguns peixes e pássaros, bactérias, algas, fungos e leveduras. Embora não haja uma recomendação ‘formal’ quanto à quantidade a ser consumida, alguns estudos apontam que a ingestão ‘prudente’ dessas substâncias auxilia no fortalecimento do sistema imunológico e na redução de doenças degenerativas, como as do coração, da visão e certos tipos de câncer. De acordo com Patrícia, existem pesquisas que apontam que cinco porções de frutas e verduras ao dia seriam adequadas para proporcionar ganhos à saúde.

Pensando nisso, a autora da dissertação resolveu investigar um pouco mais sobre os carotenóides em flores, folhas e frutas. A primeira constatação da pesquisa, orientada pela professora Delia B. Rodriguez-Amaya, foi que a melancia contém praticamente a mesma quantidade do licopeno presente no tomate.

De acordo com Patrícia, esse dado é praticamente desconhecido da população em geral, em virtude, entre outros fatores, do maior ‘status’ adquirido pelo primeiro alimento, principalmente por causa do marketing feito pelas indústrias que processam o fruto. ‘Acredito que essa informação seja relevante, pois abre perspectiva para que as pessoas diversifiquem sua alimentação, sem abrir mão de substâncias importantes para a manutenção da saúde. A melancia, como se sabe, é uma fruta relativamente barata e que está disponível para consumo o ano todo e no mundo inteiro’, afirma.

Em seu trabalho, Patrícia comprovou também que a Capuchinha é rica em luteína, dado igualmente ignorado até então. O aspecto curioso dessa descoberta é que a flor, embora seja comestível, tem um uso mais decorativo do que nutritivo. ‘Por ser bonita e apresentar cores como o amarelo, o laranja e o vermelho, ela é mais utilizada para enfeitar saladas. Entretanto, se for consumida em níveis prudentes, a Capuchinha pode contribuir para prevenir doenças graves da visão, como a degeneração macular e a catarata’, explica a autora da dissertação.

O único fator que depõe atualmente contra a Capuchinha é que, a exemplo de outras flores comestíveis, ela é cara, pois está associada a pratos refinados. Disponível nas gôndolas de supermercados, seu preço não está a alcance de muitas famílias brasileiras. ‘Mas esse problema pode ser contornado. Essa flor é de fácil cultivo. Pode ser plantada no quintal, como parte da horta doméstica. Além disso, tem um sabor bom, parecido com o do agrião. Em uma viagem recente a Portugal, minha orientadora constatou que a Capuchinha é tão abundante que divide espaço com o mato’, conta Patrícia.

A Capuchinha, conforme a pesquisadora, poderia substituir uma outra flor, de nome Marigold. Embora não seja comestível, esta última é utilizada na composição da ração do frango. A luteína presente na Marigold reforça a coloração amarela tanto da pele da ave quanto da gema do ovo. Num outro capítulo de sua dissertação, Patrícia investigou os carotenóides presentes nos alimentos mais consumidos pelos brasileiros, em saladas cruas. Foram analisados: alface lisa, alface crespa, agrião, almeirão, rúcula, cenoura, tomate e pimentão, sendo que este último não demonstrou ser tão rico nessas substâncias. As demais, porém, apresentam quantidades significativas dos compostos naturais, fato que recomenda a sua inclusão na dieta alimentar cotidiana dos brasileiros.

‘Atualmente, vários estudos científicos buscam identificar a associação entre alimentação e proteção à saúde. Minha expectativa é que meu trabalho ajude nesse esforço. O consumo dos vegetais analisados na dissertação pode ser importante não apenas para incentivar a ingestão de carotenóides, mas de outras substâncias que concorrem para a proteção contra várias enfermidades’, afirma Patrícia, que contou com bolsa da Capes e do CNPq. Na edição passada, o Jornal da Unicamp publicou reportagem sobre a dissertação de mestrado da nutricionista Renata Maria Padovani, que também teve como objeto os carotenóides.

De acordo com o estudo, a disponibilidade de carotenóides nos grandes centros urbanos brasileiros não é suficiente para garantir à população a ingestão em níveis prudentes dessas substâncias. Para conduzir a sua pesquisa, a nutricionista levou em consideração o consumo de alimentos por faixa de recebimentos (renda) de moradores de nove regiões metropolitanas e mais dois municípios. Embora as frutas, legumes e verduras sejam abundantes no Brasil, esses alimentos não são adquiridos nas quantidades desejáveis pelas famílias brasileiras, segundo Renata.

Mais informações podem ser obtidas no site www.unicamp.br

V.C.