Saúde: Feiras livres não apresentam condições ideais de higiene para funcionamento

A constatação é de uma pesquisa Faculdade de Saúde Pública da USP

sex, 31/01/2003 - 19h56 | Do Portal do Governo

A biomédica Soraya Garcia Audi, que analisou algumas feiras livres na cidade de São Paulo, chegou a uma certeza: nenhuma delas apresenta condições ideais de higiene para funcionamento. Soraya defendeu sua dissertação de mestrado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP sobre as condições de 50 feiras divididas entre as quatro regiões da Capital.

Como base para a análise, a pesquisadora utilizou a Lei 25.545, promulgada em 1988 na cidade. Criada para ser uma espécie de guia de conduta das feiras, a lei estabelece uma série de normas para seu funcionamento, incluindo localização, produtos comercializados e trajes dos vendedores.

Pela Lei, as feiras não podem estar localizadas a menos de 100 metros de hospitais, escolas, postos de combustível e igrejas. ‘Já neste aspecto, verificaram-se as primeiras irregularidades: 12% estavam próximas de hospitais, 26% de escolas, 16% de postos e 14% de igrejas. Em alguns casos, vimos água residuária hospitalar correndo para onde estavam as barracas’, cita Soraya. Ainda contrariando a lei, menos de 15% das barracas apresentavam sua licença de funcionamento, que deve estar localizada em local visível.

A presença de ambulantes também era realidade em todas as feiras, e vendendo dos produtos mais diversos. ‘Mesmo proibidos pela lei, eles circulam livremente. Em uma feira, havia um que comercializava medicamentos, sem nenhum controle’, aponta a pesquisadora. A lei proíbe a presença destes vendedores, que deveriam possuir licença da prefeitura para exercer a atividade.

A lei também é ignorada pelos feirantes com seus trajes. Nas observações, Soraya constatou um grande número de comerciantes com roupas inadequadas, como bermudas, e acessórios, como colares, pulseiras, anéis e maquiagem. Pela lei, o feirante deve estar com um avental específico para a atividade, e apenas um percentual ínfimo deles possuíam a roupa. Botas também são exigidas, mas ‘pouquíssimos estavam calçados corretamente; encontramos por muitas vezes as pessoas trabalhando descalças’.

Péssima higiene

Mas nada foi tão negativo quanto o que Soraya verificou no comércio de alimentos de origem animal. ‘Praticamente nada estava em condições de ser comercializado. A maior parte dos alimentos não estava refrigerado, e a higiene era péssima. Em alguns casos, vimos grandes quantidades de moscas sobre o que era vendido’, conta. O comércio de peixes mostrava irregularidade principalmente na falta de refrigeração dos produtos: em menos de 8% das barracas os peixes estavam recobertos com gelo picado, como determina a lei. A falta de refrigeração também era uma constante na venda de frangos, que tinham menos de 30% dos produtos refrigerados. Além deste problema, o comércio de frango contrariava a lei com a venda de animais fracionados.

Com os alimentos de origem vegetal, problemas não menos alarmantes. Os recipientes que continham água usada para a lavagem de vegetais apresentavam geralmente um problema duplo: além da água estar nitidamente suja (apresentando a coloração preta em alguns casos), muitos dos recipientes foram usados para transportar anteriormente produtos que impedem sua reutilização. Das 531 barracas de vegetais analisadas por Soraya, foi observada a lavagem em 356 delas. Em muitas destas barracas a pesquisadora verificou também a utilização de jornal para embalar as verduras: ‘a tinta do jornal pode passar metais pesados para os alimentos, mas mesmo assim é amplamente utilizado’.

Muitas outras irregularidades foram constatadas, como comércio de carne bovina in natura, venda de animais de estimação, ausência de banheiros para os feirantes e botijões de gás nas barracas de pastel, localizados a menos de cinco metros dos fogões – e, em alguns casos, o recipiente estava logo abaixo do queimador. Segundo a biomédica, o trabalho ‘não trouxe nenhuma surpresa boa; apenas confirmou o fato de as feiras livres não serem lugares ideais para se comprar a comida de casa’.

Mais informações: (11) 215-2286

Olavo Soares – Agência USP