Saúde: Experiências com animais reproduzem efeito da exposição a poluentes na saúde humana

Estudo foi realizado pelo Laboratório da Faculdade de Medicina da USP

sex, 19/09/2003 - 10h51 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP
Por Júlio Bernardes

Estudos realizados no Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina (FM) da USP forneceram com mais rapidez e menos custos evidências do efeito dos poluentes sobre a saúde humana. O procedimento poderá facilitar no tratamento médico e na adoção de medidas de controle da emissão de poluentes. As pesquisas reproduziram os efeitos da exposição prolongada à poluição do ar por meio de experiências com ratos colocados em câmaras filtradas.

O professor Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório, relata que as câmaras de exposição tem capacidade para 500 ratos. Para realizar estudos comparativos, os pesquisadores podem permitir a entrada do ar poluído ou purificá-lo por intermédio de um filtro. Os animais na câmera ventilada com ar poluído ficaram mais suscetíveis ao câncer, inflamações nas vias aéreas, asma, alterações circulatórias, redução da capacidade reprodutiva e da expectativa de vida. ‘As fêmeas de ratos expostas ao ar poluído desde o nascimento apresentaram maior índice de abortos, além de um menor número de períodos férteis’, relata. ‘Mas os animais que tiveram problemas de asma se recuperaram após ficar três meses na câmara filtrada.’

Saldiva aponta que os pesquisadores aperfeiçoaram os estudos com animais, por meio de câmaras de exposição, para avaliar a extensão dos efeitos crônicos da poluição, especialmente a incidência de doenças crônico-degenerativas. ‘Utilizando-se ratos, por exemplo, pode-se obter resultados em menos tempo, em condições mais controladas’, explica. ‘Pesquisas realizadas em um ano conseguiram reproduzir várias das conclusões dos estudos epidemiológicos em seres humanos, mostrando que os efeitos crônicos da poluição são detectáveis.’

Efeitos

Os efeitos agudos da poluição podem ser estudados por meio de medições de eletrocardiograma, de circulação sanguínea e da análise do número de internações e mortes por problemas respiratórios em dias que a concentração de poluentes no ar é maior. ‘A maior dificuldade está no estudo dos efeitos crônicos da poluição, que surgem em longos períodos de tempo’, aponta. ‘São pesquisas que acompanham milhares de indivíduos durante muitos anos, cujo custo é muito elevado, dificultando sua realização no Brasil.’

Os estudos nas câmaras também demonstraram que os poluentes mais nocivos para a saúde são os metais que se agregam às partículas lançadas no ar com os gases resultantes da queima de combustíveis. ‘Estes metais podem se acumular nos pulmões, vindo a gerar efeitos crônicos futuros’, explica Saldiva. Segundo ele, novos estudos do Laboratório deverão determinar quais metais estão mais presentes nas partículas emitidas pelas fontes poluidoras e seus efeitos no organismo.

O Laboratório também realiza comparações de animais criados em São Paulo com outros estabelecidos em locais com menores índices de poluição, como Atibaia e Caucaia do Alto, e desenvolveu a utilização de plantas como indicadores da presença de poluentes ao ar livre e em locais fechados.

Mais informações podem ser obtidas no site www.usp.br/agen

V.C.