Saúde: Estudo mostra que trabalhadores de indústrias citrícolas sofrem de alergia

A pesquisa foi defendida na Faculdade de Medicina da USP

qua, 25/06/2003 - 9h54 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP
Por Valéria Dias

Estudo inédito realizado pelo médico alergista Rodolpho José de Carvalho Pinto revela que um tipo de alergia respiratória ocupacional afeta grande número de operários das indústrias citrícolas e de caminhoneiros que transportam péletes – cápsulas produzidas a partir da casca e do bagaço da laranja, usadas como ração biológica para animais.

Esses trabalhadores ficam expostos a fungos anemófilos (presentes no ar) que encontram nos péletes o ambiente favorável para sua reprodução. Tosse, espirro e chiado são alguns dos sintomas apresentados pelos caminhoneiros e operários estudados.

Em sua dissertação de mestrado Fungos em péletes de laranja e alergia respiratória em trabalhadores da indústria citrícola, o médico analisou 57 amostras de péletes de quatro indústrias citrícolas da região de Matão, São Paulo. ‘Em 86% delas encontramos fungos anemófilos’, afirma. No total, foram 57 trabalhadores pesquisados: 20 operários e 37 caminhoneiros. Os sintomas foram detectados em 37% dos trabalhadores, sendo que 60% desse percentual nunca havia apresentado histórico alérgico. A pesquisa foi defendida na Faculdade de Medicina da USP e teve a orientação do professor Júlio Croce.

Entre os caminhoneiros, 42% apresentaram sintomas da alergia. O índice entre os operários foi de 29%. ‘O caminhoneiro é mais exposto aos péletes’, explica Carvalho Pinto. ‘Nas indústrias, o trabalho é automatizado e a prevalência dos sintomas respiratórios acontece quando os péletes são manuseados. Já os caminhoneiros têm um contato mais direto com o produto e, com o passar do tempo, a colônia de fungos vai aumentando. Por isso a incidência foi maior entre eles.’

O sangue dos 57 trabalhadores foi coletado para realização do teste IgE (Imunoglobulina E), que detecta a presença de anticorpos específicos para fungos. A pesquisa mostrou que em 92% dos caminhoneiros e em 50% dos operários o resultado foi positivo. Os testes cutâneos foram positivos para 38% dos caminhoneiros e 14% dos operários. ‘Na população, esse índice é de aproximadamente 5%.’

Auto-medicação

Como medidas preventivas, o médico sugere que, no caso dos operários que apresentam alergia ao manusear péletes, uma alternativa é mudar o funcionário de setor. ‘Se houver uma crise alérgica, um médico pode prescrever um anti-histamínico.’

Carvalho Pinto alerta que, para os caminhoneiros, a situação é um pouco mais complexa. ‘É uma classe desassistida. Nem as prefeituras, nem as indústrias se responsabilizam por eles. Por não terem tempo ou meios de procurar um médico, os caminhoneiros acabam se auto- medicando. É um procedimento de risco, principalmente se levarmos em conta que muitos deles também utilizam remédios para não dormir’, conclui.

Mais informações podem ser obtidas pelos telefones:(0xx11) 3069-6225, (0xx16) 284-1487 ou no site www.usp.br/agen

V.C.