Saúde: Estudo constata que uso de ultra-sonografia da mama pode reduzir o número de biópsias

Trabalho vem sendo realizado pela Faculdade de Medicina da USP

seg, 11/08/2003 - 10h15 | Do Portal do Governo

do Portal da USP
Por Simone Harnik

Pesquisa realizada no Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FMUSP) mostra que o exame de ultra-sonografia também pode ser usado para determinar nódulos mamários provavelmente benignos. Nestes casos, o acompanhamento médico é uma alternativa à biópsia – retirada de amostra de tecidos para verificação se uma lesão é benigna ou maligna (câncer).

De acordo com o radiologista Luciano Chala, o ultra-som reduz o número de biópsias. ‘Além de representar custos financeiros, as biópsias costumam ser um fator de ansiedade para os pacientes e suas famílias e pode, ainda que raramente, causar complicações, como infecções e sangramentos’, diz o pesquisador.

Em sua tese de doutorado Ultra-sonografia na diferenciação entre nódulos mamários benignos e malignos: determinação de nódulos provavelmente benignos e avaliação do impacto na redução do número de biópsias, defendida na FMUSP e orientada pelo professor Nestor de Barros, Luciano analisou as características clínicas, ultra-sonográficas e mamográficas de 229 nódulos de aspecto sólido observados em 203 pacientes do sexo feminino (homens também podem ter lesões mamárias).

Todas as mulheres do estudo passaram pelo procedimento da biópsia. Assim, o médico pôde verificar se suas hipóteses serviam para distinguir os nódulos benignos dos malignos. O radiologista obteve um resultado considerado satisfatório, já que seu sistema classificou corretamente 99% dos nódulos caracterizados como benignos pelas biópsias, e 98,1% dos tumores malignos foram detectados. Essas são duas qualidades que seu sistema de análise possui: detecta corretamente os nódulos benignos e não permite que os malignos passem despercebidos. ‘Caso isso ocorresse, os pacientes correriam o risco de que o tumor se desenvolvesse’, afirma o radiologista

O câncer de mama é o segundo tumor mais freqüente em mulheres – perdendo apenas para um tipo de câncer de pele – e constitui a principal causa de morte por câncer em mulheres no Brasil. Diferentemente do que o senso comum imagina, apenas o auto-exame não é suficiente para diminuir as mortes por câncer de mama. ‘Quando a lesão se torna palpável, é porque ela se desenvolveu e o prognóstico, em geral, piorou’, diz Luciano.

Atualmente, a melhor forma de reduzir a mortalidade por esta doença é sua detecção precoce, a fim de fazer com que os tratamentos existentes sejam mais eficazes. Para detectar o maior número de cânceres em estado precoce, realiza-se um grande número de biópsias cujo resultado é benigno. Esta pesquisa contribui para evitar parte destes exames.

Antecessores

O trabalho de Luciano Chala se baseia em pesquisas que determinaram na mamografia lesões com baixa probabilidade de serem malignas (menor que 2%), para as quais o controle mamográfico e clínico constitui uma alternativa segura à biópsia. Estas pesquisas demonstraram que as poucas lesões malignas, classificadas como provavelmente benignas, seriam detectadas por meio do controle periódico sem prejuízo ao prognóstico, ou seja, o retardo no diagnóstico não reduziria as chances de cura.

A inovação do pesquisador foi ampliar o uso da ultra-sonografia para determinar lesões com alta probabilidade de serem benignas por meio deste método de imagem. O exame já é realizado com freqüência em associação com a mamografia, então não implica mais custos para paciente e hospital. O estudo do radiologista propõe mais usos para a ultra-sonografia de mamas, com o objetivo de proporcionar a redução do número de biópsias. Luciano explica que realizou o trabalho para ser implantado clinicamente e ele defenderá essa idéia no 89th Radiological Society of North América Scientific Assembly and Anual Meeting, que acontece entre 30 de novembro e 5 dezembro de 2003, em Chicago, Estados Unidos.

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V.C.