Saúde: Estudo avalia riscos da gestação de mulher com câncer

Trabalho foi feito por bióloga da Unicamp

ter, 30/09/2003 - 10h07 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da Unicamp
Por Antonio Roberto Fava

Para cada grupo de mil mulheres que engravidam, uma pode desenvolver um tipo de câncer, que pode ser mamário, ósseo ou sanguíneo, entre outros. Estudos feitos pela bióloga Mércia Tancredo Toledo revelam que fetos gerados por mulheres grávidas, portadoras da doença, apresentam efeitos danosos para a saúde do feto, como baixo peso e risco de aborto.

Essa é a conclusão de Mércia, que acaba de apresentar sua tese de doutorado, junto ao Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. Seu trabalho experimental foi desenvolvido em ratas Wistars sacrificadas em vários períodos de gestação, simulando a associação gravidez e câncer em seres humanos quando, muitas vezes, a mulher engravida e somente depois descobre ser portadora da doença. Durante a gestação, em mulheres e em ratas, a placenta provê todas as necessidades para o crescimento e desenvolvimento do feto.

‘O suprimento de nutrientes ao feto depende das reservas maternas e da ingestão de alimentos, assim como da função da placenta. A competição nutricional ou carência alimentar, durante a gestação, pode alterar o desenvolvimento da placenta. Dessa forma, algumas patologias como o câncer, por exemplo, podem interferir no processo gestacional’, diz a bióloga.

Conforme explica, na associação gravidez e câncer é muito difícil predizer qual será a duração, evolução e final da gravidez, por se tratarem de dois pacientes: mãe e feto. O crescimento do tumor de Walker durante a gestação é prejudicial tanto à mãe quanto à unidade feto-placentária.

‘Pudemos observar ainda, após procedimentos experimentais, prejuízos ao crescimento e desenvolvimento placentário que comprometeram a sobrevida dos fetos e a função placentária durante a gestação’, diz Mércia. Segundo diz, o implante tumoral é feito no 2º dia após a cruza, no início da gestação, quando são injetadas 250 mil células viáveis no tecido subcutâneo na região do dorso do animal.

Depois de sete dias do tumor inoculado no animal já pode ser visível e consegue-se percebê-lo ao apalpá-lo. ‘O tumor cresce tão rápido que no final do experimento, no 21º dia, pode facilmente atingir até 10% do peso do animal. Para se ter uma idéia dessa evolução, basta dizer que uma rata com 250 gramas terá um tumor de 25 gramas’, revela a pesquisadora.

Pode ser um câncer mamário, que sofreu uma mutação e que hoje apresenta também características de câncer ósseo ou tecido epitelial, constituído por células justapostas em uma ou várias camadas. É o tecido que cobre a superfície externa das mucosas e as superfícies das cavidades internas do organismo.

Mércia pôde observar ainda considerável redução no número de fetos em ratas implantadas com o tumor de Walker – de seis ou sete filhotes, enquanto que as ratas do grupo de controle permitem a formação de dez a 12 filhotes durante a gestação. É que no primeiro caso, os filhotes apresentavam baixo peso placentário e fetal, alterações nas reservas de nutrientes, assim como hemorragia e edema no tecido placentário, indicando, dessa forma, que houve prejuízos nas trocas metabólicas entre mãe e feto.

‘Observamos ainda um aumento no número de malformação e reabsorção fetais. É curioso observar que as ratas, implantadas com o tumor (o animal não tem aborto, pois ele faz reabsorção fetal), no local onde se formaria um feto verificamos uma massa indefinida de células ligadas à sua respectiva placenta’, lembra a pesquisadora.

Autora da dissertação de doutorado – Associação gravidez e câncer: comprometimento da atividade placentária. Estudo em ratas grávidas portadoras do tumor Walker 256′, orientada pela professora Maria Cristina Cintra Gomes Marcondes – Mércia trabalhou com 72 animais subdivididos em oito grupos experimentais (controle, implantadas com tumor de Walker e inoculadas com líquido ascítico). O tumor de Walker é mantido in vivo na cavidade peritonial de ratos machos e o ascite é o líquido produzido pelo tumor mas livre de células tumorais.

‘Nos grupos inoculados com líquido ascítico (contendo uma gama de substâncias produzidas pelo crescimento tumoral) observamos resultados similares aos grupos implantados com tumor de Walker. Isso indica que durante o crescimento do tumor substâncias produzidas podem atuar na placenta modificando suas funções e comprometendo o desenvolvimento do feto ao longo da gestação’, diz a pesquisadora.

O câncer, crescimento desordenado das células dos tecidos, compromete, na maioria dos casos, a homeostasia (tendência do organismo em manter constantes as condições fisiológicas) do hospedeiro, levando-o a processos de espoliação dos tecidos, que podem conduzi-los à morte.

Mércia explica que a formação de um tumor pode ocorrer em tecidos normais em fases distintas. Os tumores malignos invadem e destroem tecidos adjacentes normais, formam metástases. ‘Além disso, continuam a crescer, mesmo em estágio de inanição do hospedeiro, interrompendo funções vitais e, por conseqüência, levando o hospedeiro à perda extrema de peso, agravadas por freqüentes hemorragias, culminando em morte’, conclui a pesquisadora.

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V.C.