Saúde: Centrinho desenvolve técnica para tratamento de anomalia em bebês

Estudos permitem que 70% das crianças diagnosticadas com o problema sejam tratadas sem cirurgia

qui, 14/08/2003 - 11h34 | Do Portal do Governo

Uma dieta especial, desenvolvida no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP de Bauru (conhecido como Centrinho), alcançou resultados inéditos no tratamento para crianças nascidas com o mal conhecido como Seqüência de Pierre Robin. Dois trabalhos sobre os estudos já foram publicados e outros dois ainda serão lançados no Cleft Palate Craniofacial Journal, um dos veículos mais respeitados da área.

A Seqüência de Pierre Robin, diagnosticada em uma a cada 8,5 mil crianças nascidas vivas, é caracterizada pelo pequeno tamanho do queixo e pela posição retraída deste e também da língua. ‘Não é só uma questão de tamanho. É que estas partes são posicionadas para trás. Assim, a língua obstrui a faringe, atrapalha a respiração e, por conseqüência, a alimentação’, explica a pediatra do Centrinho, Ilza Lazarini Marques.

Segundo a pesquisadora, os bebês portadores da doença têm dificuldades respiratórias de maior ou menor graus, não são capazes de mamar no peito, e grande parte nasce com fissura no palato (céu da boca aberto).

Na dieta especial, as crianças se alimentam com leite em pó preparado, enriquecido com açúcares e gorduras especiais, de fácil digestão e absorção. ‘Os bebês correm muito maior risco nos primeiros dias e meses de vida. Eles mamam pouco, gastam muita energia e se cansam facilmente. Com uma dieta hipercalórica, podem ganhar peso mais rápido, se desenvolver e superar naturalmente as dificuldades.’

Na opinião de Ilza, pela primeira vez a anomalia está sendo tratada como um problema de desenvolvimento e não apenas anatômico. ‘As pesquisas norte-americanas tendem a focalizar a patologia como um problema obstrutivo mecânico, estudando principalmente os recursos cirúrgicos.’ No hospital, o tratamento conta com o trabalho de pediatras, cirurgiões plásticos, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos, nutricionistas, dentistas, psicólogos e assistentes sociais.

Histórico

No início das pesquisas do Centrinho, o tratamento para esse problema era feito com uma cirurgia, que estendia a língua dos bebês e a prendia ao lábio inferior. A posição era mantida até o início do aparecimento dos dentes, que acontece aproximadamente aos oito meses de idade. ‘Esse procedimento resolvia alguns casos, mas a mortalidade ainda era muito alta, cerca de 30%. Como tentávamos unir duas partes móveis, a sutura acabava se soltando’, explica Ilza Marques.

O desenvolvimento das novas técnicas possibilitou que 70% das crianças diagnosticadas com a Seqüência sejam tratadas sem nenhuma intervenção cirúrgica. Segundo Ilza Marques, o problema é acompanhado por outras síndromes em 45% dos casos, mas quando é diagnosticada sozinha, os portadores podem ter um desenvolvimento normal, inclusive esteticamente. Com os novos procedimentos, a mortalidade das crianças diminuiu de 30 para 8%.

Lucas Oliveira Telles
Da Assessoria de Imprensa da USP de Bauru

(AM)