Saúde: Butantan completa 103 anos como o maior fabricante nacional de vacinas e soros

Instituto fabrica 75% das vacinas e 80% dos soros utilizados em hospitais públicos do País

qua, 25/02/2004 - 7h23 | Do Portal do Governo

O Instituto Butantan chega aos 103 anos, completados na última segunda-feira, dia 23, como centro de referência nacional e internacional em pesquisa, desenvolvimento e produção de vacinas e soros. Fabrica, para o Ministério da Saúde, 75% das vacinas e 80% dos soros utilizados em hospitais públicos do País. É também um espaço de lazer para turistas de todo o mundo, atraídos pelo renome da instituição e pela variedade de espécies de cobras em exposição.

Entre as vacinas, fabrica a tríplice (difteria, coqueluche e tétano), a dupla (difteria e tétano), a BCG (tuberculose), para hepatite B e raiva. A vacina para influenza (gripe), por enquanto, é importada da França, mas envasada no Butantan. A partir de 2006, o instituto irá produzi-la.

Entre os soros, processa os antitetânico, antidiftérico, antibotulínico (botulismo), anti-rábico (raiva) e os antipeçonhentos, contra venenos de cobra, de aranhas, de escorpiões e de taturana. Fabrica também o soro antitimocitário, para problemas de rejeição em pessoas que tiveram transplante de órgãos.

Produzindo anticorpos

O diretor Otávio Azevedo Mercadante revela os número da produção do instituto de 1987 a 2003. No primeiro ano, foram 8,8 milhões de doses de vacina e 310 mil ampolas de soro. Já no ano passado, os gráficos registraram 111,127 milhões de doses e 460 mil ampolas, respectivamente. Em vacinas, foi a maior produção da história do Butantan, mas em soro o recorde foi alcançado em 1992, quando saíram dos laboratórios 566 mil ampolas.

Mercadante explica a diferença entre vacina e soro. A primeira é uma solução que contém a bactéria que provoca a doença. O microorganismo pode estar em pequena quantidade, morto, inerte ou em pedaços, dependendo do tipo. Ao ser inoculada no corpo, a vacina provoca na pessoa uma ligeira reação (dor de cabeça ou febre, por exemplo), como se a doença estivesse “pegando”. Isso provoca a reação do organismo, com a produção de anticorpos que destroem a bactéria, tornando o paciente imune.

Modelos de vírus

Há uma sala, no laboratório, com dezenas de microscópios para estudantes do ensino médio realizarem experiências. A diretora do microbiológico, Milene de Franco, informa que as escolas podem marcar visitas pelo telefone (11) 3726-7222, ramal 2206 ou 2155. Os alunos recebem kit para experiências, composto de vidraria, reagentes, corantes e manual.

Já o Museu Histórico ocupa dois prédios construídos no início do século. É o local onde o médico brasileiro Vital Brazil (1865-1950) iniciou suas pesquisas com venenos de cobra no começo do século 20. Ali existem instrumentos, vidrarias, cerâmicas e balanças usadas pelo patrono do instituto. Há também painéis com dezenas de fotos antigas mostrando cobras, funcionários, autoridades, visitantes e Vital Brazil, que dirigiu o instituto entre os períodos de 1901 a 1919 e de 1924 a 1927.

No serpentário, vivem dezenas de cobras ao ar livre. Mas, para ver os bichos, é necessário apostar no clima e no bom humor dos répteis. Com sorte, algumas serpentes saem de seus esconderijos e passeiam pelo gramado do serpentário, fazendo a alegria da molecada. Quase todos os dias uma escola visita o local.

Limpeza é fundamental na produção

Quem visita as instalações das fábricas de vacinas e soros da Fundação Butantan imagina estar no cenário de um filme sobre epidemia de microorganismos ou de guerra bacteriológica: funcionários com roupas de segurança da cabeça aos pés, máquinas sofisticadas, linhas de produção automatizadas em que as ampolas viajam em esteiras, como numa fábrica de cerveja, e fermentadores de bactérias que se assemelham a enormes panelas de aço inoxidável.

A diretora da Divisão de Desenvolvimento Tecnológico e Produção, Hisako Gondo Higashi, a doutora Isa, explica que em nenhum momento há contato humano com os produtos. “Tudo é manipulado e transportado por canalizações, filtros, mangueiras e equipamentos, em ambientes de extrema limpeza sem contaminação”.

Na divisão de vacinas para coqueluche, a bactéria tratada é a Bordetella pertussis; no caso da difteria, a Corymbaterium diphtheriae. A solução concentrada desses microorganismos sai dos fermentadores acondicionada em bolsas de borracha. Em outro prédio, o da formulação e envase, o conteúdo das bolsas é diluído e armazenado em ampolas para uso nos hospitais.

Influenza made in Brazil

Os governos estadual e federal irão investir R$ 50 milhões na fábrica da Fundação Butantan para produzir no Brasil a vacina contra o vírus influenza, da gripe. O Ministério da Saúde vai desembolsar R$ 34 milhões para compra de equipamentos e a Secretaria de Estado da Saúde R$ 16 milhões para reforma do prédio, no complexo de produção do Instituto. A tecnologia empregada será a do laboratório francês Aventis Pasteur, o mesmo que fornece hoje a vacina para envase no Butantan. A licitação está em andamento e a previsão é produzir 20 milhões de doses anuais, a partir de 2006.

Os lotes estarão disponíveis para aplicação em abril do ano seguinte, início da campanha nacional de vacinação gratuita para maiores de 60 anos.

Atualmente, a vacina é recebida da França acondicionada em contêineres com 100 litros de solução concentrada, que irá se transformar em 200 mil doses. No início, as ampolas são lavadas e esterilizadas a mais de 300°C. Depois recebem o produto, são lacradas, inspecionadas por funcionários que verificam se há partículas em suspensão, analisadas em laboratório e embaladas em caixas com 20 ampolas cada, equivalente a 200 doses. As embalagens são enviadas ao Ministério da Saúde.

Hemoderivados no Brasil

O diretor da Fundação Butantan, Isaias Raw, informa que a entidade irá produzir, também em 2006, uma série de hemoderivados, substâncias obtidas do plasma sangüíneo humano. A fábrica, empreendimento do governo do Estado, irá absorver cerca de R$ 100 milhões. “Será a planta mais moderna do mundo, superando uma que existe na Austrália”, assegura Raw.

A fábrica irá processar 250 mil litros de plasma por ano. Esse componente do sangue geralmente é descartado nos laboratórios, enquanto a hemácia (glóbulos vermelhos) é a mais “nobre”, usada na transfusão. Raw conta que o Brasil gasta US$ 200 milhões por ano na compra de hemoderivados, por falta de tecnologia e produção locais: “O que queremos corrigir com a futura fábrica.”

Os três hemoderivados mais importantes são albumina, imunoglobulina e fatores de coagulação. O primeiro é utilizado em queimaduras e doenças renais; o segundo, de maior valor comercial, é uma proteína que protege pessoas com infecção; e o último, para tratar hemofilia.

A Fundação Butantan foi criada em 1984, com a missão de produzir vacinas para o Ministério da Saúde. “É uma honra ver que o Brasil é um dos poucos países em desenvolvimento que dominam a tecnologia de produção de várias vacinas e imunizam gratuitamente sua população nos hospitais públicos”, orgulha-se Raw, 77 anos, um dos nomes mais respeitados internacionalmente em matéria de pesquisa e produção de vacinas.

SERVIÇO
Instituto Butantan
Avenida Vital Brazil, 1.500 – Butantã – São Paulo – SP
Telefone: (11) 3726-7222
www.butantan.gov.br

Otávio Nunes
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)