Saneamento: Pesquisadores desenvolvem equipamentos para tratamento de efluentes

Trabalho vem sendo realizado por pesquisadores da USP e do Instituto Mauá de Tecnologia

qui, 27/02/2003 - 12h03 | Do Portal do Governo

Da Revista da Fapesp


Declarado o Ano Internacional de Águas Doces pela Organização das Nações Unidas (ONU), 2003 espera boas notícias para a preservação dos recursos hídricos no planeta. O consumo de água cresce junto com o aumento da população e com o incremento das atividades agrícolas e industriais.

Uma situação que não pode dispensar o reuso da água, até como meio de preservar as fontes naturais, como rios, lagos e represas. Um grupo de pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo e da Escola de Engenharia Mauá (EEM) do Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano do Sul, pode estar contribuindo para uma boa notícia.

Eles estão desenvolvendo vários equipamentos que vão resultar em novos reatores para tratamento de esgotos e disponibilizar a água resultante para usos menos nobres e sem necessidade de potabilidade, como em atividades industriais, lavagens de rua ou para a irrigação de culturas, cujos produtos não sejam consumidos sem cozimento.

O foco dos estudos desses pesquisadores são sistemas para tratamento de esgotos sanitários e efluentes industriais, que utilizam microrganismos anaeróbios (bactérias e suas parentes, arqueas, que não necessitam de oxigênio para sobreviver) para fazer a purificação dessas águas residuárias. Embora ainda pouco utilizado no país, esse processo biológico possui uma longa e tradicional linha de estudos. Na EESC, desde os anos de 1970, pesquisadores estudam e desenvolvem novas configurações de reatores anaeróbios.

Depois de tantas pesquisas, chegou a hora de alguns dos sistemas estudados serem colocados em prática. Segundo o engenheiro Eugênio Foresti, diretor da Escola de Engenharia de São Carlos, estão sendo mantidos contatos com o governo do Estado de São Paulo visando a montagem de uma estação piloto de tratamento anaeróbio em uma cidade de pequeno porte na região de São Carlos. É a oportunidade que faltava para os pesquisadores apresentarem, na prática, a eficácia do processo.

Baixo custo

‘Mantivemos os primeiros contatos e esperamos implantar logo um sistema anaeróbio em escala demonstrativa no tratamento de efluentes’, afirma Foresti, que está na coordenação de um terceiro projeto temático financiado pela FAPESP sobre o assunto. ‘Estamos desenvolvendo tecnologias alternativas de baixo custo e mais adequadas ao país’, diz Foresti.

Cinco tipos de reatores são estudados no temático: horizontal de leito fixo, de leito expandido-fluidificado, de membrana, em batelada seqüencial e híbrido. Os quatro primeiros sistemas são inovadores e o quinto trata-se de uma modificação e aprimoramento de um reator, também conhecido como UASB ( Up-flow Anaerobic Sludge Blanket ), ou reator anaeróbico de manta de lodo e escoamento ascendente, desenvolvido na Holanda na década de 1970.

Os sistemas biológicos anaeróbios nasceram como uma alternativa aos processos aeróbios (que exigem a presença de oxigênio para viver), uma tecnologia bem mais consolidada e empregada. Os dois sistemas utilizam de microrganismos que se alimentam dos poluentes presentes nos esgotos domésticos e efluentes industriais. Em outras palavras, eles eliminam a matéria orgânica que está dissolvida e particulada na água. Por não precisarem de oxigênio, os anaeróbios apresentam uma vantagem sobre os processos aeróbios, que é o baixo consumo de energia, uma vez que não necessitam de nenhum processo de aeração.

‘O gasto energético dos tratamentos anaeróbios equivale, em média, a 30% do gasto dos aeróbios’, afirma Foresti. Outra vantagem dos processos anaeróbios é a menor produção de lodo, que não chega a 10% do que é gerado nos aeróbios. O resultado disso é uma considerável economia no manejo e na destinação final desse tipo de resíduo, um subproduto indesejado dos tratamentos aeróbios.

Mais informações podem ser obtidas no site www.revistapesquisa.fapesp.br

V.C.