Saiba como é produzido o soro para veneno de peixes peçonhentos

Para cada experimento são usados cerca de 30 peixes

qua, 18/05/2005 - 16h37 | Do Portal do Governo

O soro contra o veneno do niquim é produzido a partir de anticorpos obtidos com a injeção gradativa de veneno do peixe em cavalos mantidos pelo Instituto Butantan. O cavalo é o animal mais utilizado para a produção de soros já que, por seu porte, é capaz de oferecer quantidades maiores de sangue para retirada de anticorpos. O veneno é obtido a partir de peixes coletados em Maceió. Para cada experimento são usados cerca de 30 peixes.

De acordo com a bióloga Mônica Lopes Ferreira, que coordena os estudos sobre peixes peçonhentos no Butantan, antes de injetar o veneno no cavalo, são feitos diversos experimentos, inclusive utilizando animais menores, como camundongos ou coelhos, para que os animais não sofram os efeitos do veneno.

Ela explica que os testes consistem na aplicação de quantidades pequenas de veneno em diferentes espaços de tempo para que os animais não sintam dor, nem sofram com edemas ou necroses. No caso do niquim, os pesquisadores levaram cerca de 100 dias entre a primeira aplicação do veneno em cavalo e a retirada final de uma quantidade de sangue do animal para obtenção de quantidade adequada de anticorpos.

Esses anticorpos são levados para a equipe de produção de soro, que faz a purificação do material e o devolve ampolado, ou seja, que poderia ser usado em clínica. Esse soro é testado em camundongos, onde se verifica se ele é capaz de neutralizar cada um dos efeitos causados pelo veneno. “Todos os sintomas provocados pelo veneno são reproduzidos em laboratório e testamos diferentes doses do veneno para saber até onde o soro consegue neutralizar esses efeitos. No caso do soro contra o veneno do niquim, tivemos uma excelente neutralização da dor, edema e necrose, o que mostra que o soro pode ser usado em clínica”, explica.

Animais do Instituto Butantan são muito bem tratados

Mônica Ferreira enfatiza que os animais do Instituto Butantan imunizados para a obtenção de anticorpos são muito bem tratados. Os animais passam por períodos intercalados de imunização e descanso. O Instituto mantém ainda funcionários só para cuidar dos animais, além de acompanhamento veterinário.

Ela garante que o processo de imunização não é sofrido para o animal porque é precedido de experimentações para estabelecer a melhor dosagem. “Há todo um cuidado para não usar quantidades de veneno que possa provocar qualquer reação. Por isso é um processo mais demorado”, explica.

Cíntia Cury