Revista Fapesp: Filmes retratam como o cinema paulistano mostrou as mazelas e os personagens de São

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ter, 03/12/2002 - 21h30 | Do Portal do Governo

Se você mora ou conhece razoavelmente a cidade de São Paulo, feche os olhos e pense nas primeiras imagens que lhe vêm à cabeça. Provavelmente não ficará livre dos pedestres andando às pressas pelo Centro ou na Avenida Paulista. Tampouco dos limites impostos pelos rios Pinheiros e Tietê e das pontes cobertas de congestionamento no cair da tarde. Certamente se lembrará também de algum arranha-céu famoso: o prédio do Banespa, o Terraço Itália ou o Copan. Algumas palavras sobre o cenário? Trabalho, correria, progresso, modernidade, oportunidades e barulho.

Estereótipos da capital paulista, assim como de qualquer outra grande cidade, permanecem na memória de seus moradores. São frutos da vivência do indivíduo na metrópole, mas, também, das imagens veiculadas pelo cinema, pela televisão, pelos jornais e até mesmo pela literatura. A observação é de Andréa Cláudia Miguel Marques Barbosa, que escreveu a tese São Paulo: Cidade Azul. Análise da Construção de um Imaginário da Cidade pelo Cinema Paulista dos Anos 80 , do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).

Durante quatro anos, financiada pela FAPESP por meio da bolsa de doutorado, Andréa analisou, do ponto de vista antropológico, a visão da cidade de São Paulo existente em sete filmes produzidos por cineastas paulistas na década de 80. Observou com atenção, também, a maneira como os personagens (indivíduos) lidavam com essa cidade. Colocando-se como espectadora privilegiada, ela viu e reviu dezenas de vezes, escutou e interpretou obras de Wilson Barros, Chico Botelho, Carlos Reichenbach, Guilherme de Almeida Prado e Cecílio Neto. ‘Escolhi filmes da década de 80 porque esse foi o período em que a temática urbana foi muito comum no cinema nacional’, explica a pesquisadora. ‘E isso não foi privilégio de São Paulo; em outros locais do país também ocorreu.’

O primeiro filme da lista é de 1979, Disaster Movie , um curta-metragem de Wilson Barros. Os demais são: Diversões Solitárias (Wilson Barros, 1983), Cidade Oculta (Chico Botelho, 1986), Anjos da Noite (Wilson Barros, 1987), Anjos do Arrabalde (Carlos Reichenbach, 1987), A Dama do Cine Xangai (Guilherme de Almeida Prado, 1988) e Wholes (Cecílio Neto, 1991). ‘Na ordem cronológica, o primeiro e o último filme não foram feitos na década de 80, mas contêm as mesmas características dos demais’, observa Andréa.

Os filmes foram selecionados entre dezenas de opções, por terem sido produzidos, em sua maioria – com exceção de Anjos do Arrabalde , do já veterano Carlos Reichenbach -, por cineastas recém-formados, os chamados jovens cineastas paulistas. O ponto em comum entre alguns deles é o fato de terem utilizado recursos técnicos nas áreas de fotografia e de iluminação advindos da publicidade. ‘Ao se formarem, esses cineastas encontraram grande dificuldade para atuar como autores’, explica a pesquisadora. ‘Assim, muitos passaram a trabalhar com publicidade e, dessa área, que tem melhores recursos econômicos, levaram um gosto pelo rebuscamento técnico para o cinema.


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