‘Revelando São Paulo’ encanta público com cultura regional

Evento mostra tradição de cerca de 180 municípios paulistas

sex, 21/09/2001 - 16h47 | Do Portal do Governo

A cultura regional paulista está mais perto da Capital e é cada vez mais admirada pelo público. Por intermédio do Projeto Revelando São Paulo, da Secretaria Estadual da Cultura, que vem sendo realizado na cidade desde 1997, a cultura tradicional do Interior torna-se mais conhecida de todos.

O Estado de São Paulo, assim como tantos Estados brasileiros, tem uma série de características especiais como a culinária e danças típicas que acabam passando desapercebidos no meio da miscigenação própria de um município cosmopolita como a capital. O Revelando é um projeto cultural que mostra exatamente as raízes dos paulistas, trazendo do Interior demonstrações de artesanato, culinária, poesias, teatro, música e dança de diversos municípios.

A edição deste ano acontece no Parque da Água Branca, das 8 às 20 horas, e se encerra neste domingo, dia 23. Durante toda a semana, o Parque se transformou em uma grande exposição cultural dividida por atividades realizadas e municípios participantes. Logo na entrada já se percebe o clima de festa, pessoas de todas as idades caminham com um sorriso estampado no rosto e um ar de surpresa, diante de tanta beleza e originalidade.

No início do passeio pode-se observar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que este ano é a visita mais importante do encontro. A qualquer hora do dia, a imagem – exibida através de uma redoma de 300 quilos de vidro blindado – está rodeada de devotos em oração.

Continuando a visita, logo avista-se a grande arena e o palco, local onde acontecem os minutos de glória dos participantes. Durante todo o dia há uma série de apresentações típicas que encantam o público, seja ele específico da feira, excursões escolares ou os esportistas que freqüentam o Parque. Uma apresentação interessante é o carro puxado por bois – uma carroça, com rodas de madeira maciça, é puxada por seis bois e leva uma série de crianças eufóricas para um passeio em torno da arena. O barulho das rodas é semelhante à musicalidade de um instrumento artesanal, um som especial, bem diferente das buzinas do trânsito paulista.

Um pouco abaixo, à direita, o visitante pode se deliciar nos 43 estandes de comidas típicas, neles pratos conhecidos e outros que talvez nunca se ouviu falar. Por exemplo, o “peixe azul-marinho”: um prato tradicional de Caraguatatuba feito de tal maneira que a moqueca fica azul. Para os fãs de peixe, é uma excelente pedida. Os mais chegados às proteínas da carne vermelha não podem deixar de experimentar o “rojão”, que não tem nada a ver com fogos de artifício. Um espetinho de carne saborosíssimo, feito com carne de boi e de porco moídas. O segredo está na liga e muitas vezes é feito com carne de frango também.

Uma comida que tem sabor especial é o “buraco quente”, receita da vice-prefeita de Mairiporã. Conhecida como dona Terezinha, a vice-prefeita conta emocionada a história do surgimento do sanduíche. Há 22 anos ela presenciou uma cena que, infelizmente, é ocorrência comum em muitos lugares. Um pai comprou um sanduíche de calabresa para dividir entre seis crianças, provavelmente seus filhos. Ele só tinha dinheiro para um sanduíche, mas a fome era para muito mais. Dona Terezinha pensou que se o sanduíche fosse mais barato, o pai poderia ter comprado mais que um e alimentado melhor os filhos. Então surgiu o “buraco quente”, um sanduíche de recheio variado, com tomate, cebola e pimentão entre outras coisas, além do fator principal que tornou a receita famosa: coração de banana. Dona Terezinha contou que seu marido, polonês de nascimento, tinha o costume de comer o coração da banana, que inclusive tem benefícios para saúde, e colaborou na elaboração da receita. Depois de pronto o recheio, ela tira o miolo do pão pela lateral, sem cortar, e completa bem o interior do pãozinho, que é vendido a R$ 1,00 em todas as festas populares de Mairiporã.

Continuando a visita, encontra-se a ala dos artesanatos, onde uma variedade de objetos interessantes vai da madeira e do crochê até o papel reciclado. Um dos expositores do artesanato é o senhor Ditinho, de São Bento de Sapucaí, um dirigente cultural que começou a vida na roça e certo dia descobriu, em um galho de árvore, sua vocação artística para fazer esculturas.

Ditinho está expondo suas obras no Revelando São Paulo e tem uma frase engraçada sobre sua vida simples: “a gente sai da casa da gente como boi e depois vira vaca, mas aqui a gente é tratado como touro”, querendo dizer que se sente muito em casa. Assim como essas, há muitas histórias interessantes na regionalidade cultural paulista.

A exposição possui também seminários diários, voltados para os dirigentes culturais. Segundo José Carlos Zaninotti, diretor do Departamento de Atividades Regionais de Cultura – DARC, órgão da Secretaria da Cultura, o seminário passa uma visão consolidada do aprimoramento dos recursos culturais como alavanca para o turismo nos municípios.

De acordo com o idealizador, coordenador e diretor artístico do Revelando, Toninho Macedo, tem aumentado significativamente a interação entre os municípios por meio do intercâmbio de seus grupos rituais, ocasionando o compartilhamento e troca de experiências. Isso contribui muito para a dinamização das festas tradicionais. “Aos poucos, paulistas e paulistanos começam a se interessar por se conhecerem um pouco mais”, destacou Toninho.

Desde o sucesso da primeira edição do Revelando São Paulo, que aconteceu no Parque do Ibirapuera e teve adesão de 30 municípios paulistas, o projeto vem crescendo e ganhando popularidade. Além da divulgação da arte em si, o evento é uma maneira de incentivar a prática de manifestações culturais, tanto para incrementar o turismo das cidades e conseqüentemente a economia, como para estimular a cultura em si.

Gláucia Basile