Recursos Hídricos: Sabesp combate ligação irregular de água na Grande São Paulo

Companhia realiza, em média, 2.150 inspeções mensais na região metropolitana de São Paulo

seg, 07/06/2004 - 8h36 | Do Portal do Governo

Logo da calçada, olhando através das frestas do portão, a equipe da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) já detecta um problema: o cavalete (que lembra uma minúscula trave de gol) está sem o hidrômetro, aparelho que registra o consumo mensal de água de um imóvel.

Formada por funcionários da Unidade de Negócio Leste da companhia, a equipe procura irregularidades nas ligações em toda a região leste (da Penha até Salesópolis), trabalho que também é realizado diariamente por outras unidades de negócio nas demais regiões abrangidas pela empresa.

O objetivo da inspeção é combater perdas físicas (da própria água, que vem se tornando escassa) e financeiras (o que a Sabesp deixa de arrecadar), conforme explica a gerente da Divisão de Controle de Consumo, Sandra Lima, responsável por ações que visam a inibir esse tipo de abuso.

Ligações irregulares existem em qualquer lugar, mesmo em bairros como Itaim-Bibi e Morumbi, segundo a encarregada de serviços comerciais Gislaine do Nascimento, que também atua no combate a esse tipo de ligação.

Desperdício

A Sabesp realiza, em média, 2.150 inspeções mensais na região metropolitana de São Paulo para detectar irregularidades nas ligações. Desse total, encontra problemas em aproximadamente 750 locais vistoriados.

Em termos de volume, representa cerca de 150 mil metros cúbicos/mês, que daria para abastecer 10 mil residências com consumo de 15 metros cúbicos mensais cada uma. Entretanto, engloba só as anormalidades constatadas e recuperadas.

Com essas ações de combate, a empresa recupera cerca de R$ 700 mil por mês. “Jardins e Centro são as regiões que registram maior consumo e também onde se perde mais em termos de faturamento, se houver ligações irregulares”, informa Sandra.

Segundo ela, esses problemas levam a um maior gasto e, conseqüentemente, ao desperdício. Isso afeta toda a população, especialmente nestes tempos de ameaça de racionamento de água.

Crime é inafiançável, mas muitos se arriscam

Na zona leste – da Penha em direção à periferia -, onde a equipe realiza a inspeção, a maioria dos casos ocorre em residências, “até porque a Sabesp vem fazendo ‘varredura’ na região desde dezembro de 1994, e os imóveis que representam grande consumo (postos de combustíveis, hotéis, entre outros) já foram fiscalizados”, diz Gislaine do Nascimento. Os municípios de Arujá, Biritiba-Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Poá, Salesópolis e Suzano também estão incluídos na área de abrangência da Unidade de Negócio Leste.

Os tipos de irregularidades mais comuns na região são as adulterações em hidrômetros, que prejudicam a real leitura do consumo. Além delas, ocorre ainda o by pass ou passagem livre (desvio do fluxo de água, para não ser registrado pelo hidrômetro), as ligações diretas (exemplo do início da reportagem), em que há o cavalete, mas não o hidrômetro) e as ligações clandestinas.

Ação penal

A Sabesp chega até as irregularidades por meio de denúncias da população e do trabalho de funcionários, especialmente dos técnicos de atendimento comercial externo, que fazem a leitura e a entrega das contas. Quando a execução da irregularidade é pega em flagrante, é considerada crime inafiançável, assegura Sandra.

Além isso, há as pesquisas internas no sistema, pelas quais é possível perceber quedas no consumo. Constatado algum indício, os técnicos verificam, entre outras coisas, se a quantidade de água consumida é compatível com a categoria (residencial ou comercial), o ramo de atividade e o histórico de gasto do imóvel.

Se as dúvidas persistem, vão até o local onde presumem existir o problema. Caso seja comprovado, a equipe de inspeção registra boletim de ocorrência, aguarda a presença do perito do Instituto de Criminalística para a emissão de laudo e suprime a ligação. Cabe ao consumidor acertar seus débitos com a Sabesp, para ter a água religada, quando, então, se instala também o hidrômetro.

Até fantasma anda roubando água da Sabesp

São muitas as hisstórias vividas pelos funcionários que inspecionam ligações irregulares de água. O ajudante de encanador Sebastião F. da Cunha Filho conta que, certa vez, uma senhora procurou dissuadi-lo de verificar o abrigo do hidrômetro. O motivo? Havia no local despachos de macumba.

Quando, por fim, Sebastião pôde abri-lo, constatou alterações no hidrômetro, obtendo a seguinte explicação da moradora: “Deve ser um vulto que vi ontem à noite que fez isso”.

Algumas vezes, ocorrem recepções nada camaradas à equipe de vistoriação. Num dos imóveis visitados, por exemplo, uma casa pequena e velha, o proprietário deixou os funcionários verificando o cavalete e se retirou. A equipe detectou alterações no hidrômetro para impedir a correta apuração do consumo.

Já no imóvel relatado no começo da reportagem, a preocupação do morador era se aquilo traria problemas para ele. Inquilino há quatro meses, alegou que a ligação foi feita pelo antigo morador.

SERVIÇO
Reclamações sobre ligações irregulares de água
Tel. 195 ou 0800 119911

Paulo Henrique Andrade
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)