Publicação: Imprensa Oficial e Memorial lançam livro de memórias sobre o Carandiru

Obra traz fotos e depoimentos de presos, diretores, antigos funcionários e de um padre

qua, 03/12/2003 - 14h33 | Do Portal do Governo

A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e o Memorial da América Latina lançaram segunda-feira, dia 1º, na Capital o livro Aqui Dentro Páginas de uma Memória: Carandiru, organizado por Maureen Bisilliat. A obra traz fotos e depoimentos de presos, diretores, antigos funcionários e de um padre. O resultado é uma reflexão transformada em livro, que retrata uma realidade que não terminou com a desativação da Casa de Detenção Flamínio Fávero.

A publicação foi preparada a partir de uma coletânea de depoimentos gravados (mais de 70 horas), entre abril de 2001 e dezembro de 2002, na Casa de Detenção, por Sophia Bisilliat e André Caramante, com fotografias de João Wainer e Pedro Lobo. O livro tem 260 páginas e custa R$ 60,00.

Os autores enfatizam que o livro não traz uma solução para o problema carcerário e não há uma preocupação em reforçar idéias de bem ou mal. A força da obra está na realidade prisional, mostrada por meio da palavra dos presos, gírias, erros e até a respiração dos entrevistados durante as gravações.

Narrações espontâneas falam de solidão, saúde, lealdade, família, amizade e amor; da sobrevivência, da morosidade da Justiça e do peso da palavra na prisão. As fotografias, em contraponto, focalizam temas como: limpeza, alimentação, saúde, educação, trabalho, esporte e religião. Considerações reflexivas sobre o Carandiru: o que é, como funciona, e o que representa, na vida do preso, a prisão.

Depoimentos

Nos depoimentos do livro, fica a sensação de ser impossível generalizar sobre o que aconteceu dentro dos muros do Carandiru ou o que acontece em outras prisões. O padre Gunter, da Pastoral Carcerária, comenta: ‘Ao trabalhar com os presos, num lugar onde todas as questões da sociedade não resolvidas são cristalizadas, sente-se que os que estão lá perderam a fé em cada um de nós. Eu sou cristão e venho me colocar à disposição para que, valorizando o indivíduo, ele possa acreditar de novo e participar numa caminhada de solidariedade, para um futuro melhor. Se não receber essa mensagem, se não tiver essa experiência, vai haver cada vez mais violência na sociedade’, alerta.

Nas gravações, o detento Jorge comenta a necessidade de ocupar a mente: ‘A gente está aprendendo aqui a reorganizar a vida da gente. Isso é o que a maioria do pessoal aqui dentro tenta aprender. O segredo é desvincular o pensamento. É ter uma ocupação diária’, ensina.

Numa prisão, o tempo tem outra medida, como explica Twin, que foi subencarregado da enfermaria do Pavilhão 8: ‘Um minuto é uma hora, uma hora é um ano. Muito devagar. Por isso é muito gratificante quando você começa a trabalhar na cadeia, porque para aquele que não faz nada deve ser mais terrível ainda’, relembra.

A falta de privacidade é destacada pelo jornalista Percival de Souza, na apresentação do livro: ‘Os presos costumam improvisar, com toalhas e pedaços de pano, uma espécie de cortina em sua cama-beliche. Assim, se procura compensar da perda da individualidade; se pode chorar a ausência da família ou dos amigos, ou desesperar-se pelo abandono deles”.

Lançamento

O livro será lançado no Rio de Janeiro, no dia 8 de dezembro, às 19 horas, na Livraria do Museu da República, à Rua do Catete, 153.

Eduardo Rascov
Da Assessoria de Imprensa do Memorial da América Latina