Projeto Tietê: Segunda etapa dos trabalhos é questão de saúde pública

Programa de saneamento ganhou título de mais bem gerenciado do mundo pelo BID

qua, 28/07/2004 - 7h58 | Do Portal do Governo

Enxergar peixes num Rio Tietê sem poluição e com verde nas margens, em plena cidade de São Paulo, ainda vai demorar alguns anos. Mas as obras para diminuir o esgoto despejado diariamente nas suas águas prosseguem no ritmo previsto. De acordo com a Sabesp, empresa vinculada à Secretaria de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento, a segunda etapa do Projeto Tietê será concluída no fim do ano que vem, e a entrada efetiva em operação está prevista para o início de 2006.

Quando estiver concluído, o projeto – considerado o maior programa de saneamento básico do País – deverá evitar que 850 milhões de litros de esgotos sejam despejados por dia na Bacia do Alto Tietê, região metropolitana de São Paulo. Desse total, 550 milhões de litros diários já foram eliminados, e os restantes 300 milhões deixarão de ser lançados após as obras da segunda fase.

A primeira etapa, mais ampla, foi concluída em 1998, com a construção de ligações e de três novas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). A segunda, iniciada em maio de 2002, privilegia a ampliação da rede de coleta e tratamento. “Nessa parte, o objetivo básico é levar mais esgoto para as ETEs, aperfeiçoando o sistema”, afirma o engenheiro coordenador de controle do Projeto Tietê, Marcelo Rampone.

Pesca em Anhembi

Nas casas são feitas ligações, que se conectam às redes coletoras instaladas nas ruas. Essas redes unem-se aos coletores-troncos, que são tubulações colocadas ao lado dos córregos. Dos coletores-troncos, o esgoto corre em direção aos interceptores – tubulações maiores assentadas ao lado dos rios. O ponto final de toda essa rede é uma ETE.

Até abril, quando foi feito o último balanço das obras, haviam sido concluídas 89 mil ligações domiciliares, das 290 mil previstas. De 1,2 mil quilômetros de redes coletoras projetadas, 750 estavam prontos, assim como 60 dos 107 quilômetros de coletores-tronco. Finalmente, de 33 quilômetros de interceptores, 20 ficaram prontos.
Na maior parte das construções, o método utilizado é o não destrutivo: a escavação para instalar as tubulações é subterrânea, o que provoca menos incômodo à população. A outra forma adotada é a abertura de vala escorada. Nesse caso, uma retroescavadeira inicia as escavações para a colocação das ligações de esgoto.

A Sabesp calcula que, em média, cada ligação domiciliar atende a 1,4 família. “Com as 290 mil ligações da segunda etapa, serão beneficiadas 400 mil famílias, cerca de 1,2 milhão de pessoas, número equivalente ao total de habitantes do Estado de Tocantins”, compara Rampone.

De acordo com o engenheiro, apesar de ainda ter o aspecto poluído em São Paulo, o rio melhorou muito: “Na Bacia do Médio Tietê, onde ficam as cidades de Sorocaba, Tietê e Porto Feliz, por exemplo, a poluição foi bastante reduzida. Os problemas se concentram cada vez mais na região metropolitana de São Paulo. Em Anhembi, há dez anos não havia peixes no rio, mas hoje há muitas famílias que vivem da pesca”.

O custo total dessa segunda fase é de US$ 400 milhões – metade dos quais financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Os outros US$ 200 milhões vêm de recursos da Sabesp, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Longo prazo

O trabalho de recuperação do Tietê entrou na agenda de prioridades da Sabesp em 1992. Naquele ano, a empresa lançou o Projeto Tietê, depois de um abaixo-assinado a favor da despoluição do rio firmado por 1,2 milhão de paulistas. As obras começaram efetivamente em 1995. Os recursos para a primeira etapa foram de US$ 1,1 bilhão, divididos entre o BID (US$ 450 milhões), a Caixa Econômica Federal (US$ 100 milhões) e a Sabesp (US$ 550 milhões).

Como resultado da primeira fase, o serviço de coleta de esgoto na Grande São Paulo aumentou de 70% para 80% e o de tratamento, de 24% para 62%. As melhorias foram o resultado da construção de 250 mil novas ligações domiciliares, 1,5 mil quilômetros de redes coletoras, 315 quilômetros de coletores-tronco e 37 de interceptores.

O grande destaque, porém, foi a inauguração de três Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs): São Miguel (com capacidade para tratar 1,5 mil litros de esgoto por segundo), Parque Novo Mundo (2,5 mil litros por segundo) e ABC (3 mil litros por segundo). A Sabesp aumentou, ainda, a capacidade da ETE Barueri – de 7 para 9,5 mil litros de esgoto tratados por segundo. “Essa etapa possibilitou a duplicação de capacidade total de tratamento dos esgotos, passando para 18 mil litros por segundo”, diz Rampone.

Durante visita de técnicos do BID ao Brasil, em 1999, o Projeto Tietê ganhou o título de programa de saneamento mais bem gerenciado do mundo. Desde que foi iniciado, fez com que a mancha crítica de poluição do rio caísse sensivelmente em 120 quilômetros. Depois de pronta a segunda etapa, o objetivo é que a situação se amplie para mais 40 quilômetros, nos próximos anos.

“Esse é um processo de longo prazo, que necessita de continuidade de investimentos”, explica o coordenador do Projeto Tietê. “A despoluição é conseqüência do sistema de saneamento básico, que é questão de saúde pública. O que a empresa busca, antes de mais nada, é levar água tratada à população e afastar o esgoto da porta das pessoas.” Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, para cada 1 dólar investido em saneamento básico, pelo menos 5 dólares são economizados em despesas hospitalares.

Da Agência Imprensa Oficial/Cláudio Soares/L.S.