Programa Profissão garante emprego aos estudantes da rede pública de Ensino Médio

Parceria firmada entre Secretaria Estadual da Educação e Senac supera expectativas dos alunos

ter, 21/08/2001 - 10h28 | Do Portal do Governo


Pedro, 22 anos, morador de Artur Alvim; Andréa, 18, de Embu das Artes e Iolanda, 28, de Itaquera. O que estas pessoas anônimas e desconhecidas entre si têm em comum? O desejo em ingressar, com um certo preparo, no mercado de trabalho. Pensando nesses e em outros jovens, o Governo do Estado firmou um convênio entre a Secretaria Estadual de Educação e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) para a implementação do Programa Profissão.

Criado em março deste ano, o projeto já destinou R$ 50 milhões para atender 50 mil estudantes da rede pública do Ensino Médio no Estado. Foram destinadas quarenta mil vagas para a Grande São Paulo e 10 mil para as grandes cidades do Interior. Para atender a demanda dos pequenos municípios, o governo ampliou o convênio criando mais quatro mil vagas.

Por meio de uma pesquisa com os alunos, a Secretaria Estadual de Educação concluiu que os 38 tipos de cursos profissionalizantes que os jovens mais gostariam de fazer estão distribuídos em 11 áreas: artes, design, gestão e negócios, hotelaria turismo e lazer, informática, meio-ambiente, moda, publicidade, saúde, telefonia e preparação para o trabalho. Entre os cursos que têm maior demanda estão os de informática, hotelaria e turismo e gestão empresarial.

Além das informações técnicas, obtidas nas aulas práticas, os cursos vêm mudando o comportamento dos jovens. Dados adicionais são incluídos nas atividades, como o cuidado com a apresentação e o modo de se expressar. Também são abordados temas como cidadania, globalização, saúde e simulações de um ambiente de trabalho.

“Assim como as aulas práticas, as teóricas também são importantes. Eles estão menos intempestivos e pensam antes de falar. Estão mais ponderados”, observa a coordenadora dos cursos de informática nas escolas estaduais na Zona Leste, Irani Rosa Vignoto. Uma das unidades que ela supervisiona é a Escola Estadual Antônio Silva da Cunha Bueno, localizada em Artur Alvim, onde 200 alunos participam dos cursos de programação de computador e suporte à rede. Este último é ministrado em conjunto pelo Senac e a Cisco, empresa multinacional norte-americana, uma das líderes do mercado nessa área.

Pela propaganda do Programa Profissão na televisão, o estudante Pedro Crispim da Silva Filho, 22 anos, inscreveu-se no curso de suporte à rede. Para ele, o curso era uma grande oportunidade de aumentar o ganho salarial, uma vez que, trabalhando como auxiliar de produção, recebia R$ 400,00 ao mês. Num estágio na área, o valor sobe para R$ 500. Estando registrado, o salário inicial varia entre R$ 1.000 e R$ 1.500.

De acordo com a coordenadora do Programa Profissão da Secretaria Estadual de Educação, Maria Cândida Perez, a Cisco tem interesse em dar cursos para profissionais de rede. ‘Quanto mais profissionais especializados houver em São Paulo, maior será a condição de vender seus equipamentos para rede”, explica a coordenadora. A própria multinacional, segundo Maria Cândida, estima que no Brasil haja um déficit de 150 mil profissionais. E o Senac incluiu este curso em seu rol.

Trabalhar brincando

Quando a estudante Natália da Cruz Ramos, 18 anos, inscreveu-se no curso de animador cultural, não sabia exatamente em que consistia essa atividade. Andar na perna de pau, fazer esculturas em bexigas, dobraduras de papel, manusear fantoches, aprender algumas técnicas que ajudam a alegrar o dia-a-dia das pessoas. “É um campo muito amplo! A gente aprende a programar jogos, gincanas que ajudam a entreter as pessoas em hotéis, escolas, hospitais, centros de convenção, estâncias turísticas e nos acampamentos”, diz Natália, rindo da reação de sua mãe quando soube de sua escolha. “Ela pensou que eu ía ser palhaça”. Foi com esta atividade que ela conseguiu o emprego como recreacionista num escola infantil particular em Ferraz de Vasconcelos.

A coordenadora da Unidade Senac Itaquera, Kátia Regina Seixas, desmistifica o curso. “É uma área que não tem muito profissional qualificado, mas há um grande campo. No período de férias, aumenta-se a procura por parte dos acampamentos que precisam de recreacionistas para preencher o tempo das crianças com atividades lúdicas”, afirma.

A aluna Iolanda Adilza Domingues, 28 anos, é categórica ao dizer que recreação é coisa séria. “Você aprende a desenvolver atividades, que inclusive, nos ensina a não levar o cotidiano tão a sério”. E cita uma passagem. “A gente aprende a tornar as crianças mais arteiras como nossas aliadas, trazendo-as para frente, ajudando os recreacionistas nas atividades de lazer”, explica. Empolgada com o curso, Iolanda desenvolveu um projeto para colocar em prática no orfanato onde trabalha como voluntária, em Itaquera.

No curso de animador cultural, da Unidade Senac Itaquera, participam 22 alunas. Ao término da atividade elas podem fazer estágios. O ganho é diário e varia de R$ 20,00 a R$ 40,00.

Não é como nas novelas

As 18 alunas da rede estadual de ensino que fazem o curso de estética facial na Unidade do Senac da Frei Caneca são unânimes em afirmar que a atividade é totalmente diferente do que viam na tevê. “Nas novelas, as atrizes que interpretavam o papel de esteticistas só colocavam o creme no rosto da paciente. E o curso vai além disso”, conta Bruna Próspero, 18 anos. Como as demais, ela tinha outra idéia da atividade. “Aqui a gente aprende noções de primeiros socorros, cosmetologia, anatomia da pele e biologia aplicada”. De acordo com a docente de prática de estética facial, Janete Chinico Romano, o profissional dessa área tem um campo variado para trabalhar como clínicas estéticas, institutos de beleza, spas e até em cruzeiros marítimos.

As adolescentes vêem esta iniciativa como uma oportunidade de ouro para se especializarem no que gostam, uma vez que o curso pago no Senac tem um custo médio de R$ 250,00 por mês. “Saio todos os dias duas horas antes do início do curso para chegar até aqui. E vale a pena o esforço”, conta Andréia dos Santos, 18 anos, que mora em Embu das Artes, trabalha como cabeleireira e já fez curso de massagista. ‘Não basta a gente ter uma profissão só. Quanto mais soubermos fazer, melhor’.

Como se dá a parceria

A parceria entre o Governo e o Senac obedece os seguintes critérios: o Estado paga R$ 1.000 por aluno ao Senac, que por sua vez, é responsável pela didática das aulas. As atividades são dadas, parte em escolas estaduais, em unidades do Senac, ou em prédios alugados pela instituição. A escolha pelo Senac foi devido a sua idoneidade, o reconhecimento de seus cursos e sua capacidade de administrar um número grande de vagas. Para implantar o programa, o Senac contratou 4.064 mil professores em todo o Estado.

Pioneirismo e eficiência

A coordenadora do programa da secretaria da Educação analisa que o Profissão é muito eficaz porque atinge todos os objetivos, facilitando a empregabilidade dos jovens mais carentes. “É um curso que proporciona ao aluno a prática de uma profissão. Eles estão muito entusiasmados porque o que estão aprendendo é bem diferente do ensino convencional”, diz Maria Cândida.

“Esse é um programa pioneiro no Brasil. O Ministério da Educação achou muito interessante devido à eficiência e ao baixo custo”, explica. Ela conta que o ministério havia destinado verbas para alguns Estados iniciarem cursos profissionalizantes, mas que não deram certo porque as administrações foram pelo caminho convencional, como construir e equipar a escola técnica e desenvolver os currículos. “Quando tudo estava pronto, o curso já não tinha mais mercado. O Ministério achou o nosso programa interessante porque escolhemos outro caminho”, esclarece a coordenadora. As empresas, quando querem estágio, procuram profissionais por meio do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE) que tem uma interface muito eficiente com o Senac.

Desafio positivo

O coordenador do Programa Profissão do Senac, Francisco de Moraes, faz uma avaliação positiva da parceria. “O tamanho deste trabalho foi um desafio para nós, devido ao grande números de alunos que o Senac está atendendo. Praticamente dobrou o nosso atendimento”, informa.

Os cursos profissionalizantes do Senac são voltados para o setor terciário, que é justamente a área mais empregadora nos dias de hoje. “Houve uma mudança no perfil do mercado de trabalho. O setor secundário, como a área de metalurgia, está contratando cada vez menos”, observa Moraes.

Ele comemora o sucesso da iniciativa conjunta e afirma que a parceria vem chamando a atenção de outros Estados. ‘Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro estão procurando as unidades do Senac de seus Estados para tentar implantar o programa”, afirma.

Para a coordenadora do programa pelo Senac, Maria Aparecida Sousa, a iniciativa também está sendo positiva. “O interesse é tão grande que os alunos que estão no curso querem saber se no ano que vem haverá prosseguimento”.

Por conta do programa, a instituição vem recebendo retorno dos familiares dos alunos. “Tem muitas mães que ligam agradecendo a mudança no comportamento dos filhos, que antes ficavam nas ruas”, ressalta Maria Aparecida.

Criado em 1946, o Senac é uma instituição mantida pelas empresas do comércio. Seu principal foco é a educação profissional, fazendo a interface entre o setor educacional e o mercado de trabalho. A instituição está presente em todo o Brasil. No Estado de São Paulo há 51 unidades, sendo 25 na Capital.

Valéria Cintra


Fotos – Estudantes participam de cursos de animação cultural e de informática