A vontade de trabalhar aliada a falta de experiência. Muitos jovens esbarram neste empecilho quando saem à procura do primeiro emprego, principalmente os de camada social menos favorecida. Pensando neles, o Governo do Estado criou há um ano o Programa Profissão que tem como objetivo proporcionar aos estudantes da rede estadual de Ensino Médio Fundamental a empregabilidade por meio de 95 cursos profissionalizantes. Neste ano, foram atendidos 40 mil alunos em 218 municípios, incluindo Capital, Grande São Paulo e Interior, totalizando investimentos de R$ 40 milhões pelo Governo paulista. Em 2001, 46.500 mil estudantes em todo o Estado se formaram no programa.
O balanço é positivo. Após seis meses de curso de suporte de rede, o estudante Luiz Alberto Ferreira Júnior, de 21 anos, conseguiu um estágio na Companhia de Processamento de Dados do Município – Prodam, na Capital. A oportunidade foi possível graças as parcerias que o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Educação, firmou com quatro instituições: Senai, Senac, Fundação Paula Souza e o Centro Federal de Educação Tecnológica (Cetesp).
Luiz Alberto fez o curso numa instalação do Senac na Lapa. “Sempre tive curiosidade em mexer em computador. É uma área com grande oferta de emprego”, diz. A atividade foi montada em conjunto entre o Senac e a Cisco, multinacional norte-americana, uma das líderes do mercado na área de programação de computador e suporte à rede.
“Com certeza não estaria trabalhando se não tivesse feito o curso que é gratuito e me oferece um leque de oportunidades”, analisa Luiz Alberto que ganha R$ 500,00 e leva duas horas para deslocar-se de sua casa, em Osasco, até o Parque do Ibirapuera, seu local de trabalho. “Vale a pena. Estou trabalhando no que gosto. A gente fica mais animado. Me sinto valorizado”.
Entre os 95 cursos que o programa oferece estão: informática; artes; design; gestão de negócios; hotelaria, turismo e lazer; meio-ambiente; moda; publicidade; saúde; telefonia; preparação para o trabalho; iniciação à mecatrônica; mantenedor em refrigeração comercial e industrial; desenhista mecânico, auxiliar de laboratório metalúrgico, impressor offset, laboratorista de alimentos, entre outros.
A parceria entre o Governo e as instituições obedece os seguintes critérios: o Estado paga R$ 1.000 por aluno aos parceiros, que por sua vez são responsáveis pela didática das aulas. As atividades são dadas parte em escolas estaduais, em unidades do Senai, Senac, Fundação Paula Souza, Cetesp, ou em prédios alugados pelas instituições.
Em cidades como Sertãozinho, região de Ribeirão Preto, as aulas foram realizadas no prédio da prefeitura e os equipamentos foram comprados pelos empresariado local. “Para eles vale a pena investir porque o setor sente falta de mão-de-obra qualificada”, diz Cleide Bochixio, coordenadora do Profissão, pela Secretaria Estadual de Educação.
Ela ainda ressalta que os cursos vêm sendo enfocados de acordo com a vocação econômica de cada região. “Está sendo feita uma pesquisa para facilitar a empregabildiade do jovem no Interior. Com isso, ele não precisa ter gastos com hospedagem nas grandes cidades”, afirma.
Igualdade de oportunidades
Igualdade de oportunidade para disputar o competitivo mercado de trabalho. É assim que a estudante Amábili Rodrigues Vieira, de 19 anos, define as diversas informações que absorveu em oito meses do curso de Atendimento e Planejamento Publicitário coordenado pelo Senac em uma escola estadual em Artur Alvim, Zona Leste da Capital. Esforçada, ela obteve grandes feitos. Além de estagiar numa empresa de marketing na área de atendimento ao cliente, ela passou no curso de Publicidade e Propaganda da faculdade Mackenzie.
“Me sinto privilegiada pois não é todo mundo que consegue estar na área e cursar uma faculdade ao mesmo tempo”, diz. Antes do estágio, Amábili já tinha uma certa bagagem da área pois havia trabalhado em atendimento publicitário em uma agência de publicidade de pequeno porte, mas ela sentia falta das informações teóricas. “Sempre que necessitava, as buscava em um livro. Com o Profissão tive importantes disciplinas que me ajudaram na compreensão da rotina do meu trabalho”. Ela também ressalta as dicas dadas pelos professores sobre o mercado de trabalho e de como se portar numa entrevista. “Nos sentimos muito valorizados em termos tido aulas com professores de gabarito, que estão trabalhando na área e não ficam somente na teoria”, observa.
Com o estágio, Amábili ganha R$ 650,00, o que lhe ajuda a pagar a mensalidade da faculdade, R$ 498,00. “ Tiro um peso das costas de meus pais e ainda me sobra um pouco”, conta. Com todas estas ferramentas ela acredita que está em pé de igualdade para disputar o mercado de trabalho com o aluno que estudou em colégio particular. “Ganha quem tem um bom currículo e experiência”, analisa.
Dois alunos do Profissão estão estagiando na Cisco,
líder mundial em redes para a Internet
Além de contar com importantes parceiros no Profissão, o Governo do Estado dispõe da colaboração de uma renomada empresa na área de informática que vem ajudando a inserir o jovem no mercado de trabalho. É a Cisco System, Inc que há dois anos desenvolve o Programa Networking Academy voltado às aulas de informática e rede de computadores. A empresa desenvolve a atividade com várias instituições: Senac – por meio do Programa Profissão-, Fundação Bradesco e o CIEE.
A Cisco treina o instrutor do Senac, via web, que por sua vez dão aulas aos alunos da rede estadual de Ensino Médio. Líder mundial em redes para Internet, para a empresa vale a pena firmar estas parcerias porque ela se beneficia com a formação dos futuros profissionais. “Para a Cisco continuar crescendo e vender seus sistemas ela precisa de pessoas que saibam utilizar seus equipamentos”, explica o gerente de operações da empresa do Programa Networking Academy, Wagner Catelan. “Como a tecnologia é muito avançada você não tem profissionais, que estejam saindo das escolas e das faculdades com tal nível de conhecimento”, complementa.
Entusiasta do Profissão, para Catelan a parceria superou expectativas. “O Profissão oferece uma grande oportunidade para resgatarmos o jovem da periferia e trazê-los para uma condição de vida mais favorável com carreira ascendente”, afirma. Com este trabalho, a Cisco concilia seus negócios com um profundo olhar para a parcela menos favorecida da população.
O certificado de conclusão do curso pela empresa é o grande passo para que o aluno consiga um bom emprego na área. Mais de 250 mil estudantes de 140 países já fizeram o curso Networking Academy da Cisco.
Dos 16 alunos que fizeram estágio na multinacional em São Paulo, dois eram do Programa Profissão. Munidos de fone de ouvido e laptop, na sala de contact center, eles prestam atendimento on line (via internet ou telefone) para os diversos clientes da empresa, tirando as dúvidas técnicas sobre configurações. “Quando não sabemos passamos para o supervisor. Nunca deixamos o cliente sem resposta”, relata Aline Beltrani, 18 anos. Junto com o colega Rodrigo da Silva Laurentino, 19 anos eles passaram por um criterioso processo de seleção no Senac para conseguirem a vaga.
Diariamente eles saiam da Zona Leste onde moram com destino ao complexo empresarial no Brooklin Novo, onde está instalada a Cisco. “Tudo que aprendemos nas aulas do Senac colocando em prática no estágio”, conta Rodrigo satisfeito com sua primeira oportunidade de emprego. Filho de vendedor, ele não tem computador em casa, e, justamente por gostar da área aproveitou ao máximo as aulas do Senac. Com o estágio ganha R$ 700,00, mais os vales transporte e refeição. O salário o ajudou a pagar a mensalidade de sua faculdade de R$ 360,00, com a sobra ajudou em casa. “Estou tendo um grande salto em minha vida. O que infelizmente não aconteceu com os demais colegas do meu bairro”, conta Rodrigo que mora no Jardim São Carlos, em Ermelino Matarazzo, Zona Leste da Capital.
Para que o programa de informática da Cisco atinja um maior número de pessoas, o executivo da empresa, Catelan, torce para que o Governo do Estado e o Senac prossigam com a parceria, estendendo os diversos módulos que o curso abrange.
A Cisco Systems é líder mundial em networking. Mais de 85%, de todo o tráfego da Internet passa por seus equipamentos. Atualmente ela tem ajudado empresas de todos os portes a ingressarem no mundo das telecomunicações, por meio do fornecimento de redes multiserviço, que agregam dados voz e vídeo em uma única infra-estrutura, potencializando o investimento das corporações e tornando-as mais competitivas.
Valéria Cintra
