Programa ajuda microempresas a sair do vermelho

Projeto é uma iniciativa da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho com a parceria da Fundação Instituto de Administração da USP

sáb, 18/08/2001 - 14h53 | Do Portal do Governo

Projeto é uma iniciativa da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho com a parceria da Fundação Instituto de Administração da USP

Para ajudar empreendimentos a sair de uma situação crítica, o Governo do Estado, por intermédio da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho (Sert) está ensinando microempreendedores a fortalecer o próprio negócio, passando por um saneamento financeiro, reformulação comercial e amadurecimento administrativo.

Trata-se do Programa Empreendedor Alerta, resultado de uma parceria entre a Sert e a Fundação Instituto de Administração da USP (FIA), criado com o objetivo de orientar as microempresas como sanear as finanças, sair do vermelho e começar a dar lucro.

O programa consiste em um curso à distância destinado a trabalhadores participantes do Proger, Banco do Povo e PAE, todos programas da Sert. “O intuito é recuperar os negócios, com estratégias encontradas por outras empresas para sair da situação de sufoco”, explica Roy Martelanc, um dos coordenadores da FIA.

O Empreendedor Alerta é composto por uma fita de vídeo, manuais dos quatro módulos – Saneamento Financeiro, Reformulação Comercial, Amadurecimento Administrativo e Integração -, e um site para monitoração de dúvidas. Os quatro livretos estão divididos em vários capítulos, ilustrados com situações reais, inclusive com dicas sobre juros e descontos. Os temas como Recapitalização do Negócio, Renegociação de Dívidas, Agressividade Comercial, Aprimoramento da Equipe são abordados no Programa de maneira bem didática.

Dificuldades para manter um negócio próprio

No mundo dos negócios, especialmente entre micro e pequenas empresas brasileiras, são comuns os sinais de fraqueza. Levantamento feito pelo Sebrae, com três mil empresas paulistas criadas entre 1995 e 1997, revela que 35% fecharam suas portas; 46% não chegaram a completar o segundo ano de vida e 56% encerraram as atividades antes do terceiro ano. Segundo a Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), em 1994 foram formadas mais de 143 mil empresas. Este número vem oscilando desde então e o ano passado caiu para 123 mil.

Na opinião de especialistas, entre as causas mais freqüentes das falências dos estabelecimentos comerciais estão a falta de planejamento estratégico e experiência no segmento, altas cargas tributárias, forte concorrência e, para completar, os maus pagadores.

“O que falta, muitas vezes, é uma estratégia comercial. Por exemplo, a venda de novos produtos para mesmos clientes ou investimento em outro tipo de mercado”, afirma Roy Martelanc. Por intermédio do trabalho desses pequenos empresários, a Sert pretende contribuir para o aumento da geração de renda e emprego.

Programa Empreendedor Alerta

Para encontrar soluções que salvem empreendimentos, os profissionais da Fundação estudaram 223 casos de empresas de vários setores da economia urbana em todo o País que estavam passando por uma crise financeira. “O primeiro passo é o saneamento financeiro. De pouco adiantam outras ações, sabendo que não há como pagar as contas amanhã”, completa Roy.

Cerca de 73% das empresas avaliadas tomaram como primeira medida a recapitalização do negócio; a segunda opção escolhida por 66,8% das empresas foi a redução dos gastos e 39,5% optaram pela renegociação de dívidas. No item redução de gasto, nem sempre a demissão foi a melhor saída. “Só em casos extremos ela vale a pena. Se o tempo para recontratar as pessoas for de até oito meses, é bom mantê-los. Empregar e treinar equipes gera um custo, e tem de ser levado em consideração”, conclui Adelino De Bortoli Neto, um dos idealizadores do projeto. Uma alternativa sugerida pelo Programa é o banco de horas, que pode ser negociado com o sindicato dos empregados. As horas não trabalhadas, porém pagas, podem ser transformadas em horas extras gratuitas mais tarde.

No final dos três primeiros módulos, foram elaboradas perguntas para avaliação do aluno, que serão posteriormente enviadas à coordenação do Programa. Após a finalização do curso, que tem uma estimativa de duração de 40 horas, o empresário recebe em casa seu certificado.

Os interessados podem pedir o kit, disponível gratuitamente via:

– Internet: www.fea.usp.br/fia/proced/empreendedoralerta

– Correio: Endereço: Empreendedor Alerta – Fundação Instituto de Administração, Av.: Profº Luciano Gualberto, nº 908 – s/ G 31 – Butantã / CEP 05508-900.

– Fax: (0 XX 11) 3814 5047

Interessados também podem se cadastrar pelo site da Sert: www.emprego.sp.gov.br

Receita das empresas para sair do vermelho

Há 14 anos, Aziz Maluf Filho decidiu realizar o antigo sonho de abrir o próprio negócio. Fundou, em janeiro de 1987, em Alphaville, o “Recanto Árabe Restaurante”. No final de 1989, encerrou o atendimento ao público, transformando o restaurante numa rotisseria. “Foi um sucesso. Começamos a planejar novas frentes de loja para atendimento ao varejo”, conta Aziz . Como tantos brasileiros, no entanto, ele foi atropelado, em 1990, por mais um plano econômico. “Com o Plano Collor, fomos obrigados a repensar as nossas metas. O país ficou praticamente paralisado e foi aí que percebi um nicho de mercado – fornecer nossos produtos para revenda de outros lojistas”, lembra o empresário.

A luta estava apenas começando, relata, de forma emocionada. “Nunca deixei de acreditar. Continuamos atuando no varejo e em 1995, já no Plano Real, começamos a sentir a retração do mercado, alta dos custos de produção, economia estagnada. Para superar tudo isso, investi em novos equipamentos. Fiquei endividado, mas acreditei na retomada da economia do País….”

A retomada

“Para superar todas as adversidades, planejei rapidamente nova estratégia. No final de 1999, resolvi fechar a rotisserie para redução de custos. Dispensei funcionários, impostos, aluguel… renegociei com o banco a dívida anteriormente assumida, vendi bens pessoais. Com isso, pude sanear parcialmente as finanças da empresa. Concentrei toda a nossa força de trabalho na unidade produtiva – passei a fornecer para revenda, atacado, buffet. Hoje vejo, tomei a decisão certa. Atualmente, tenho o controle da situação, mas tudo ainda com muito rigor e austeridade. Estou caminhando para a retomada do crescimento com segurança.”

Novo ânimo

No início do ano passado, Aziz recebeu o convite para participar do curso à distância do Programa Empreendedor Alerta. ‘Otimista que sou, aceitei prontamente. São depoimentos de grande valia para novos empreendedores, ou até mesmo uma reciclagem para os que já estão na ‘ciranda’. A idéia é aproveitar a vivência de quem já passou pela situação, para não ser surpreendido com pequenos detalhes – ou grandes falhas – como muitos empresários, que acham que com eles, isso nunca vai acontecer”.

Além do programa Empreendedor Alerta, o empreendimento de Aziz teve o fôlego renovado por outro programa da Secretaria, o Jovem Cidadão – Meu Primeiro Trabalho. “Tenho duas estagiárias do programa, que têm grandes chances de serem contratadas”, finaliza Aziz.