Produção: Café se apresenta como negócio promissor para 2003

O café arábica, por exemplo, cresceu 31,75% nos últimos 12 meses na Bolsa de Nova Iorque

qui, 09/01/2003 - 15h34 | Do Portal do Governo

O ano de 2002 finaliza com as cotações do café em níveis semelhantes aos verificados no início de 2001. A recuperação do café robusta no mercado de Londres começou em janeiro de 2002, verificada a quebra da safra do Vietnã, e atingiu, em dezembro último, a média de US$ 47,30 por saca de 60 quilos (incremento de 107,63% nos últimos 12 meses), superando em 21% o valor praticado em janeiro de 2001.

A recuperação dos cafés arábicas, que teve início somente a partir de julho de 2002, cresceu 31,75% nos últimos 12 meses na Bolsa de Nova Iorque, atingindo em dezembro US$86,06/sc, ainda 5,45% inferior à cotação média observada em janeiro de 2001

Assim, pode dizer-se que, no segundo semestre de 2002, se observou forte inversão na tendência de preços no mercado cafeeiro, dado que, após a grande safra mundial verificada no ano-safra 2002/03 (estimativas do USDA de 125 milhões de sacas) – cerca de 15 milhões de sacas superior ao consumo do ano -, a expectativa é de que no ano-safra 2003/04 a produção mundial seja inferior ao consumo.

No mercado interno, os preços recebidos pelos produtores, além de acompanhar as altas nos mercados internacionais, têm sido fortemente estimulados pela desvalorização do real, de tal forma que as cotações observadas para o café arábica, no âmbito dos produtores em São Paulo, voltaram aos níveis de maio de 2000, em termos nominais. Assim, os preços recebidos pelos produtores cresceram 77,13% no ano de 2002.

Entretanto, a instabilidade do câmbio brasileiro levou ao aumento do diferencial das cotações no mercado futuro da BM&F, em relação à de Nova Iorque. Esta diferença, que chegou a menos US$ 9,71/sc em dezembro de 2001, cresceu ao longo dos meses para -US$ 21,62 /sc em dezembro de 2002, o que acabou por refletir nos preços para os produtores brasileiros.

Isso ocorreu porque a forte pressão de venda exercida pelos exportadores brasileiros proporcionou aumento nos descontos oferecidos aos importadores, resultando em menores cotações no mercado interno brasileiro e em menores preços aos produtores, ao mesmo tempo em que o café brasileiro recuperou uma importante fatia de 32% do mercado internacional do café. Assim, os preços não estão captando toda alta observada no mercado internacional do café.

É importante destacar que, de agora em diante, as cotações de café no Brasil e no mercado internacional vão depender fortemente do desenvolvimento da safra brasileira do ano-agrícola de 2002/03, assim como do comportamento do clima até o completo desenvolvimento dos grãos e início da colheita. Nestas condições, os produtores, tanto na venda de seus estoques quanto na venda da safra futura, deverão estar atentos à expectativa dos preços futuros, para melhorar seus níveis de negociação, após a crise enfrentada nos últimos dois anos.

A disparidade das previsões sobre a safra

De acordo com última estimativa de safra divulgada, em 19/12/2002, pela Companhia Nacional de abastecimento (Conab), a produção brasileira de café, no ano 2002, foi da ordem de 47,2 milhões de sacas, o que corresponde a volume 5% superior à estimativa anterior e 51% maior que a produção de 2001, reestimada em 31,3 milhões de sacas. Minas Gerais produziu 24,6 milhões de sacas, seguido de Espírito Santo (9,0 milhões de sacas) e São Paulo (5,8 milhões de sacas). Somados, esses três estados respondem por mais de 80% da produção.

Esses resultados não causaram qualquer surpresa, pois já predominava no mercado o sentimento de que o órgão federal, responsável pelo levantamento, revisaria para cima os dados de produção de 2002, em função do surgimento de novas variáveis não consideradas anteriormente. Mesmo assim, o volume divulgado ficou abaixo das estimativas feitas por alguns segmentos do mercado, que ultrapassavam 50 milhões de sacas. O próprio Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimou em 51,6 milhões de sacas a produção brasileira de 2002.

Também foi anunciada a primeira estimativa para a safra 2003, a qual deverá variar entre os limites de 27,7 milhões e 29,7 milhões de sacas.
Chama atenção o fato de que a grande queda na produção em 2003 se dará em cima da produção de café arábica, que deverá declinar de 37 milhões para 19 milhões a 20 milhões de sacas, enquanto, no caso do robusta, a redução deverá ser desprezível, passando de praticamente 10 milhões para 9 milhões de sacas. O mercado poderá, assim, encontrar dificuldades de abastecimento de café arábica, principalmente de qualidade superior, pelo fato de que as maiores quedas na produção serão observadas nas regiões tradicionalmente produtoras de cafés finos.

Entretanto, o que interessa, principalmente para produtores e cooperativas, é saber que, pelos fundamentos do mercado, a tendência de preços, a médio prazo, é de evolução bastante favorável. Assim, se no passado (desde 1997, já prevendo preços declinantes) alertávamos contra a afoiteza com que os produtores investiam na produção, ampliando as áreas de plantio, hoje a nossa recomendação é no sentido de postergar suas vendas, para obter resultados econômicos mais favoráveis, inclusive compensando parte dos prejuízos acumulados em anos recentes.

Algumas considerações sobre os números do mercado mundial embasam o nosso otimismo quanto ao futuro. Segundo o USDA, a produção mundial de café em 2002 será de 125 milhões de sacas, considerada nessa avaliação a produção brasileira de 51,6 milhões de sacas. Um ajuste desse número, em função da produção brasileira dada pela Conab (47,2 milhões de sacas), reduziria esse volume global para 120,8 milhões de sacas, ainda assim bem acima do consumo global, estimado em menos de 110 milhões de sacas pela Organização Internacional do Café (OIC) e a maior parte dos analistas.

Entretanto, a grande questão no mercado cafeeiro mundial é quanto ao balanço entre produção e consumo no ano 2003. Se considerarmos que os demais países não terão grandes alterações em sua situação e estrutura produtiva, e admitindo-se ainda uma quebra de safra da ordem de 35 a 40% na produção brasileira, é grande a probabilidade de se ter, pela primeira vez nos últimos 5 anos (a última vez foi em 1997), uma situação de mercado em que a produção global não será suficiente para atender ao consumo, obrigando os países consumidores a recorrer aos estoques, cujo volume atinge mais de 20 milhões de sacas.

Do Instituto de Economia Agrícola
C.A