Produção: Brasil torna-se exportador de mel em apenas dois anos

O Brasil exportou 11,24 milhões de quilos de mel natural em 2002

sex, 31/01/2003 - 16h31 | Do Portal do Governo

O Brasil exportou 11,24 milhões de quilos de mel natural em 2002 (até novembro), no valor total de US$ 19,94 milhões, o que significa acréscimo de mais de 4.000 pontos percentuais em relação aos 268,9 mil quilos (US$ 331,06 mil) embarcados no ano 2000.

A maior presença brasileira no mercado internacional já fora verificada em 2001, com exportações de 2,49 milhões de quilos, o equivalente a US$ 2,81 milhões.

Os Estados Unidos são o principal destino do mel brasileiro, tendo importado 5,28 milhões de quilos (US$ 10,37 milhões) no ano passado. As exportações brasileiras para o mercado norte-americano praticamente inexistiam nos anos anteriores.

Alguns países europeus aparecem em seguida, liderados pela Alemanha com importação de 4,88 milhões de quilos (US$ 7,94 milhões). As exportações para o mercado alemão já haviam dado um salto em 2001, quando somaram 2,10 milhões de quilos (US$ 2,34 milhões).

Em menor escala, aparecem Reino Unido, com 702,80 mil quilos (US$ 1,05 milhão), Bélgica, com 223,90 mil quilos (US$ 375,98 mil) e Espanha, com 82,30 mil quilos (US$ 90,89 mil). Esses países praticamente não importavam mel do Brasil nos anos anteriores, embora a Espanha já desse sinal de interesse pelo produto brasileiro em 2001.Assim, em 2002 o Brasil, com quase US$ 20 milhões, já figurava entre os principais exportadores.

As exportações mundiais de mel somaram US$ 440,14 milhões, de acordo com dados de 2001. A China aparecia na liderança com US$ 98,82 milhões, seguida da Argentina com US$ 71,51 milhões.

A produção mundial alcançou 1,26 milhão de toneladas em 2001, das quais 254,76 mil toneladas produzidas pela China, 100,24 mil toneladas pelos Estados Unidos e 90 mil toneladas pela Argentina. O Brasil produziu naquele ano cerca de 20 mil toneladas.

Uma das explicações para o Brasil ter abocanhado maior fatia do mercado é a queda das exportações argentinas, de mais de 24 mil toneladas entre 1999 e 2001, segundo a FAO (Food and Organization of The United Nations). No mesmo período a produção da Argentina diminuiu 18 mil toneladas. Já as exportações brasileiras ultrapassaram 50% da safra em 2002, provocando o desabastecimento do mercado interno.

Em novembro de 2001, a Comunidade Européia detectou a presença de clorofenicol no mel importado da China. Imediatamente, os europeus suspenderam as importações chinesas, conforme o presidente da Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíficas Européias (Apacame), Constantino Zara Filho. Com isso, começaram a aparecer no Brasil importadores norte-americanos e europeus à procura de mel, segundo revela o presidente da Apacame.

Além desses fatos, o fim do câmbio fixo em 1999, com a desvalorização do real em relação ao dólar ao longo dos últimos anos, contribuiu para deslanchar as exportações brasileiras. O Brasil tornou-se competitivo no mercado de mel, cujo preço varia entre US$ 1.200 e US$ 1.700 a tonelada.

O nível de preços mais remuneradores no mercado internacional contribuiu, assim, para a mudança no patamar dos preços de equilíbrio no mercado interno, segundo Constantino. ‘O nosso preço histórico é de R$ 60, R$ 65, R$ 70 a lata (de 25 quilos) para o alto atacado, para grandes quantidades… Ou seja, comprava-se uma lata por R$ 80, R$ 85; por 20, 30 latas, pagava-se em torno de R$ 60, R$ 70; na compra de 500 a 1.000 latas, o preço caía para R$ 55, R$ 60. Pois, em novembro do ano passado, teve gente cobrando R$ 250 a lata. E vendeu por R$ 250.’

Nesse contexto, o presidente da Apacame iniciou uma campanha para dobrar, no máximo em dois anos, a produção brasileira de mel, que o setor calcula entre 30 e 34 mil toneladas, acima portanto da previsão oficial. Nesse esforço, ele inclui a iniciativa do Banco do Nordeste, que nos últimos dois anos teria investido R$ 90 milhões no financiamento de novos projetos de produção de mel na região.

Na apicultura, cerca de 80% são produtores hobbistas, com até 400 colméias, que produzem mel silvestre. A partir desse nível, o produtor já é considerado semiprofissional e produz mel de flor de laranjeira e de flor de eucalipto, além de floradas como cajueiro, marmeleiro, angico, cipó-uva e carqueja, estas mais presentes no nordeste. A Apacame promove seis a oito cursos anuais e reuniões plenárias mensais, de maneira a fomentar a atividade e profissionalizar os pequenos produtores com maior embasamento técnico.

No entanto, Constantino não considera que a mão-de-obra especializada seja o maior entrave ao desenvolvimento do setor. As restrições estão nas técnicas de manejo e no acesso ao pasto apícola por parte dos apicultores profissionais, que se deslocam com suas colméias. Faltam, na sua opinião, um programa de manejo para aumentar a produtividade das colméias e uma política que leve à abertura de novos pastos apícolas.

A apicultura está sustentada no tripé abelha, técnica e meio ambiente (pasto apícola). Resolvidas as questões do manejo e do acesso aos pastos apícolas, Constantino acredita que é o Brasil tem potencial para atingir a produção de 200 mil toneladas de mel por ano, podendo igualar-se à China.

O Brasil tem a oportunidade de manter, e até ampliar, o mercado externo conquistado nos dois últimos anos. Para isso, terá de trabalhar em várias frentes. Entre as possibilidades, o presidente da Apacame aponta o potencial de exportação de mel orgânico (de apiário inspecionado por uma certificadora) e de produtos de marca com valor agregado, inclusive o própolis cujo mercado ainda está por ser conquistado.

Do Instituto de Estudos Agrícolas
C.A