Poli: Laboratório simula ancoragem de navios de novo terminal marítimo no Maranhão

Protótipo simula o acúmulo de sedimentos e realiza ensaios de atracagem dos navios

qua, 25/06/2003 - 20h50 | Do Portal do Governo

O Laboratório de Hidráulica da Escola Politécnica (Poli) da USP possui um modelo, em escala reduzida, do terminal marítimo de Ponta da Madeira, em São Luís (MA). O protótipo simula o acúmulo de sedimentos e realiza ensaios de atracagem dos navios. A Poli, em convênio com a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), participou da construção do terceiro pier do terminal, que será inaugurado em novembro deste ano, permitindo o aumento das exportações dos minérios de Carajás.

O modelo está instalado num tanque de 1.500 metros quadrados em um galpão na Poli, e seu tamanho é 170 vezes menor que o original. O professor Paolo Alfredini, responsável pelos estudos, explica que o modelo simula correntes de maré para avaliar a proteção do cais e das embarcações. ‘Também é estimado o efeito das marés no acúmulo de sedimentos, para verificar as necessidades de dragagem’, relata. ‘A região é abrigada das ondas, mas tem marés muito intensas, que chegam a subir 7 metros, quando em Santos a altura máxima é de 1,5 metro.’

Segundo Alfedini, a força das correntes marítimas reduz a deposição de sedimentos, diminuindo os trabalhos de dragagem. ‘A profundidade do mar na região é de 25 metros, adequada para embarcações de grande porte, como as que carregam minérios’, explica.

Ponta da Madeira é o segundo porto do Brasil em movimentação de carga, exportando minérios de ferro, manganês e ferro-gusa de Carajás, e a soja do Sul do Maranhão. No porto opera o Berge Stahl, maior navio mineraleiro sólido do mundo, com 342 metros de comprimento, 62 de largura, 23 de calado (profundidade) e capacidade para 365 mil toneladas de minério. Os maiores navios em Santos carregam 75 mil toneladas.

Práticos

O modelo do porto também simula a atracagem (atracação e desatracação) de navios no novo pier. Os testes são realizados com os próprios práticos de Ponta da Madeira, responsáveis pelo comando do navio para ancorá-lo (atracá-lo ou desatracá-lo) no porto. Numa das salas do laboratório, uma versão da embarcação, em escala reduzida, é operada via rádio. A visão do prático dentro do navio é fornecida por uma microcâmera instalada na pequena embarcação, que transmite as imagens para um telão dentro da sala. Outras duas câmeras, instaladas no pier e no alto do tanque, monitoram toda a manobra.

Durante o ensaio, são simuladas as condições das correntes de maré, a partir dos dados coletados no local. Quatro ventiladores operados à distância atuam como os rebocadores que posicionam o navio, acionados de acordo com as instruções do prático.

Segundo Alfredini, o tempo do ensaio é 13 vezes menor do que na atracagem(atracação) real, exigindo respostas mais ágeis nas manobras. ‘Os práticos fazem em cinco minutos o que leva uma hora com o navio real’, explica. ‘As simulações serviram para se chegar a uma distância segura entre embarcações, cerca de 30 metros, evitando acidentes que tragam riscos ambientais e econômicos.’

A resistência das defensas do pier também é testada por microsensores instalados no modelo. ‘As defensas são feitas com amortecedores capazes de resistir a um impacto de 460 toneladas’, relata Alfredini. Todo o modelo foi cercado por um grande acortinado negro, montado com a consultoria de técnicos da Escola da Arte Dramática (EAD). ‘A cortina evita que o ambiente do galpão onde está o Laboratório interfira na atuação dos práticos’, explica o professor.

Parceria

A cooperação entre o Laboratório de Hidráulica da Poli e a Vale do Rio Doce começou em 1977, com os estudos para a construção do primeiro pier de Ponta da Madeira, inaugurado em 1985. ‘Nos últimos 25 anos foram investidos US$ 5 milhões em pesquisas’, conta Alfredini. O modelo do porto, inaugurado em 1979, teve sua área aumentada de 800 para 1500 metros quadrados, num investimento de 700 mil reais que incluiu a modernização dos equipamentos usados nos ensaios.

O professor acredita que a parceria deverá prosseguir nos próximos anos. ‘A Vale estuda a construção do quarto pier em Ponta da Madeira, e a construção do Polo Siderúrgico em São Luís deverá aumentar a movimentação do porto’, explica. A empresa também deve construir com a China um navio com capacidade para 450 mil toneladas de minério, o que exigirá ensaios específicos de atracagem.

Júlio Bernardes – Agência USP
-C.M.-