Pesquisa: USP produz RNA para silenciamento de genes anormais

Ele não gera efeitos colaterais e pode ser empregado em animais ou até mesmo em humanos

qua, 16/07/2003 - 14h31 | Do Portal do Governo

Pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) da USP de Ribeirão Preto produziram em laboratório um RNA – ácido ribonucleico, que determina a expressão do gene – de dupla fita.
Trata-se do dsRNA, que destrói o RNA mensageiro de um único gene, sem afetar os demais, com pouco ou nenhum efeito colateral. A técnica, criada em pesquisas sobre o metabolismo de abelhas da espécie Apis mellifera, poderá ser aplicada em outros animais e no tratamento de doenças em seres humanos como o câncer, onde genes anormais poderiam ser silenciados.

Segundo a professora Zilá Luz Paulino Simões, coordenadora do projeto, o estudo buscou impedir a manifestação do gene responsável pela produção da vitelogenina, proteína encontrada no organismo das abelhas. Um fragmento de 500pb (pares de base) do cDNA (DNA complementar) da vitelogenina foi usado para construir o RNA de dupla fita, de modo a impedir a expressão do gene, ou seja, a produção da proteína.

A injeção do dsRNA em embriões no início do desenvolvimento (fase de pré-blastoderme) silenciou a expressão do gene em 16% das abelhas analisadas na vida adulta. ‘Quando o dsRNA foi injetado em operárias recém-nascidas, o silenciamento manteve-se até 15 dias depois do tratamento em 96% dos indivíduos’, conta Zilá.

A Apis mellifera é uma abelha de hábitos sociais, cujos ninhos contêm uma rainha fértil e até 30.000 operárias estéreis. A vitelogenina é a principal protéina do ovo dos insetos. ‘Nas abelhas operárias, a vitelogenina representa 40% do total de proteínas da hemolinfa (sangue das abelhas) e nas rainhas, 60%’, explica a pesquisadora. Sintetizada no corpo gorduroso e/ou ovários, a vitelogenina também é usada no transporte de ions metálicos, lipídios e hormônios, e na resposta imune.

Referência

Os pesquisadores localizaram, sequenciaram e analisaram a expressão do gene da vitelogenina em abelhas rainhas e operárias desde os estágios de larva até a vida adulta. ‘Os resultados do estudo, inéditos em abelhas adultas, mostram que o método permite estudar a expressão de um único gene sem alterar as funções de outros’, explica Zilá Simões. ‘Isto é reforçado pelo fato de as abelhas tratadas apresentarem desenvolvimento aparentemente normal’.

A professora relata que o protocolo da pesquisa, com a descrição de todo o método de trabalho, foi solicitado por laboratórios de referência no exterior, para realização de experiências semelhantes. A modulação do gene da vitelogenina pelos hormônios morfogenéticos, ecdisteróides e hormônio juvenil também foi um dos objetivos do projeto, financiado pela Fapesp. A pesquisa conta com a participação de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), do Instituto de Biociências (IB) da USP e também da Unesp de Rio Claro.

Da Agência USP de Notícias
Júlio Bernardes/ L.S.