Pesquisa: Unicamp cria atlas da Região Metropolitana de Campinas

Região é formada por 19 munícípios e tem 2,3 milhões de habitantes

ter, 27/07/2004 - 10h15 | Do Portal do Governo

Do Portal da Unicamp

Um atlas que promove a distribuição espacial de dados demográficos, econômicos e sociais relativos à Região Metropolitana de Campinas (RMC) acaba de ser concebido em conjunto pelo Núcleo de Estudo de População (Nepo) e Núcleo Interno de Economia Social Urbano e Regional (Nesur), ambos da Unicamp.

O objetivo do trabalho, primeiro resultado concreto de uma pesquisa mais ampla que os dois órgãos pretendem realizar sobre a RMC, é oferecer uma ferramenta auxiliar de planejamento para as instituições e pessoas responsáveis pelo destino da jovem instância político-administrativa, formada por 19 municípios e um contingente de 2,3 milhões de pessoas.

Por meio da leitura de mapas e gráficos, conforme os autores, é possível compreender que vários dos problemas tratados apenas na esfera local são, na verdade, de ordem regional. “O atlas mostra claramente os pontos de complementaridade entre as cidades. Esta constatação abre perspectiva para a organização de um conjunto de interações a partir do espaço metropolitano, tendo como meta o melhor ordenamento da RMC”, afirma o professor José Marcos Pinto da Cunha, coordenador do Nepo e um dos executores do estudo.

Para conceber o atlas, os pesquisadores do Nepo e Nesur lançaram mão basicamente dos dados dos censos de 1991 e 2000, realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Indicadores demográficos, econômicos e sociais foram espacializados tendo como referência a mancha urbana, gerada a partir de imagens de satélite. Esta foi sobreposta ao mapa da RMC, de modo a delimitar as áreas que concentram aspectos positivos e negativos, bem como as que indicam a interação entre os municípios.

“Ao observarmos os vários mapas gerados por essa metodologia, percebemos que os problemas não respeitam as fronteiras municipais, ou seja, assumem uma dimensão metropolitana. Sendo assim, fica claro que não podem continuar sendo enfrentados apenas sob a ótica e pelo esforço local”, explica o professor José Marcos.

De acordo com os especialistas da Unicamp, ao distribuir espacialmente as informações, o atlas permite uma leitura mais qualificada sobre a realidade da Região Metropolitana, dado que as cidades não têm um desenvolvimento harmonioso. “Por meio dessa técnica, nós conseguimos criar um gradiente da situação da RMC, como se ela fosse uma superfície contínua”, esclarece Áurea Davanzo, pesquisadora do Nesur. Tal cenário fica mais claro quando observados, por exemplo, os mapas que exibem as condições de renda e escolaridade dos chefes de família. Ambos revelam a existência do que os autores do trabalho classificaram de “cordilheiras de riqueza e pobreza”.

Conforme os pesquisadores, é possível perceber a relação direta entre renda e escolaridade, em termos de localização espacial. Assim, o eixo formado por áreas de Campinas, Valinhos e Vinhedo (cordilheira da riqueza) é o que apresenta maior concentração de chefes de família com renda superior a 10 salários mínimos e com 12 anos de estudo ou mais. Já o eixo que segue em direção oposta, constituído por bairros de Campinas, Hortolândia e Sumaré (cordilheira da pobreza), detém elevadas proporções de chefes de domicílios sem ou com baixa escolaridade e renda. No entender de Maria Conceição Silvério, também pesquisadora do Nesur, o atlas poderá vir a ser uma ferramenta muito útil aos gestores públicos.

Ela lembra que, atualmente, tanto as prefeituras quanto os órgãos metropolitanos têm dificuldade em fazer uma leitura mais precisa dos dados sobre a RMC. “Acredito que a espacialização das informações e a comparação entre os períodos de 1991 e 2000 facilitarão a compreensão dos problemas comuns aos municípios, podendo inclusive ajudar na definição de uma agenda regional”, imagina. “O atlas, a nosso juízo, é uma provocação para que deixemos de pensar em soluções isoladas para refletirmos sobre alternativas regionais. O foco, mais do que nunca, deve deixar de ser o cidadão campineiro, por exemplo, mas sim o cidadão metropolitano”, acrescenta o professor José Marcos, para quem a situação da RMC ainda é “manejável”.

Mais informações podem ser obtidas no site www.unicamp.br
V.C.