Pesquisa: Unesp Jaboticabal testa biodiesel que pode garantir a criação de empregos

Biocombustível é obtido da mistura de álcool com óleos vegetais

qui, 15/01/2004 - 13h54 | Do Portal do Governo

Um combustível inteiramente nacional, menos poluente e capaz de gerar empregos e riquezas em diferentes regiões do País. Essas são algumas das características do biodiesel, produto que vem sendo desenvolvido no Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas (Ladetel), da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto. Denominado BiodieselBrasil, o projeto para a produção desse biocombustível tem a coordenação do professor Miguel Joaquim Dabdoub. Conta ainda com a participação de outras instituições, como a Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Unesp de Jaboticabal, representada pelo professor Afonso Lopes.

Produzido por meio da reação entre um tipo de álcool (etílico ou metílico) e óleos vegetais ou gordura animal, o biodiesel é uma tecnologia já dominada e amplamente comercializada na Europa e Estados Unidos. Nesses locais o álcool utilizado é o metanol (proveniente do petróleo), que é um produto tóxico. No Brasil, as pesquisas estão sendo realizadas com o etanol (obtido da cana-de-açúcar), que é renovável e do qual o País detém a tecnologia de industrialização. Um dos diferenciais aqui é o tipo catalisador (agente que acelera a reação química) empregado. Com isso, o tempo de produção do biodiesel baixou para 30 minutos, enquanto no processo americano e europeu leva até seis horas.

Outra vantagem do novo combustível é a possibilidade de produzi-lo a partir do óleo de várias plantas: soja, girassol, algodão, pequi, dendê, babaçu, entre outras. O Brasil é o maior produtor de soja do mundo, porém maior destaque deve ser dado a outras oleaginosas. Isso porque, enquanto da soja se obtêm apenas 400 quilos de óleo por hectare, do girassol consegue-se o dobro, e do amendoim, 900 quilos por hectare.

Empregos

O rendimento das palmeiras é ainda superior ao dos grãos. O babaçu rende 1.600 quilos por hectare; a macaúba, 4.000; e o dendê, 5.900. O pequi, fruto originário do cerrado brasileiro, rende 3.200 quilos de óleo por hectare.

A partir de qualquer um desses óleos, a tecnologia proveniente da USP de Ribeirão Preto garante um biodiesel de alta qualidade e que pode gerar muitos empregos. Se implantado no País pode favorecer o desenvolvimento regional por meio das plantações de oleaginosas. Nas Regiões Norte e Nordeste, isso ocorreria com a produção de óleos de dendê, babaçu, amendoim e mamona. Na região do cerrado, com o óleo de pequi. Na região do semi-árido, com o amendoim forrageiro.

Segundo Dabdoub, com a utilização do biodiesel etílico, seriam criados empregos mesmo com a mecanização da colheita de cana. “Geram-se dois empregos a cada 100 hectares colhidos”, comenta. Mas, num programa em que o B5 (mistura de 5% de biodiesel para 95% de diesel) fosse empregado, “geraríamos 10 mil empregos só com a cana, 190 mil com a soja e até 1 milhão de empregos novos com outras culturas de óleo vegetal”.

Medição de combustível

Para provar a eficácia do biodiesel de etanol, o Ladetel fechou acordo com empresas, entidades e instituições de pesquisa para a realização de testes de desempenho, consumo e potência. Um dos principais testes é realizado no Departamento de Engenharia Rural, da FCAV-Unesp, que se encarregou de verificar a eficiência do produto em tratores agrícolas. O experimentos ficaram a cargo do professor Lopes.

A Unesp de Jaboticabal não produz o biodiesel, apenas avalia seu uso no trator. Foram utilizados biodiesel produzidos com óleos de soja, amendoim e girassol. O professor Lopes explica que qualquer tipo de trator pode usar o biodiesel, porque não necessita de nenhuma adaptação do motor. “Esse é outro atrativo do biodiesel”, afirma.

Além do apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o professor Lopes recebeu um trator, como resultado de uma parceria com a Valtra do Brasil e a Cooperativa dos Cafeicultores e Citricultores de São Paulo (Coopercitrus). O pesquisador testou o combustível no trator, modelo BM 100, com 100 cavalos de potência no motor, equipado com um sistema de medição de combustível desenvolvido na Unesp.

Impacto Social

O trator foi avaliado em condição de preparo de solo com uma grade aradora, utilizando cinco tipos de mistura biodiesel–diesel de petróleo: B100 (apenas biodiesel), B75 (75% de biodiesel e 25% de diesel), B50 (metade biodiesel e metade diesel), B25 (25% biodiesel e 75% diesel) e B0 (somente diesel).

O trator funcionou perfeitamente com todas as proporções de biodiesel, explica Lopes. O consumo permaneceu inalterado até 50% de biodiesel. Quando funcionou com 100% de biodiesel, houve um aumento, em média, de 11% no consumo. Isso ocorre porque o biodiesel tem, em relação ao diesel, menor poder calorífero (de 3 a 4%), consumindo mais quando a mistura é superior a 50%.
O diferencial do equipamento desenvolvido na Unesp é a facilidade de teste com mais de um tipo de combustível, sem contaminar o tanque original. Outros sistemas desenvolvidos podem apresentar falhas na medição e dificuldades de avaliar mais de um combustível sem contaminar o tanque original, além de outros problemas.
Na primeira fase, o trabalho da Unesp consistiu no desenvolvimento do protótipo medidor de combustível, na montagem de toda a instrumentação no trator e no levantamento de dados sobre o desempenho do trator. A segunda fase busca avaliar se existem diferenças (no comportamento do motor, por exemplo), conforme o tipo de óleo utilizado no biodiesel. Para isso foram testados 13 tipos de biodiesel. Os dados, porém, ainda não foram totalmente processados.

O incentivo ao biodiesel significa, de acordo com Lopes, autonomia energética, porque o País se torna mais independente das oscilações do preço do petróleo. Além disso, quando se incentiva a produção de grãos para a fabricação de combustível, há um impacto social, com a geração direta ou indireta de empregos. E, no Brasil, não existe limitação de área para a produção de grãos.

Paulo Henrique Andrade, da Agência Imprensa Oficial

(LRK)